China envia caças contra defesas de Taiwan após visita de Pelosi

Incursão com 27 aviões ocorre logo depois da saída da deputada americana da ilha

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São Paulo

A China fez sua primeira ação militar concreta em protesto pela visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan: enviou 27 aviões de combate através do estreito que separa a ilha de seu território continental.

Ao menos 22 aeronaves cruzaram a linha que divide a área, que tem 130 km no seu ponto mais estreito, segundo o Ministério da Defesa de Taiwan. Caças de Taipé foram enviados para interceptá-los e afastá-los.

Morador de Pequim vê noticiário da TV estatal sobre manobras militares em torno de Taiwan
Morador de Pequim vê noticiário da TV estatal sobre manobras militares em torno de Taiwan - Thomas Peter/Reuters

Esse tipo de ação é corriqueira, servindo para Pequim testar a rapidez de reação de caças e sistemas de defesa antiaéreo da ilha que considera sua e promete integrar à ditadura comunista, pacificamente ou não.

Mas a desta quarta (3) ocorreu logo após Pelosi deixar a ilha, onde havia chegado na noite anterior para encontrar-se com autoridades e ativistas pró-democracia. Pequim havia alertado que não deixaria a provocação, que vê como afronta direta, sem resposta.

Inicialmente, observadores apostavam justamente nisso, uma incursão. A ocorrida foi mediana em tamanho: a maior de todas envolveu 52 aeronaves, em outubro do ano passado. Mas a China vai flexionar outros músculos, tendo anunciado exercícios com tiro real em seis áreas em torno de Taiwan.

O governo da ilha diz que isso equivale a um bloqueio aeronaval, obrigando mudança de rotas de voos internacionais e de navios. Pequim se mantém inflexível, e diz que fará as manobras de quinta (4) a domingo (7), segundo a agência estatal Xinhua.

Já o jornal Global Times, órgão publicado em inglês e ligado ao Partido Comunista, considera que os exercícios de "simulação de reincorporação" de Taiwan já começaram na própria terça, embora a ilha não reconheça isso. A publicação afirma que será usada a nata do arsenal chinês, como caças furtivos J-20 e mísseis hipersônicos DF-17 —além de um foguete que seria lançado sobre o território taiwanês, algo que só aconteceu uma vez, em 1996.

Com isso, a tensão deverá seguir na região. Aliados dos Estados Unidos já demonstraram descontentamento com a viagem de Pelosi, que seguiu de Taiwan para a Coreia do Sul e, depois, irá ao Japão.

Apesar de unidos na crítica à China, não é do interesse de países como Austrália ou Singapura um conflito regional, ainda mais em um momento recessivo global —cortesia, entre outras coisas, da Guerra da Ucrânia disparada pelo aliado chinês Vladimir Putin e seu impacto inflacionário na energia e nos alimentos.

O governo de Joe Biden havia sugerido a Pelosi não fazer a viagem, ainda que a curto prazo possa haver benefícios para o Partido Democrata dela e do presidente, que enfrenta eleições congressuais duras em novembro. Já para o governo de Xi Jinping, que ganhará um terceiro mandato em novembro, o equilíbrio na reação pode galvanizar apoio doméstico sem arriscar uma guerra que seria desastrosa.

O que não significa que não haja riscos em tudo isso. Basta um avião derrubado de lado a lado para o caldo entornar. Forças navais americanas e chinesas estão em alerta em águas próximas de Taiwan, inclusive com porta-aviões de ambos os países.

A última vez que a situação ficou tão tensa foi na chamada Terceira Crise do Estreito de Taiwan, entre 1995 e 1996, quando uma muito mais fraca Pequim fez manobras com mísseis armados em torno da ilha, mas não a cercando, após o presidente taiwanês visitar os EUA. Agora, contudo, apesar dos problemas Xi controla recursos militares mais poderosos.

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