Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia admite ataque a Odessa, mas diz ter mirado alvos militares da Ucrânia

Ofensiva realizada um dia após assinatura de acordo por grãos provocou indignação de Kiev e aliados

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Kiev | AFP e Reuters

A Rússia admitiu neste domingo (24) ter destruído no dia anterior infraestruturas militares no porto de Odessa, no sul da Ucrânia, uma zona vital para escoar as exportações de grãos do país.

A ofensiva, realizada menos de 24 depois de os dois países assinarem um acordo para viabilizar a passagem dos produtos agrícolas ucranianos, provocou indignação do governo em Kiev e de seus aliados.

Bombeiros atuam em local atingido por bombardeio russo, na cidade portuária de Odessa, na Ucrânia
Bombeiros atuam em local atingido por bombardeio russo, na cidade portuária de Odessa, na Ucrânia - 23.jul.22/Forças Unidas de Defesa do Sul via Reuters

Logo após o ataque, a Rússia, de acordo com a Turquia, que fez a mediação da assinatura do pacto junto à ONU, disse não ter nada a ver com a ação. Agora, Moscou admite ter sido responsável pelos danos, mas afirma ter mirado apenas instalações militares, não estruturas ligadas à exportação de grãos.

No Telegram, a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, afirmou neste domingo que os mísseis Kalibr destruíram uma embarcação de guerra e depósitos de armas, em um "ataque de alta precisão".

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, classificou os ataques com mísseis à cidade portuária de "barbárie russa", colocando em risco o trato que, se mantido, pode aliviar a crise mundial de alimentos. Para o líder do país ora invadido, a ofensiva demonstra que não se pode confiar na capacidade de Moscou para cumprir promessas e que o diálogo com o Kremlin é cada vez mais insustentável.

Ainda que o conselheiro econômico do presidente, Oleh Ustenko, tenha alertado que a ação de Moscou no sábado indica que o pacto não vai funcionar da maneira prevista, a Ucrânia, de acordo com o ministro de Infraestrutura do país, prometeu seguir com os preparativos técnicos para realizar as exportações.

No acordo negociado sob os olhos do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e do secretário-geral da ONU, António Guterres, Odessa é um dos três portos liberados para escoar as exportações da Ucrânia.

Autoridades do país afirmaram que havia grãos no porto no momento do ataque, ainda que os depósitos, segundo o Exército ucraniano, não tenham sido afetados. De acordo com o governador regional de Odessa, o bombardeio deixou "vários feridos", sem informar números nem a gravidade dos ferimentos.

Guterres condenou "inequivocamente" o ataque. Chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell disse que a ofensiva mostra "o total desprezo da Rússia pelo direito e pelos compromissos internacionais". Na mesma toada, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, "a ação coloca sérias dúvidas sobre a credibilidade do compromisso da Rússia com o trato acertado".

O acordo selado na Turquia foi o primeiro grande pacto acertado pelas duas partes em conflito desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro, e era aguardado com ansiedade porque pode ajudar a mitigar a crise alimentar no mundo, principalmente em países pobres. De acordo com a ONU, devido à guerra 47 milhões de pessoas foram adicionadas ao grupo das pessoas que passam fome.

Antes da assinatura, a Ucrânia advertiu que daria uma "resposta militar imediata" caso a Rússia violasse o pacto e atacasse suas embarcações ou portos. Zelenski diz que a ONU deve monitorar o cumprimento do trato, que inclui o trânsito de barcos por corredores seguros, para evitar minas instaladas no Mar Negro.

Até 20 milhões de toneladas de trigo e de outros grãos estão bloqueados na Ucrânia, sobretudo em Odessa, por navios de guerra da Rússia e pelas minas que Kiev colocou para evitar um ataque anfíbio. O líder ucraniano estima que o valor dos grãos retidos seja de cerca de US$ 10 milhões (R$ 54,9 milhões).

Além da ofensiva na cidade portuária ao sul, o pacto também não impediu outros bombardeios na linha de frente durante o final de semana, afirmou neste domingo a Presidência ucraniana. Quatro mísseis de cruzeiro teriam atingido no sábado zonas residenciais de Mikolaiv, ferindo cinco pessoas.

Com a guerra entrando em seu sexto mês neste domingo, outros sinais mostram que o conflito está longe de acabar. O Exército ucraniano relatou bombardeios no norte, no sul e no leste do país, além de voltar a indicar que as forças de Moscou estão abrindo caminho para atacar Bakhmut, na região do Donbass.

A intensificação da ofensiva russa fez o prefeito de Kharkiv pedir aos moradores da segunda maior cidade da Ucrânia que deem preferência ao uso do metrô para se deslocar. "A última semana mostrou que o agressor deixou até mesmo de fingir que mira alvos militares", escreveu Ihor Terekhov no Telegram. "Use o sistema metroviário com mais frequência, hoje é a maneira mais segura de se locomover."

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