Bolsonaro diz que continua neutro na Guerra da Ucrânia e que contato com Putin 'está dez'

Presidente cita 'tom bastante emocional' de Zelenski em telefonema e afirma que não vai aderir a sanções contra Rússia

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta sexta-feira (22) que, na conversa telefônica que teve com Volodimir Zelenski na segunda (18), o líder ucraniano falou em tom emotivo e desabafou.

Depois, disse ter mantido uma "posição de estadista", argumentando que "não existe cobrança" entre chefes de Estado para reforçar a postura que ele define ser de neutralidade do Brasil no conflito entre Rússia e Ucrânia.

"Não existe cobrança entre mim e um chefe de Estado. O Brasil é independente, ele também é independente. Então não tem cobrança", disse Bolsonaro a jornalistas, em um posto de gasolina em Brasília.

O presidente Jair Bolsonaro após encontro no Palácio do Planalto, em Brasília
O presidente Jair Bolsonaro após encontro no Palácio do Planalto, em Brasília - Adriano Machado - 11.jul.22/Reuters

O presidente também destacou que o país não vai aderir às sanções que nações do Ocidente vêm impondo à Rússia, ao afirmar que não está fazendo "o que ele [Zelenski] quer". O político e o Itamaraty já se manifestaram outras vezes contra esse tipo de punição.

"Continuamos em equilíbrio. E a Otan [aliança militar do Ocidente] é o local adequado para solucionar esse conflito aí." A expansão da coalizão liderada pelos Estados Unidos para países da zona de influência da ex-União Soviética foi um dos motivos usados por Vladimir Putin para iniciar a invasão da Ucrânia.

As declarações de Bolsonaro nesta sexta foram motivadas por uma entrevista de Zelenski à TV Globo, exibida um dia depois da conversa entre os dois líderes, na qual Zelenski foi incisivo nas críticas ao Brasil. Ele disse não acreditar "que alguém possa se manter neutro quando há uma guerra" no mundo.

"Vamos pensar na Segunda Guerra Mundial. Muitos líderes ficaram neutros no começo dela", afirmou o presidente ucraniano. "Isso permitiu que os fascistas engolissem metade da Europa e se expandissem mais e mais. Isso aconteceu devido à neutralidade. Ninguém pode ficar no meio do caminho."

Se, por um lado, Bolsonaro diz manter o Brasil neutro na guerra, ele frequentemente destaca a relação que mantém com o chefe do Kremlin. A justificativa para essa posição é a importação de fertilizantes —os russos são um dos principais fornecedores do insumo ao agronegócio brasileiro—, além de uma negociação mais recente para a compra de diesel.

"Se eu não tivesse em posição de equilíbrio, vocês acham que a gente teria fertilizantes no Brasil?", questionou o presidente. "Repito, nosso contato com o presidente Putin está dez, excelente. [As relações com os] EUA aí voltaram quase a uma normalidade. O Brasil é procurado pelo mundo todo."

Bolsonaro viajou a Moscou em fevereiro, dias antes do início da guerra, a despeito de conselhos de aliados para que não fosse. Depois, o governo colocou os relatórios sobre a viagem sob sigilo de cinco anos.

A ideia de ir à Rússia no momento em que havia mobilização de tropas na fronteira com a Ucrânia foi mal recebida por parceiros, como os EUA, que tentaram fazer com que o governo brasileiro desistisse da viagem, sob o argumento de que o gesto representaria apoio às ações de Putin. Já depois de se reunir com o líder russo, Bolsonaro voltou a ser alvo de críticas por se dizer "solidário à Rússia" durante o encontro —ele não explicou a o que se referia ao expressar tal sentimento.

Em mais de uma ocasião desde o começo da invasão russa, o presidente se disse neutro no conflito, ainda que o Brasil tenha sido crítico a Moscou em fóruns internacionais: nas Nações Unidas, o país condenou as ações do Kremlin em resoluções da Assembleia-Geral e do Conselho de Segurança, mas se absteve em votação que suspendeu Moscou do Conselho de Direitos Humanos.

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