Experiência dos pilotos de avião que caiu na China aumenta mistério em torno de acidente

Juntos, piloto e copiloto tinham 39 mil horas de experiência, sem falhas, segundo autoridades

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Austin Ramzy Keith Bradsher
The New York Times

O piloto do avião que caiu no sul da China com 132 pessoas a bordo era um veterano no ramo, com mais de 6.000 horas de voo. Seu copiloto era ainda mais experiente, tendo voado desde os primeiros dias da era pós-Mao Tse-tung, treinando em tudo, de biplanos de modelo soviético a jatos mais recentes da Boeing.

Juntos, os homens que operavam o voo 5735 tinham mais de 39 mil horas de experiência, o equivalente a quatro anos e meio sem escalas na cabine. Isso aumenta o mistério sobre a razão do mergulho do avião, de uma altitude de cruzeiro de 29 mil pés (8,7 km), sobre uma montanha arborizada, na segunda-feira (21).

Como eles pilotaram o Boeing 737 será examinado de perto conforme os investigadores procuram explicar o que foi provavelmente o pior desastre aéreo da China em mais de uma década. Especialistas disseram que é improvável que alguém tenha sobrevivido à queda.

Equipes de busca no local onde o avião caiu
Equipes de busca no local onde o avião caiu - Lu Boan - 24.mar.22/Xinhua

Na quinta (24), as equipes de resgate disseram ter encontrado peças do motor, parte de uma asa e outros "detritos importantes", enquanto vasculhavam, pelo quarto dia, a encosta da montanha em Guangxi.

Um destroço de 1,2 metro de comprimento, possivelmente do avião, foi encontrado a mais de 10 quilômetros do local principal da queda, disse Zheng Xi, comandante-chefe do Corpo de Bombeiros de Guangxi. Em consequência, as equipes de busca ampliarão a área que estão vasculhando.

No local principal do acidente, uma emissora estatal mostrou os trabalhadores cavando com pás em torno de um grande destroço que o repórter descreveu como uma asa, que tinha parte do logotipo da companhia China Eastern Airlines e estava pendurada numa encosta íngreme e árida cercada por bambuzais agora achatados. As fortes chuvas deixaram as estradas escorregadias e encheram a terra de poças de lama.

Na véspera, os trabalhadores tinham encontrado uma caixa-preta, possivelmente o gravador de voz da cabine, que poderá fornecer aos investigadores detalhes cruciais. Autoridades disseram que ela foi danificada, mas sua unidade de memória está relativamente intacta. A segunda caixa-preta do avião, que registra dados de voo, ainda não foi recuperada.

Autoridades da China Eastern descreveram a tripulação como não tendo problemas de saúde ou falhas em seus registros. Seu desempenho anterior foi "muito bom", disse Sun Shiying, presidente da filial de Yunnan da China Eastern Airlines, na quarta-feira. Quando contatado por telefone, um representante da companhia aérea se recusou a responder a mais perguntas sobre a tripulação.

A China Eastern não identificou os tripulantes, mas o jornal estatal Ta Kung Pao e a revista Phoenix, de Hong Kong, identificaram o piloto como Yang Hongda e o primeiro copiloto como Zhang Zhengping.

Zhang, nascido em 1963, era um dos pilotos mais experientes da China, tendo começado a voar quando adolescente na província de Yunnan no início dos anos 1980, de acordo com um perfil de 2018 do CAAC News, o jornal da Administração de Aviação Civil da China. Ele foi selecionado entre milhares que se inscreveram na escola de aviação. Lá, treinou em uma cópia de um biplano de modelo soviético.

Mais tarde, depois de ingressar na China Yunnan Airlines, pilotou o Antonov An-24s, modelo turbo-hélice que já foi comum na aviação comercial chinesa, de acordo com o artigo. Depois que a China Yunnan comprou seus primeiros jatos da Boeing, Zhang viajou para Seattle, nos EUA, em 1988 para treinar no 737-300, disse o jornal. Mais tarde, aprendeu a pilotar o Boeing 767, aeronave de fuselagem larga. Ao longo de sua carreira como piloto comercial na China Yunnan, que mais tarde se fundiu com a China Eastern, Zhang pilotou quatro modelos de aeronaves e acumulou 31.769 horas de experiência de voo.

"Na China Eastern Airlines Yunnan, ele é um dos poucos pilotos veteranos, mentor de jovens capitães e testemunha do rápido crescimento da indústria de aviação de Yunnan desde o início da era de reforma e abertura, há 40 anos", disse o jornal, referindo-se às reformas adotadas na China após a era Mao.

A companhia aérea costuma emparelhar jovens pilotos com os mais velhos, e Zhang orientou mais de cem, disse a CAAC News. Yang era um deles. Filho de um piloto da China Eastern, Yang progrediu constantemente na empresa, disse a revista Phoenix. Ele começou a voar modelos 737 em 2018, tinha 32 anos e uma filha que acabara de comemorar o primeiro aniversário, informou o jornal Southern Weekly.

Além de Zhang e Yang, um segundo copiloto com 556 horas de experiência estava no avião. Os três tinham certificados de saúde válidos e atendiam a todos os outros requisitos para voar, disse a companhia aérea. Suas "condições familiares eram estáveis", disse Sun. Especialistas disseram que investigar o acidente, que envolveu um mergulho repentino da altitude de cruzeiro com bom tempo, exigiria um olhar mais atento para a aeronave e para os pilotos, incluindo a possibilidade de que o avião tenha sido derrubado deliberadamente. Mas eles enfatizaram que a causa está longe de ser determinada.

"Certamente, uma derrubada intencional sempre faz parte de qualquer investigação, especialmente com esse perfil de voo específico", disse Hassan Shahidi, CEO da Flight Safety Foundation (Fundação de Segurança no Voo), organização sem fins lucrativos criada após a Segunda Guerra Mundial para promover a segurança da aviação. Mas ele advertiu que era "prematuro optar por qualquer possibilidade".

Steven Marks, advogado de Miami especializado em ações judiciais contra a Boeing e a Airbus que alegam falhas de equipamentos, disse estar cético de que um piloto tenha causado o acidente intencionalmente, sobretudo devido à probabilidade de que outros teriam intervindo.

"Se o capitão quisesse cometer suicídio, teria de dominar os outros tripulantes", disse Marks.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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