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ELN anuncia cessar-fogo para eleições presidenciais da Colômbia

Governo afirma que decisão tenta influenciar pleito, cujas pesquisas indicam ex-guerrilheiro Petro na liderança

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Bogotá | Reuters e AFP

O ELN (Exército de Libertação Nacional), considerada a última guerrilha da Colômbia, anunciou nesta segunda (16) um cessar-fogo unilateral de dez dias para a eleição presidencial, cujo primeiro turno ocorre no dia 29. O grupo também reiterou a disposição de realizar negociações de paz com o futuro governo.

De acordo com a guerrilha, suas atividades serão suspensas entre 25 de maio e 3 de junho, para garantir "tranquilidade a quem quiser votar". O grupo armado afirmou ainda que a decisão responde ao interesse de gerar "um ambiente político melhor, antes de saber quem poderá ser o candidato vencedor".

Casa com pichação com a frase 'ELN presente;, no bairro de Parada, na cidade colombiana de Cúcuta, na fronteira com a Venezuela
Casa com pichação com a frase 'ELN presente;, no bairro de Parada, na cidade colombiana de Cúcuta, na fronteira com a Venezuela - Schneyder Mendoza - 2.mai.22/AFP

A medida, porém, não inibe que seus membros reajam a eventuais operações das forças de segurança do país, destaca o comunicado. Decisão semelhante foi tomada em março, durante o pleito legislativo.

O governo colombiano, por outro lado, afirma que tais anúncios são tentativas de influenciar as eleições. O atual presidente do país, Iván Duque, de centro-direita, rivaliza com o candidato esquerdista Gustavo Petro, ex-guerrilheiro do grupo M-19, ex-prefeito de Bogotá e líder nas pesquisas de intenção de voto.

Na mesma toada de Duque, que não pode concorrer à reeleição, o ministro da Defesa Diego Molano esnobou o anúncio e disse que o movimento pretende posicionar o ELN para futuros diálogos com o próximo governo. "Aqui a segurança é a da força pública", acrescentou ele em um evento público.

O grupo rebelde, acusado de se financiar por meio de sequestros, extorsões, tráfico de drogas e mineração ilegal, manteve negociações de paz para encerrar seu papel no longo conflito armado colombiano. A estimativa é a de que a guerra já tenha provocado, desde a década de 1960, cerca de 260 mil mortes.

A possibilidade de diálogo com o governo de Duque, porém, foi congelada em 2019, depois de um ataque atribuído ao ELN em uma escola militar em Bogotá matar mais de 20 cadetes. A gestão atual também afirma que guerrilheiros fugiram para a Venezuela com a cumplicidade do regime de Nicolás Maduro.

A região da fronteira entre os dois países é, inclusive, palco de conflitos entre os membros dos grupos rebeldes. Em janeiro, ao menos 23 pessoas morreram em meio a uma disputa entre o ELN e dissidentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) pelo controle do tráfico de drogas da área.

Diferentemente do ELN, os líderes das Farc assinaram um acordo de paz em 2016 –na época, o entendimento garantiu o Nobel da Paz ao então presidente colombiano, Juan Manuel Santos.

Segundo especialistas, a guerrilha remanescente tem uma cadeia de comando mais difusa, o que torna as demandas do atual governo mais difíceis de serem cumpridas. Entre as exigências de Duque para um eventual acordo estão o fim dos sequestros e a libertação de reféns.

Caso Petro seja eleito, a situação pode mudar, já que o esquerdista é defensor da volta das negociações. Por outro lado, o ex-prefeito de Medellín Federico "Fico" Gutiérrez, em segundo lugar nas pesquisas, assim como o governo atual, condiciona qualquer aproximação ao fim das ações violentas por parte do grupo.

Como Petro aparece nas sondagens como líder, com 40%, ante 21% do centro-direitista, eles disputariam o segundo turno em 19 de junho. Neste pleito, de acordo com os levantamentos, Petro venceria por 47%, contra 34% de Gutiérrez. Se Petro chegar ao poder, será a primeira vez que um ex-guerrilheiro comandará o segundo maior Exército da América Latina (depois do brasileiro), com 228 mil militares e 172 mil policiais.

Integrantes da alta cúpula das Forças Armadas da Colômbia têm interferido no pleito com críticas ao esquerdista. Devido ao passado de Petro, há o temor de que um eventual governo avance contra os militares. O ex-guerrilheiro, por sua vez, já disse que há corrupção no Exército e que o sistema de promoções da instituição é baseado em "politicagem interna e subornos por parte do narcotráfico".

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