Relatos apontam morte de brasileiro na Ucrânia, e embaixada aciona Itamaraty

André Hack Bahi, 43, estava no país desde março atuando ao lado de forças ucranianas

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Porto Alegre

A embaixada do Brasil na Ucrânia acionou o Ministério das Relações Exteriores após receber relatos dando conta da morte do brasileiro André Hack Bahi, 43, que está desde março lutando ao lado do Exército de Kiev contra as forças russas que invadiram o país vizinho há mais de cem dias.

Ainda não há, no entanto, confirmação oficial do óbito, que seria o primeiro de um brasileiro na guerra no Leste Europeu. Em nota, o Itamaraty afirmou no fim da tarde desta segunda-feira (6) que "não possui, no presente momento, confirmação sobre eventual falecimento de cidadão brasileiro em território ucraniano em decorrência do conflito naquele país".

Segundo o órgão, "a embaixada em Kiev segue buscando mais informações sobre o caso e permanecerá à disposição para prestar a assistência cabível". A pasta ainda ressaltou que "continua a desaconselhar enfaticamente deslocamentos de brasileiros à Ucrânia, enquanto não houver condições de segurança."

O voluntário brasileiro André Hack Bahi, que lutava ao lado das forças da Ucrânia desde o final de fevereiro - Arquivo Pessoal

Tatiane Hack Bahi, irmã de André, afirma que a morte foi comunicada por outro combatente, identificado como Português. Segundo os relatos até aqui, os dois estariam atuando como socorristas em Severodonetsk, no leste do país, no final da última semana, quando o local em que estavam foi atacado em meio a um bombardeio. Português, então, teria avisado André Kirvaitis, outro brasileiro em combate na Ucrânia, que por sua vez repassou o relato aos familiares no domingo (5).

Nesta segunda, Kirvaitis publicou um vídeo em que fala dos três meses passou com Bahi e agradece ao colega por ter salvado sua vida durante um ataque a Irpin, cidade próxima a Kiev.

"Mais um soldado anônimo que, como outros, deu a vida em combate pela liberdade e pela paz. Eu não vou deixar seu nome ser esquecido. Obrigado por tudo, irmão. Você está na verdadeira vida agora. A Terra é só uma breve passagem perto da eternidade. Você cumpriu sua missão com honra", escreveu Kirvaitis.

A Folha tentou contato com Kirvaitis pelas redes sociais, mas não obteve resposta. Segundo Tatiane, a família entrou em contato com a embaixada do Brasil na Ucrânia e ainda não recebeu retorno.

"A última vez que troquei mensagens [com o irmão] foi em 18 de maio, mas ele mandou mensagens em grupos depois disso. Em 3 de junho, suspeitamos que poderia ter acontecido algo porque era aniversário da nossa mãe e ele não entrou em contato. Mas ainda temos esperança", diz.

Tatiane descreve o irmão como uma pessoa apaixonada por aventuras desde que serviu ao Exército brasileiro. Depois, ele se formou em enfermagem para atuar como socorrista e fez curso para escolta de carros-fortes.

Bahi nasceu em Porto Alegre e cresceu em Eldorado do Sul, na região metropolitana da capital gaúcha. Em 2013 se mudou para Fortaleza, mas passou temporadas fora do país depois disso. No exterior, já havia se aventurado em navios pesqueiros na Islândia e recentemente esteve na Costa do Marfim atuando pela Legião Estrangeira da França, agrupamento militar no qual atuam estrangeiros.

Antes de ir para a Ucrânia, ele passou um tempo em Lisboa trabalhando como motorista de aplicativo. "Sobre lutar na Ucrânia, ele nos comunicou com a decisão já tomada. Não havia nada que nossa opinião pudesse mudar. Ele embarcou para lá como voluntário assim que os conflitos começaram", afirma Tatiane.

Segundo ela, Bahi tem quatro filhos, dois do primeiro casamento em Eldorado do Sul, um fora de relacionamentos e uma filha caçula de três anos com a atual mulher, que mora em Fortaleza.

Sua última publicação no Facebook, em 24 de maio, exibe a imagem de um distintivo da Legião Internacional de Defesa da Ucrânia, unidade militar criada para abrigar voluntários estrangeiros que atuam em defesa do país desde o início da guerra.

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