EUA tentam acalmar Ucrânia com mais US$ 1 bi em novas armas

Após reclamação de Zelenski, Biden promete dar artilharia, foguetes e sistemas antinavio

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São Paulo

Em meio à crescente grita do governo de Volodimir Zelenski acerca do risco de a Ucrânia perder a guerra para a Rússia devido à falta de armamentos pesados, os Estados Unidos reagiram da forma convencional: com um telefonema do presidente Joe Biden ao ucraniano para prometer mais ajuda militar.

No caso, o maior pacote unitário até aqui desde que a guerra começou, há 112 dias. Serão US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões nesta quarta, 15) em artilharia, incluindo dois inéditos sistemas de defesa costeira Harpoon, para ameaçar a Frota do Mar Negro russa.

Equipe ucraniana dirige um obuseiro autopropulsado americano M109 na região de Donetsk
Equipe ucraniana dirige um obuseiro autopropulsado americano M109 na região de Donetsk - Gleb Garanitch - 13.jun.22/Reuters

Kiev havia recebido um desses sistemas da Dinamarca, que entrou em operação na semana passada. Com eles e suas cópias ucranianas, os modelos Netuno, que segundo o país afundaram o cruzador russo Moskva, em abril, embarcações de Moscou na região passam a sofrer maior risco, embora sigam bloqueando a exportação de grãos do vizinho.

De acordo com Biden, os EUA também fornecerão 18 obuseiros com 36 mil projéteis, equipamentos diversos e "sistemas avançados de foguetes", sem especificar do que se trata. Também não está claro se a ajuda já faz parte do pacote de US$ 20 bilhões (R$ 100 bilhões) aprovado pelo Congresso americano com a perspectiva de uma guerra longa. Zelenski agradeceu ao americano.

No começo do mês, Washington anunciou a entrega de quatro lançadores de mísseis de médio alcance, recebendo críticas de escalada por parte de Moscou.

Essas peças de artilharia são centrais para tentar impedir a perda iminente da província de Lugansk para as forças de Vladimir Putin. Com a virtual queda da cidade de Severodonetsk, os russos estarão em posição para atacar o restante da região do Donbass —o leste ucraniano, composto por Lugansk e Donetsk, que é o objetivo declarado da guerra neste ponto.

Dificilmente haverá tempo para a reação mais imediata, dado que lançadores múltiplos demandam cinco semanas de treinamento para uso. Os britânicos prometeram outros três armamentos semelhantes.

Se isso causou protesto em Moscou, em Kiev as palavras desde então foram de revolta. Zelenski afirma dia sim, dia sim, que a guerra será perdida no Donbass sem mais material pesado. Seu Ministério da Defesa até apresentou na semana passada sua lista de desejos: mil obuseiros (recebeu 109 até aqui), 300 lançadores (promessa de 7 por ora) e munição no padrão da Otan, a aliança militar ocidental.

Há um componente político, que é o de pressionar os europeus a não cederem à fadiga política com o confronto, já aferida entre seus cidadãos. A Otan deverá fazer sua parte na cúpula marcada para o fim deste mês, em Madri.

As novas armas americanas se somarão aos US$ 5,3 bilhões (R$ 26,8 bilhões) já enviados em ajuda militar por Washington a Kiev desde o início das hostilidades, equivalentes a algo entre um terço e metade de tudo o que a Otan e aliados já mandaram para os ucranianos. O orçamento de defesa da Ucrânia em 2021 foi de US$ 4 bilhões (R$ 20 bilhões), incluindo pagamento de pessoal.

Na fase inicial da guerra, bem-sucedida ao impedir o avanço de um ataque ambicioso e mal planejado dos russos por diversas frentes, Kiev contou com armas leves ocidentais: mísseis antitanque que fizeram estragos em colunas blindadas desprotegidas e modelos antiaéreos portáteis.

Desde o começo da batalha do Donbass, em 18 de abril, com o grosso das forças de Moscou concentradas no leste e espaço para atrito e manobras, é artilharia que o campo pede. Na semana passada, Kiev afirmou que estava praticamente sem munição própria, de modelos soviéticos mais antigos, e que dependia da ajuda da Otan para seguir a luta.

O embaixador russo nas Nações Unidas, Vassili Nebenzia, disse nesta quarta que o anúncio prova que o Ocidente "luta uma guerra por procuração na Ucrânia", com o risco de escalada correspondente.

Biden e aliados até aqui se recusaram a intervir diretamente e tentam limitar o potencial ofensivo, fornecendo armas sob a condição de que o território russo não seja atacado. O temor é o risco de uma Terceira Guerra Mundial.

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