Filho e jornalistas pediram que Trump ajudasse a conter invasão do Congresso nos EUA

Mensagens podem comprovar omissão de ex-presidente; Distrito de Columbia processa extremistas por danos

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Washington

Mensagens divulgadas por uma comissão de investigação do Congresso americano mostram que um filho do então presidente Donald Trump e âncoras da emissora Fox News tentaram pedir a ele que fizesse algo para conter a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro deste ano.

Os diálogos podem ajudar a provar que o republicano tinha pleno conhecimento do que estava ocorrendo, mas decidiu se omitir.

As mensagens foram enviadas a Mark Meadows, ex-chefe de gabinete de Trump, e reveladas no âmbito de uma apuração para apurar responsabilidades sobre a invasão, que terminou com cinco mortes.

"Ele [Trump] tem de condenar essa merda rápido", escreveu Donald Trump Jr., filho do então presidente, para Meadows, que respondeu: "Estou pressionando firme. Eu concordo".

Donald Jr. insistiu: "Precisamos de um discurso do Salão Oval. Ele tem que tomar a frente agora. Isso foi longe demais e saiu do controle".

Trump demorou mais de duas horas a vir a público e pedir que os invasores fossem embora. Eles marcharam em direção ao Congresso após assistirem a um discurso do então presidente, que usou palavras firmes, como " se vocês não lutarem para valer, não terão mais um país".

A multidão tentava impedir a certificação da vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020, que estava em andamento no plenário quando a invasão começou. A sessão foi suspensa, mas retomada à noite, confirmando a vitória do democrata.

A cerimônia de certificação era uma formalidade para somar os votos enviados pelos estados, via colégio eleitoral. Trump, no entanto, queria que os parlamentares invalidassem o material, de modo a abrir caminho para descartar o resultado das urnas. O ex-presidente diz que houve fraude na apuração, mas nunca apresentou provas —que tampouco foram encontradas pela própria administração federal.

As mensagens foram tornadas públicas na segunda (13) à noite e nesta terça (14) por Liz Cheney, deputada republicana e vice-presidente da comissão de investigação. Meadows apresentou as mensagens aos parlamentares depois de ser processado por se recusar a colaborar com as investigações.

O material aponta que apresentadores do canal de notícias Fox News, que fazia cobertura geralmente favorável a Trump, também mandaram mensagens a Meadows pedindo por ações.

"Mark, o presidente precisa dizer às pessoas no Capitólio para irem para casa. Isso está ferindo a todos nós. Ele está destruindo seu legado", disse a apresentadora Laura Ingraham, em uma mensagem de texto.

"Por favor coloque ele [Trump] na TV. [Estão] destruindo tudo o que vocês conquistaram", disse outro apresentador, Brian Kilmeade.

Para Cheney, as mensagens indicam que Trump tinha pleno conhecimento do que estava acontecendo e que decidiu não fazer nada. Antes disso, já havia registros de que vários representantes que estavam no Congresso, ilhados em meio à invasão, enviaram pedidos de ajuda a Meadows.

A comissão busca apurar se Trump e outras autoridades federais cometeram crimes por suas ações ou negligências em relação à invasão. Eles poderão ser processados por tentar impedir ou corromper um procedimento oficial, crime previsto no código de leis federais do país, cuja pena pode chegar a 20 anos de prisão.

Na semana passada, um juiz federal decidiu que essa tipificação pode ser usada para processar envolvidos na invasão de 6 de janeiro. Advogados de defesa dos réus argumentam que a sessão do Congresso não entraria no conceito de procedimento oficial.

Não está claro, no entanto, se o ex-presidente poderá de fato ser levado a responder na Justiça pelo caso. Trump foi alvo de um processo de impeachment em janeiro, dias após a invasão. Ele foi considerado culpado pela Câmara, mas inocentado pelo Senado, que tinha maioria republicana naquele momento. O ex-presidente tem buscado impedir a divulgação de novas informações sobre o caso, alegando direito ao sigilo presidencial.

Também nesta terça, o procurador-geral do Distrito de Colúmbia (onde fica Washington), anunciou um processo contra os grupos Proud Boys e Oath Keepers e seus líderes, para ressarcir os gastos que a cidade teve com a destruição provocada. A ação cita uma lei de 1871, criada com o objetivo de combater o grupo supremacista branco Ku Klux Klan, e poderá ajudar a desvendar como esses grupos são financiados.

Jonathon Moseley, advogado que representa dois dos líderes indiciados, disse que o processo é uma fantasia e que os grupos não se envolveram em atos de violência.

O Proud Boys, que fez ataques a manifestantes antirracistas em várias ocasiões, foi citado por Trump no debate presidencial realizado em outubro de 2020. A menção pública foi comemorada pelo grupo na época.

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