Relatório aponta 'erros sistêmicos' da polícia em ataque a escola de Uvalde, e chefe é afastado

Demora dos agentes para agir pode ter colaborado para alto número de vítimas, diz documento

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Lubbock (Texas) | Reuters

Relatório de legisladores do estado do Texas, nos EUA, apontou que falhas sistêmicas de dezenas de autoridades e a falta de liderança adequada da polícia local colaboraram para o alto número de mortes do ataque a uma escola de Uvalde no final de maio.

Na ocasião, um homem de 18 anos matou 21 pessoas, sendo 19 crianças. A polícia admitiu que errou ao esperar mais de uma hora por reforços antes de invadir a sala onde ocorreu o crime, e o governo americano prometeu uma revisão completa das ações naquele dia.

Policial perto de flores e cartezes em homenagem às vítimas do ataque a uma escola de Uvalde, no Texas - Chandan Khanna - 27.mai.22/AFP

No documento de 77 páginas publicado neste domingo (17), os legisladores dizem ter encontrado uma série de tomadas de decisão equivocadas. "O vazio de liderança pode ter contribuído para a perda de vidas, pois o agressor continuou a disparar enquanto pessoas feridas esperavam mais de uma hora por ajuda", diz um trecho.

Após a divulgação, o prefeito de Uvalde, Don McLaughlin, anunciou que o chefe interino da polícia durante o tiroteio, o tenente Mariano Pargas, foi afastado do cargo e colocado em licença administrativa enquanto a cidade organiza uma investigação própria do ocorrido.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, chamou o relatório de devastador e as descobertas nele de fatos inaceitáveis.

O deputado estadual Dustin Burrows, republicano que presidiu o comitê responsável pelo relatório, afirmou que caberia às agências públicas responsabilizar os funcionários envolvidos. O objetivo do documento, disse ele, foi apenas o de fornecer informações aos parentes das vítimas e ao público em geral.

"Vários policiais que estavam no corredor ou no prédio da escola naquele dia sabiam —ou deveriam saber— que havia um crime ocorrendo ali e que deveriam ter feito mais, agido com urgência."

O material descreve, entre outras coisas, que os policiais esperaram do lado de fora, de maneira apática, mesmo quando um oficial do alto escalão soube que um professor estava ferido e que uma das crianças estava ligando para o serviço de emergência de dentro da sala de aula. Nenhum dos agentes que soube desses fatores defendeu uma resposta mais rápida.

Os policiais também não chegaram a ligar para o diretor da escola, que possuía uma chave mestra das salas da instituição. Eles testaram uma ferramenta feita para arrombar portas, mas descartaram a possibilidade por apresentar risco para os agentes.

Quase 400 agentes foram para o local, mas a decisão de confrontar o atirador foi tomada por um pequeno grupo de policiais, alguns da Patrulha da Fronteira —o Texas faz fronteira com o México.

O relatório intensifica as críticas públicas à reposta dos agentes de Uvalde, que já haviam crescido na semana passada, quando o jornal Austin American-Statesman divulgou vídeo que mostra a demora da polícia para responder ao ataque. As imagens registram 1 hora e 17 minutos desde a chegada do atirador até que ele é confrontado e morto.

Era previsto que o vídeo fosse disponibilizado ao público junto com o relatório deste domingo, e a divulgação pelo veículo foi alvo de críticas de familiares das vítimas, que viram na ação um desrespeito.

"Fomos pegos de surpresa", disse à rede CNN Angel Garza, cuja filha, Amerie, 10, morreu no ataque. "Quem eles pensam que são para divulgar imagens de nossos filhos, que nem sequer podem falar por si mesmos, em seus momentos finais, para o mundo inteiro?".

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