Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Rússia dá ultimato para rendição de soldados em Mariupol, e ucranianos resistem

Em discurso, papa Francisco lamenta 'Páscoa de guerra' e chama conflito de cruel e sem sentido

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Kiev | Reuters

O 53º dia da Guerra da Ucrânia foi marcado por novas tensões em Mariupol, cidade no sudeste do país há semanas sitiada pelas forças de Vladimir Putin.

A Rússia havia estipulado este domingo (17) como prazo final para a rendição dos soldados de Kiev ainda na cidade e, no ultimato, disse que aqueles que permanecessem seriam "eliminados". Moscou afirma que suas forças controlam quase completamente a cidade, no que seria sua maior conquista em quase dois meses de conflito.

"Todos que depuserem suas armas têm a garantia de que suas vidas serão poupadas", informou o Ministério da Defesa, mencionando um prazo de quatro horas para que as tropas rivais deixassem uma fábrica, onde estavam entrincheiradas, sem armas ou munição.

Combatentes ucranianos, porém, desafiaram a ameaça de Moscou e permanecem na usina siderúrgica de Azovstal, na parte sul da cidade portuária, sem sinal de rendição. O primeiro-ministro Denis Shmihal disse à tarde à rede americana ABC que "Mariupol ainda não caiu" e que os militares lutariam "até o fim". Kiev não havia comentado o ultimato de Moscou.

Corpos de civis são cobertos em rua de Mariupol, cidade sitiada no sul da Ucrânia e sob ameaça de ultimato russo neste domingo - Alexander Ermochenko/Reuters

A disputa em Mariupol, que abriga o principal porto do mar de Azov, levou a cidade de 400 mil habitantes (antes da guerra) ao caos humanitário. O lugar foi palco de alguns dos piores combates, com grandes consequências para a população civil —entre eles, o bombardeio de uma maternidade, em que ao menos três pessoas morreram, incluindo uma gestante, e o ataque a um teatro que, segundo os ucranianos, abrigava milhares de desalojados. Moscou nega mirar civis e diz que os pontos eram usados por militares.

A captura da cidade, se confirmada, seria um feito estratégico para a Rússia, por conectar por terra o Donbass, a leste da Ucrânia, com a península da Crimeia, anexada em 2014. No Donbass estão as duas autoproclamadas repúblicas separatistas de maioria russa que Moscou reconheceu pouco antes de dar início à invasão.

É nessa região que, agora, as forças do Kremlin concentram seus efetivos, diante da dificuldade em superar a resistência ucraniana no norte do país e no entorno da capital, Kiev —onde são mantidos ataques de longa distância. Na quarta (13), mais de mil fuzileiros navais ucranianos teriam se rendido.

Imagens de satélite mostraram fumaça e fogo vindos da siderúrgica em Mariupol, uma das maiores usinas metalúrgicas da Europa. Não se sabe ao certo quantos soldados estariam no local, que, com um labirinto de trilhos, túneis subterrâneos e fornalhas, se tornou local de resistência.

Um representante do Batalhão Azov, milícia em parte incorporada pelas Forças Armadas, disse à Reuters que ajuda internacional era necessária, para dar segurança a pessoal não militar abrigado em Azovstal —a agência não conseguiu verificar a alegação de que haveria civis no local. Petro Andriuschenko, assistente do prefeito de Mariupol, afirmou que os russos estavam dando permissão a centenas de civis para se deslocarem pelas partes centrais da cidade.

Segundo o jornal The New York Times, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, reconheceu em um discurso na noite deste domingo que os combatentes ucranianos controlavam só uma pequena parte de Mariupol e estavam em desvantagem numérica. O político acusou os militares de Moscou de "tentarem deliberadamente destruir todos os que estão [na cidade]" e ameaçou encerrar as negociações de paz se as forças russas cometerem crimes de guerra no local.

"Há uma crise humanitária. Nossos soldados estão sitiados, os feridos estão sitiados, mas estão se defendendo", disse ele ao portal de notícias Ukrainska Pravda.

Para o chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, que descreveu a situação na cidade como terrível, esse episódio pode pode ser uma "linha vermelha" para as negociações entre Moscou e Kiev. O ministro afirmou ainda que não houve contato entre as diplomacias dos países recentemente.

"O único nível de contato se dá pela equipe de negociadores, que consiste de representantes de diversas instituições e membros do Parlamento. Eles continuam as consultas [...], mas não tivemos contatos com diplomatas russos nas últimas semanas no âmbito das chancelarias", disse em entrevista à rede americana CBS News.​

Além de Mariupol, outras regiões na Ucrânia relataram ataques russos neste domingo. Segundo jornais locais, Kiev foi atingida por uma explosão —embora o vice-prefeito Mikola Povoroznik tenha dito que os sistemas de defesa aérea detiveram ações militares. O prefeito de Brovari, perto da capital ucraniana, também relatou um ataque com mísseis na cidade.

Moscou alegou que destruiu uma fábrica de munição próxima a Kiev, de acordo com a agência de notícias RIA. Houve ainda ataques de artilharia em vários bairros de Kharkiv, que deixaram cinco mortos e feriram 31 pessoas, incluindo quatro crianças, disse o governador regional Oleh Sinehubov. Zelenski, em seu pronunciamento noturno, afirmou que 18 óbitos foram registrados nos últimos dias na segunda maior cidade da Ucrânia —os dados não puderam ser verificados de forma independente.

Ainda no domingo, os ucranianos alegaram outro bombardeio em Zolote, na região de Luganski, que teria feito pelo menos duas vítimas e deixado quatro pessoas feridas. ​A polícia em Donetsk disse que nas últimas 24 horas forças russas usaram tanques, lançadores de foguetes e artilharia pesada em 13 assentamentos sob controle ucraniano, matando dois civis.

No front diplomático, o papa Francisco lamentou uma "Páscoa de guerra" durante discurso na praça de São Pedro, no Vaticano. O pontífice ainda pediu o fim do derramamento de sangue e criticou implicitamente a Rússia.

"Que haja paz para a Ucrânia devastada pela guerra, tão duramente provada pela violência e destruição de uma guerra cruel e sem sentido para a qual foi arrastada", disse, agradecendo aos que acolheram os cerca de 4 milhões de refugiados do país.

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