Negacionistas do clima criam mapas falsos para tentar desmentir onda de calor na Europa

Publicações descontextualizadas criticam uso de cor vermelha e falam falsamente em exagero de cientistas

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RFI

Confrontados com a dura realidade das altas temperaturas e incêndios causados pela crise climática na Europa, os negacionistas do clima, também conhecidos como climacéticos, encontraram uma forma viral de espalhar dúvidas e fake news sobre o aquecimento global nas redes sociais durante a onda de calor: a publicação de mapas meteorológicos com datas erradas e fora do contexto, sugerindo que os meteorologistas estão exagerando sobre a mudança climática ao usar "em demasia" a cor vermelha.

Mapas de meteorologia foram alterados com datas erradas para espalhar a ideia de que a crise climática é falsa
Mapas de meteorologia foram alterados com datas erradas para espalhar a ideia de que a crise climática é falsa - Divulgação Météo Concept

Durante as duas recentes ondas de calor na Europa, negacionistas do clima de vários países justapuseram mapas meteorológicos de diferentes mídias em datas erradas, visando a causar desinformação. As publicações geralmente sugerem que a cor dos mapas foi "alterada para vermelho" pela mídia ou por autoridades com o objetivo de "criar pânico".

O serviço de verificação digital da agência de notícias AFP, no entanto, desconstruiu muitas versões dessas alegações, publicadas em inglês, alemão, espanhol, francês, húngaro e polonês, sugerindo uma curiosa ação ordenada e conjunta. Na França, dois mapas que pretendem provar que a mídia está tentando intencionalmente "assustar as pessoas" com a onda de calor de 2022 foram compartilhados milhares de vezes nas redes sociais desde o dia 15 de julho.

Em um mapa real das temperaturas na França em 17 de julho, alguns negacionistas alteraram propositalmente os dados e as datas, oferecendo uma suposta previsão meteorológica com "temperaturas semelhantes em 2002, mas muito menos vermelhas", implicando que a mídia está "exagerando deliberadamente sua cobertura de calor extremo neste verão".

"Vinte anos entre estes dois mapas... Naquela época, eles provavelmente estavam fazendo menos lavagem cerebral... Vivendo com medo, com medo de amanhã... A mídia está fazendo um trabalho psicológico real na população... E não está indo muito mal", disse um dos negacionistas no Facebook.

"O que é um desastre climático hoje foi um lindo dia de verão em 2002...", lamentou um outro post na mesma rede social, em 16 de julho. O problema era que o segundo mapa era realmente de 2019, e os mapas vinham de fontes diferentes que não utilizavam a mesma paleta de cores e, diferentemente do que o post afirmava, de um único meteorologista que tinha manipulado sua paleta de cores.

Codificação por cores

Fake news semelhantes foram publicadas em maio e em junho em inglês e em alemão, entre outros idiomas, nas redes sociais. Em um exemplo compartilhado no Twitter e em outros lugares, dois mapas da Suécia mostraram temperaturas semelhantes lado a lado: um era verde e datado de 1986, enquanto o outro era laranja e datado de 2022, implicando que, ao longo dos anos, "as mesmas temperaturas corresponderiam a cores cada vez mais alarmantes".

Mas uma investigação digital revelou que os anos mostrados nos mapas não eram os corretos e que as cartas vieram de diferentes meios de comunicação, mais uma vez usando códigos de cores diferentes.

Em outro tipo de post climacético, internautas na Espanha compartilharam uma foto de um jornal de 1957 que relatou uma temperatura recorde de 50 °C. O artigo era genuíno, mas os usuários não estavam cientes do fato de que ele tinha sido postado. Os meteorologistas espanhóis explicaram que a medição da temperatura não havia sido certificada ou registrada oficialmente.

Os cientistas climáticos concordam que as emissões de carbono provenientes da queima de combustíveis fósseis pela humanidade estão aquecendo o planeta, aumentando a frequência e a severidade das ondas de calor e outros eventos climáticos extremos.

Com temperaturas superiores a 40 °C, a onda de calor desta semana na Grã-Bretanha também fez com que houvesse comparações com o verão de 1976, quando a temperatura atingiu 35,9 °C. Os especialistas dizem que este precedente não contradiz a ideia de que as ondas de calor se tornarão mais comuns.

"É claro que houve ondas de calor no passado, mas a grande diferença em relação a 1976 é o estado do resto do mundo", diz Friederike Otto, pesquisadora do Grantham Institute for Climate Change no Imperial College London. "Em 1976 houve uma onda de calor [na Grã-Bretanha], em 2022 há ondas de calor em todo o mundo, e também houve ondas de calor em 2021, 2020 e 2019."

A verificação detalhada dos fatos citados neste texto está disponível em factual.afp.com.

Com AFP

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