Sob ordens do Talibã, afegãs cobrem o rosto para ir ao ar na TV

Regime fundamentalista vem impondo restrições para mulheres fazerem atividades em público

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Cabul | AFP

Apresentadoras de diferentes canais de TV do Afeganistão começaram neste domingo (22) a cobrir o rosto para ir ao ar, obedecendo às ordens do regime do Talibã.

Desde que retomaram o poder no país asiático em agosto, após a retirada das tropas ocidentais lideradas pelos Estados Unidos, os talibãs impuseram uma série de restrições à sociedade civil, muitas delas direcionadas a mulheres.

Mulher com véu preto que cobre o cabelo, boca e nariz em frente a fundo azul
A apresentadora da Tolo News Thamina Usmani cobre seu rosto no estúdio da emissora em Cabul - Wakil Kohsar - 22.mai.22/AFP

No início do mês, o chefe supremo do Talibã emitiu uma ordem para que as mulheres se cobrissem por inteiro para sair em público, idealmente vestindo a tradicional burca. Até então, panos que cobrissem o cabelo já bastavam.

O Ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício recorreu a ameaças para garantir que as apresentadoras de TV do país passassem a cobrir o rosto a partir deste domingo. Até a véspera, as profissionais de imprensa seguiam expondo o rosto.

Neste domingo, apresentadoras dos canais Tolo News, Ariana Television, Shamshad TV e 1TV acataram a decisão e apareceram no ar com máscaras, deixando apenas os olhos expostos.

"Nós resistimos, somos contra o uso [do véu completo]", disse à agência de notícias AFP Sonia Niazi, apresentadora da Tolo News. "Mas a emissora sofreu pressões, [os talibãs] disseram que qualquer apresentadora que aparecesse na tela sem cobrir o rosto deveria ser deslocada para outra função."

"Seguiremos nossa luta usando nossa voz. Serei a voz de outras mulheres afegãs", afirmou a âncora após apresentar o jornal. "Vamos trabalhar até que o emirado islâmico nos retire do espaço público ou nos obrigue a ficar em casa."

Lima Spesaly, apresentadora da 1TV, foi na mesma linha e, alguns minutos antes de entrar no ar com o rosto coberto, disse: "Vamos continuar com nossa luta até o último suspiro".

O diretor da Tolo, Khpolwak Sapai, afirmou que o canal havia sido obrigado a reforçar a ordem a suas profissionais. "Ontem [sábado] me telefonaram e me disseram em termos estritos que acatássemos a regra. Portanto, não o fazemos por escolha própria, fomos obrigados."

Ao longo do dia, os homens que trabalham no escritório da Tolo News em Cabul cobriram o rosto em solidariedade às apresentadoras. E, à noite, apresentadores do canal e da 1TV foram ao ar usando máscaras pretas, numa forma de protesto.

O porta-voz do Ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício, Mohamad Sadeq Akif Mohajir, afirmou que as autoridades não tinham a intenção de obrigar as apresentadoras a deixar seu emprego. "Estamos felizes que os canais exerceram corretamente a sua responsabilidade", disse à AFP.

Funcionárias públicas que desrespeitarem a ordem de cobrir o rosto correm o risco de serem demitidas.

Antes das ordens de vestimenta, o Talibã já havia proibido as afegãs de viajarem desacompanhadas e imposto a separação de meninas e meninos nas escolas.

Assim, o grupo radical vai abandonado o discurso de moderação adotado quando retomou o poder no ano passado e restabelecendo restrições que vigoravam durante o primeiro período em que governo o Afeganistão, entre 1996 e 2001.

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