Polícia do Texas admite 'decisão errada' em demora para agir contra atirador

Declaração ocorre após questionamentos de parentes das vítimas sobre atuação dos agentes de segurança

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Uvalde (Texas) | Reuters

A polícia do Texas admitiu nesta sexta-feira (27) ter errado ao esperar quase uma hora por reforço antes de invadir a sala de aula em que um atirador matou 19 crianças e duas professoras, afirmou uma autoridade das forças de segurança, depois de questionamentos sobre a atuação dos agentes.

Sobreviventes, incluindo crianças, ligaram para o número de emergência da polícia logo depois de Salvador Ramos, 18, entrar na escola de ensino fundamental Robb, em Uvalde, com um fuzil semiautomático AR-15. Foram ao menos seis telefonemas, sendo dois de alunos.

Enquanto isso, quase 20 agentes aguardavam no corredor do lado de fora da sala de aula a chegada de ajuda, informou Steven McCraw, diretor do Departamento de Segurança Pública do Texas.

Moradores de Uvalde, no Texas, durante homenagem às vítimas do massacre na escola de ensino fundamental Robb
Moradores de Uvalde, no Texas, durante homenagem às vítimas do massacre na escola de ensino fundamental Robb - Veronica G. Cardenas - 26.mai.22/Reuters

A repórteres durante entrevista coletiva McCraw afirmou ter sido uma "decisão errada" do comando que estava no local, que preferiu esperar o apoio de uma equipe tática antes de entrar na sala. Segundo ele, os agentes acreditavam que as crianças não estivessem mais sob risco, com Ramos em uma barricada.

Na terça (24), dia em que o ataque ocorreu, uma pessoa não identificada pelo diretor ligou para a polícia várias vezes a partir das 12h03, no horário local, dizendo haver muitas mortes e "oito ou nove" estudantes ainda vivos. Por volta do mesmo horário, uma garota sussurrou "ele está na sala 112". Às 12h21, em outra ligação, três tiros foram ouvidos ao fundo. Um aluno telefonou às 12h47 e pediu a presença da polícia com urgência.

Os agentes não entraram na sala de aula até as 12h50, de acordo com McCraw, quando uma equipe tática da Patrulha de Fronteiras dos EUA usou as chaves de um monitor para abrir a porta e matar Ramos.

Testemunhas ouvidas dias após o atentado reclamaram do que consideram uma demora da polícia para neutralizar o atirador. Ramos teria ficado dentro da escola por ao menos 40 minutos antes de ser morto.

"Havia ao menos 40 agentes armados até os dentes, mas eles não fizeram nada até ser tarde demais", disse Jacinto Cazares. Ele correu até a escola quando soube do ataque e encontrou a filha Jacklyn morta.

"A situação poderia ter terminado rapidamente se [os policiais] tivessem um melhor treinamento tático. Nós, como comunidade, fomos testemunhas em primeira mão", afirmou ele à ABC News.

Parentes dizem ter suplicado aos agentes, sem sucesso, para que entrassem na sala e impedissem o massacre. Vídeos publicados posteriormente nas redes sociais mostram esse momento. Daniel Myers e sua esposa, Matilda, ambos pastores locais, disseram à agência AFP que viram como os pais ficaram desesperados enquanto a polícia aguardava reforço antes de entrar no prédio.

Ainda segundo McCraw, agentes trocaram tiros com Ramos logo depois de ele entrar na escola, às 11h33, situação na qual dois policiais foram atingidos de raspão. A porta da instituição por onde o atirador entrou havia sido aberta por um professor.

A polícia afirmou ter encontrado dentro da escola 142 balas que saíram do fuzil do atirador, além de quase duas dúzias na área escolar fora do edifício.

O governador do Texas, o republicano Greg Abbott, afirmou durante entrevista coletiva nesta sexta que foi "enganado" em relação à sequência de eventos no dia do ataque e se disse furioso com o que aconteceu. Ele, no entanto, descartou apoiar leis que avancem no controle de armas nos EUA, como aquelas que estabelecem verificação dos antecedentes criminais do comprador.

Segundo o político, seria preciso investigar se as motivações do crime estão ligadas a questões de saúde mental ou a deficiências na legislação. Abbott ainda relatou que um doador anônimo forneceu US$ 175 mil para atender às famílias das vítimas.

Raul Ortiz, chefe da Patrulha de Fronteira dos EUA, nega que os policiais tenham hesitado. "Eles montaram um plano. Entraram naquela sala e cuidaram da situação o mais rápido que puderam", disse à CNN.

Autoridades afirmam que o atirador, que vestia proteção à prova de bala, em um primeiro momento trocou tiros com um dos agentes, mas conseguiu escapar. Depois, entrou em uma sala de aula e montou uma barricada. Os guardas retiraram o máximo possível de alunos, inclusive quebrando janelas da escola.

As investigações sobre a motivação do ataque continuam. Ramos não tinha ficha criminal nem um histórico de problemas psicológicos, ainda que pessoas próximas tenham dito que ele havia feito várias postagens em redes sociais que indicavam problemas familiares e interesse em armas. Ele também chegou a enviar mensagens privadas avisando que faria o ataque.

Nesta quinta (26), o pai do atirador, também chamado Salvador Ramos, 42, expressou remorso pelas ações do filho em entrevista ao site de notícias The Daily Beast. "Ele deveria ter me matado, em vez de fazer algo assim com alguém", disse.

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