Deputados dos EUA cobram mais investigações sobre mortes de Bruno e Dom e criticam Bolsonaro

Em carta, 23 parlamentares pedem que governo Biden crie estratégia para proteger moradores da Amazônia

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Washington

Mais de 20 deputados dos EUA assinaram uma carta destinada ao secretário de Estado, Antony Blinken, na qual pedem providências extras em relação ao caso das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, além de mais ações do governo americano em relação à proteção da Amazônia. O documento também traz críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

A carta foi proposta pelos democratas Raúl Grijalva e Susan Wild e endossada por outros 21 membros do partido, incluindo as deputadas Alexandria Ocasio-Cortez e Barbara Lee —a Câmara tem 435 parlamentares. O documento, obtido pela Folha​, tem a data desta terça (19) e lista cinco demandas.

A primeira exige que a Casa Branca peça publicamente que todos os envolvidos no crime sejam indiciados e que seja realizada uma investigação ampla, que atinja possíveis mandantes.

Ato em São Paulo contra as mortes do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, assassinados em uma viagem pelo Vale do Javari
Ato em São Paulo contra as mortes do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, assassinados em uma viagem pelo Vale do Javari - Bruno Santos - 23.jun.22/Folhapress

Os parlamentares também querem que autoridades americanas conversem com líderes indígenas e enviem uma delegação de alto nível ao vale do Javari, onde Dom e Bruno foram mortos, para conhecer melhor as condições da região e formular políticas para ajudar na segurança dos moradores locais.

O documento defende ainda que os EUA assumam um compromisso de longo prazo com a segurança dos indígenas e da região e, para tal, criem parcerias com governos, especialistas e organizações internacionais como a ONU e Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Bruno e Dom foram assassinados em junho. A dupla viajava no sudoeste do estado do Amazonas e visitava comunidades na vizinhança da Terra Indígena Vale do Javari, que abriga o maior número de povos isolados na floresta amazônica. A carta lembra que as mortes não foram um caso isolado e que ao menos outros 317 ativistas ambientais foram assassinados no Brasil desde 2012, segundo a Global Witness, o que faz do país um dos mais perigosos do mundo para defensores do ambiente.

"As ameaças contra indígenas, quilombolas e outros 'guardiões da floresta' têm atingido proporções desastrosas sob o regime do presidente Jair Bolsonaro", afirma o texto. "Outros indicadores ambientais estão piorando, como os crescentes números relacionados ao desmatamento e a incêndios, não só na Amazônia mas também em outros ecossistemas-chave, como o cerrado e o Pantanal. A impunidade é um lema dos assassinatos na Amazônia, e, pelo futuro da Amazônia, esse caso não pode ser esquecido."

Grijalva, ao comentar a carta, reforçou as críticas ao governo brasileiro, dizendo que Bolsonaro tem enfraquecido a proteção ao ambiente em troca de lucros. "Biden e Blinken devem usar todo o peso da diplomacia para refletir nosso compromisso com os direitos humanos, responsabilizar violadores e proteger os recursos naturais."

Wild defendeu que o governo Biden "aproveite esse momento trágico para criar uma agenda robusta de engajamento dos EUA com o Brasil, focada em conter o desmatamento e proteger os direitos dos povos indígenas". Ela definiu esse tipo de agenda de "urgentemente necessário", citando o peso da Amazônia no cenário de combate à emergência climática.

Para Andrew Miller, diretor de advocacy da Amazon Watch, uma das entidades que buscam convencer o governo americano a reforçar a atuação para proteger a Amazônia, "o governo Biden deve se mover da retórica para a ação concreta".

Na semana passada, Eliesio Marubo, advogado da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), esteve em Washington e se reuniu com deputados e senadores dos EUA. Ele disse aos parlamentares que o governo brasileiro precisa fazer mais para proteger a Amazônia, evitar novos casos de assassinato como o de Dom e Bruno e descobrir os mandantes do crime.

Desde 2021, houve ao menos sete cartas e comunicados de congressistas dos EUA pedindo ações da Casa Branca em relação ao Brasil. Em uma delas, de dezembro, oito senadores solicitaram a Biden que houvesse uma clara reconfiguração ("clear reset") da relação entre os dois países, depois de ataques feitos por Bolsonaro à democracia, aos direitos humanos e à proteção ambiental no Brasil.

Apesar da pressão, Biden se aproximou do presidente brasileiro neste ano. Em junho, ambos tiveram seu primeiro encontro presencial, durante a Cúpula das Américas, em Los Angeles.

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