Bolsonaro defende podcaster Joe Rogan com tuíte em inglês sobre liberdade de expressão

Americano é pivô de caso envolvendo saída de artistas do Spotify devido a desinformação

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São Paulo

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), escreveu uma mensagem de apoio ao podcaster americano Joe Rogan nesta quarta-feira (2). O humorista é conhecido pelo histórico de falas consideradas preconceituosas e, mais recentemente, foi alvo de uma denúncia de cientistas por apresentar dados falsos sobre a vacinação contra a Covid-19 em seu programa de entrevistas, o mais ouvido do Spotify.

​O caso levou a pedidos de músicos como Neil Young e Joni Mitchell para que suas músicas fossem retiradas da plataforma, em protesto contra a relação da empresa com o apresentador. "Eles podem ter Rogan ou Young. Não os dois", escreveu o cantor canadense, vítima de poliomielite quando criança, na carta que desencadeou o boicote.

O presidente Jair Bolsonaro em cerimônia em Brasília nesta quarta (2) - Sergio Lima - 2.fev.22/AFP

Na mensagem publicada em inglês no Twitter, Bolsonaro diz que não sabe o que Rogan pensa sobre ele ou seu governo, "mas que isso não importa". "Se liberdade de expressão significa alguma coisa é que as pessoas deveriam ser livres para dizer o que pensam, não importa se concordam ou discordam da gente."

O presidente ainda pede ao humorista: "Fique firme!". E termina o tuíte com a expressão "hugs from Brazil" (abraços do Brasil) —construção pouco usual em inglês para cumprimentos e despedidas.

Bolsonaro marcou o perfil de Rogan na mensagem, mas, até a publicação deste texto, não havia recebido resposta do americano. Mais cedo nesta quarta, na abertura dos trabalhos do Legislativo, o presidente brasileiro já tinha falado em liberdade de imprensa, para dar indiretas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu adversário eleitoral, e ao Judiciário. "A nossa liberdade, a liberdade de imprensa garantida em nossa Constituição não pode ser violada ou arranhada por quem quer que seja nesse país", disse.

Apesar da fala, Bolsonaro acumula em seu governo diferentes ações para atacar e intimidar o trabalho da imprensa, tratando jornalistas com xingamentos, ameaçando órgãos de imprensa diversos e mobilizando o Planalto para tomar medidas pelo sufocamento da mídia.

Rogan, que acumula fãs e críticos talvez na mesma medida, apresenta o "The Joe Rogan Experience", programa pelo qual tem uma parceria milionária com o Spotify —segundo o jornal The Wall Street Journal, a empresa pagou mais de US$ 100 milhões pela exclusividade da atração.

Em janeiro, um grupo de cientistas e profissionais de saúde denunciou à plataforma um episódio do podcast que apresentava dados falsos sobre a vacinação e a Covid-19. A entrevista de três horas de Rogan com o imunologista americano Robert Malone traçou paralelos entre a Alemanha nazista e os EUA de hoje, dizendo que a sociedade está sendo "hipnotizada" para acreditar nos imunizantes e nas medidas sanitárias para combater a pandemia. O vídeo da entrevista foi derrubado pelo YouTube.

O humorista acumula estimados 11 milhões de ouvintes por episódio, além de mais de 14 milhões de seguidores no Instagram e 8 milhões no Twitter. Ele diz odiar o politicamente correto e as políticas identitárias em geral, mas já se manifestou publicamente com posicionamentos à esquerda —endossou a candidatura à Presidência de Bernie Sanders, senador independente ligado à ala mais progressista do Partido Democrata, por exemplo.

Ele já foi criticado por comparar um bairro negro americano com o filme "Planeta dos Macacos" e tem o costume de citar palavras consideradas racistas por afro-americanos durante entrevistas. Fez ainda uma série de comentários considerados transfóbicos e entrevistou o líder de um grupo supremacista branco, Proud Boys, que defendeu no programa que muçulmanos não deveriam se misturar com o Ocidente.

Ao comentar a polêmica do Spotify com os músicos que preferiram deixar a plataforma se o podcast continuasse no ar, Rogan defendeu continuar recebendo convidados com "pontos de vista controversos", mas disse estar aberto para balancear essas perspectivas. "Não quero mostrar só a opinião contrária à narrativa corrente. Quero mostrar todas as opiniões, para que possamos entender o que está acontecendo. E não só sobre a Covid, mas tudo", afirmou, em post no Instagram.

No mesmo dia, o Spotify anunciou que todos os podcasts que mencionarem a Covid incluirão links com informações factuais, cientificamente comprovadas, sobre a pandemia. Segundo a plataforma, já foram removidos "mais de 20 mil episódios de podcast relacionados à Covid-19 desde o início da pandemia" devido a desinformação. "Lamentamos a decisão de Neil de remover sua música do Spotify, mas esperamos recebê-lo de volta em breve", disse a empresa.

O caso tem repercutido no mercado, e nesta quarta as ações do Spofity despencaram após a empresa divulgar que o número de assinantes no atual trimestre deve ficar abaixo do esperado.

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