Invasão do Capitólio foi tentativa de golpe e teve Trump no centro, diz comissão nos EUA

Em início de audiências públicas sobre ataque, deputado afirma que democracia ainda está em risco

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Washington | AFP e Reuters

O comitê da Câmara dos EUA que investiga a invasão do Capitólio, ocorrida em janeiro de 2021, acusou nesta quinta (9) o ex-presidente americano Donald Trump de ter participado de uma "conspiração contra a democracia" e liderado esforços para anular os resultados das eleições no ano anterior.

Apoiadores do republicano invadiram e vandalizaram o Congresso minutos após Trump, durante ato em Washington, insuflar ativistas a se dirigirem até a sede do Legislativo. A ação obrigou Câmara e Senado a trancarem as portas e a paralisarem a sessão que confirmou a vitória de Joe Biden.

O deputado democrata Bennie Thompson, presidente do comitê formado para apurar responsabilidades sobre o episódio, afirmou durante audiência pública que o ataque foi "o culminar de uma tentativa de golpe". Passado um ano e meio do ataque, ele disse que a democracia americana segue em perigo.

Discurso de Donald Trump é exibido em telão durante audiência que investiga ataque ao Capitólio
Discurso de Donald Trump é exibido em telão durante audiência que investiga ataque ao Capitólio - Brendan Smialowski/AFP

"A conspiração para frustrar a vontade do povo não acabou. Há pessoas que têm sede de poder, mas não têm respeito pelo que engrandece os EUA: devoção à Constituição e fidelidade ao Estado de Direito."

Durante a audiência foram exibidos vídeos que comprovam a participação de integrantes do grupo de extrema direita Proud Boys na invasão ao Capitólio. Também foram resgatadas declarações de Trump, de familiares do ex-presidente e de seus assessores relacionadas ao caso. Depois da exibição do material, a deputada republicana Liz Cheney, vice-presidente da comissão que investiga o ataque, disse que as evidências provam que Trump convocou e reuniu a multidão, o que "acendeu a chama" para a invasão.

Durante a ação, Trump se recolheu e permaneceu quieto por mais de duas horas. Mensagens entregues ao comitê apontam que ele ouviu apelos —dentre outros, do então chefe de gabinete Mark Meadows e do filho Donald Jr.— para que fizesse algo. Segundo Cheney, a comissão teria recebido a informação também de que Ivanka, filha do ex-presidente, pediu ao pai duas vezes para intervir de alguma forma.

A audiência desta quinta-feira é a primeira de seis em que o comitê apresenta os resultados de quase um ano de investigação. As sessões serão transmitidas nas principais emissoras de televisão dos EUA.

​Ao final do processo, o comitê que investiga o episódio pode recomendar a abertura de investigações criminais. Mais de mil testemunhas foram ouvidas. Desde o ataque, aproximadamente 800 pessoas foram presas e acusadas em tribunal —a maioria por entrada sem permissão em um prédio federal.

Trump chamou a investigação de caça às bruxas e, pela plataforma Truth Social, que ele mesmo criou, voltou a defender a insurreição, classificando o movimento como "o maior na história do país" para fazer com que os EUA "voltem a ser grandes", emulando seu slogan político. "Tratava-se de uma eleição fraudada e roubada e de um país que estava prestes a ir para o inferno", escreveu.

O líder republicano na Câmara dos Deputados, Kevin McCarthy, afirmou nesta quinta que a comissão para investigar o ataque ao Capitólio é "a mais política e a menos legítima da história dos EUA". O Partido Republicano já prometeu enterrar o trabalho do grupo se assumir o controle do Congresso nas chamadas "midterms", eleições que em novembro vão renovar parte da Casa.

Na terça-feira (7) o Departamento de Segurança Nacional dos EUA publicou um alerta sobre terrorismo doméstico, explicando que o "ambiente de alta ameaça" se deve a movimentos de extremistas motivados por ideologia, religião, raça e "eventos atuais". A nota se refere especificamente à esperada decisão da Suprema Corte sobre o aborto e às eleições de meio de mandato, a serem realizadas em novembro.

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