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Comediante Jon Stewart defende podcaster Joe Rogan e vê reação de músicos como exagerada

Apresentador critica protesto de cantores após Spotify se negar a excluir conteúdo antivacina

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Belo Horizonte

O comediante americano Jon Stewart defendeu Joe Rogan de acusações de que ele teria contribuído para espalhar desinformação sobre a vacina contra a Covid-19 em um episódio de seu podcast hospedado no Spotify. Stewart ainda chamou de erro e reação exagerada o movimento de artistas de retirar músicas da plataforma de streaming em protesto contra a falta de ações tomadas pela empresa no caso.

"Não há dúvida de que há desinformação flagrante que é proposital e odiosa", disse Stewart na quinta (3), em seu podcast, no serviço de streaming da Apple. "Mas é um erro essa reação exagerada." O comediante também defendeu que a responsabilidade por moderar os conteúdos seja da própria plataforma.

Jon Stewart durante entrevista coletiva no Capitólio, em Washington
Jon Stewart durante entrevista coletiva no Capitólio, em Washington - Sarah Silbiger - 4.nov.21/Getty Images/AFP

Para Stewart o "algoritmo da desinformação" é muito mais temível do que o conteúdo presente no podcast de Rogan. "A desinformação sempre existirá", disse, chamando o algoritmo de redes sociais de "amplificadores e catalisadores do extremismo". "Não saia. Não abandone. Não censure. Envolva-se", disse, acrescentando que "há atores desonestos no mundo" e que identificá-los seria mais importante.

A origem da polêmica está em uma entrevista de três horas de Rogan com o imunologista americano Robert Malone, que traçou paralelos entre a Alemanha nazista e os EUA de hoje, citando que a sociedade estaria sendo "hipnotizada" para acreditar nos imunizantes e nas medidas sanitárias para combater a pandemia. O episódio foi publicado em 31 de dezembro.

Dias depois, um grupo de cientistas e profissionais de saúde relatou ao Spotify dados falsos a respeito da vacinação e da Covid-19 no podcast, mas a empresa optou por manter o episódio na plataforma —movimento contrário ao do YouTube, que derrubou o conteúdo no canal oficial do programa e as tentativas de outros usuários de fazerem upload do vídeo.

Na sequência, vários artistas decidiram retirar suas músicas do Spotify, como forma de protesto.

A iniciativa foi liderada pelo cantor Neil Young e contou com a adesão de Joni Mitchell e do trio David Crosby, Stephen Stills e Graham Nash. Apenas Young tinha 2,4 milhões de seguidores na plataforma e mais de 6 milhões de ouvintes mensais. A mídia americana também noticiou que fãs de Taylor Swift têm pressionado a cantora a seguir a campanha.

Ao comentar a polêmica, Rogan defendeu continuar recebendo convidados com "pontos de vista controversos", mas disse estar aberto para balancear essas perspectivas. "Não quero mostrar só a opinião contrária à narrativa corrente. Quero mostrar todas as opiniões, para que possamos entender o que está acontecendo. E não só sobre a Covid, mas tudo", afirmou em post no Instagram.

Já o Spotify anunciou no domingo (30) que todos os podcasts que mencionarem a Covid-19 terão links com informações factuais, cientificamente comprovadas sobre a pandemia –algo semelhante ao que acontece em redes sociais como o Instagram. Segundo a plataforma, já foram removidos mais de 20 mil episódios relacionados ao coronavírus desde o início da pandemia devido à desinformação.

"Sabemos que temos um papel crítico a desempenhar no apoio à liberdade de expressão do criador [de conteúdo], ao mesmo tempo que temos que equilibrá-la com a segurança de nossos usuários", escreveu o CEO e um dos fundadores da empresa, Daniel Ek, em carta pública.

"Nesse papel, é importante para mim que não assumamos a posição de censurar o conteúdo, ao mesmo tempo que nos certificamos de que existem regras e consequências para aqueles que as violam."

Estima-se que o podcast "The Joe Rogan Experience" atraia cerca de 11 milhões de ouvintes por episódio e, segundo o jornal The Wall Street Journal, o Spotify teria pago mais de US$ 100 milhões (R$ 532 milhões) pela exclusividade da atração. O podcaster ainda tem 14,4 milhões de seguidores no Instagram e 8,2 milhões no Twitter. Como comparação, nessas redes sociais, o presidente americano, Joe Biden, soma 17,6 milhões e 32,3 milhões de seguidores, respectivamente.

Na quarta (2), o presidente Jair Bolsonaro escreveu uma mensagem de apoio ao podcaster, que, assim como ele, já desaconselhou a vacinação em jovens, promoveu o uso não autorizado da ivermectina e é conhecido por falas consideradas preconceituosas.

Na mensagem publicada em inglês no Twitter, Bolsonaro diz que não sabe o que Rogan pensa sobre ele ou seu governo, "mas que isso não importa". "Se liberdade de expressão significa alguma coisa é que as pessoas deveriam ser livres para dizer o que pensam, não importa se concordam ou discordam da gente."

O presidente ainda pede: "Fique firme!". E termina o tuíte com a expressão "hugs from Brazil" (abraços do Brasil) —construção pouco usual em inglês para cumprimentos e despedidas.

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