Líder xiita no Iraque dá ultimato para fim de protestos e pede desculpas por 30 mortes

Anúncio de Moqtada al-Sadr de que deixaria vida pública levou manifestantes às ruas e mergulhou país em nova crise

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Bagdá | AFP e Reuters

Quatro foguetes caíram nesta terça-feira (30) na Zona Verde de Bagdá, danificando uma área residencial, afirmaram as forças de segurança do Iraque. A área, um dos pontos centrais dos atuais protestos, reúne ministérios e missões estrangeiras no país e é a sede dos prédios do governo.

Apoiadores do poderoso clérigo muçulmano xiita Moqtada al-Sadr invadiram a sede do governo na segunda-feira (29), em reação ao anúncio de de que ele estava abandonando a vida política. Os manifestantes estavam acampados na área há semanas, em meio à crise que se arrasta há meses e agora culmina no pior cenário de violência dos últimos anos em Bagdá.

Apoiador de Sadr enrola colchão no momento em que manifestantes deixam a Zona Verde - Ahmad Al-Rubaye - 30.ago.22/AFP

A invasão foi apenas um dos atos dos manifestantes. Os protestos de grupos pró-Sadr ocuparam toda a cidade na segunda, e os grupos entraram em confronto com forças de seguranças e milícias rivais apoiadas pelo Irã, deixando um saldo de 30 mortos e 570 feridos.

Nesta terça, depois da queda dos foguetes na Zona Verde, Sadr pediu desculpas pelas mortes e deu a seus seguidores um ultimato para que encerrassem os protestos em uma hora. "Esta não é uma revolução porque perdeu seu caráter pacífico", disse o clérigo, em discurso na televisão. "O derramamento de sangue iraquiano é proibido."

Conforme o prazo chegava ao fim, os apoiadores do clérigo começaram a desmontar suas barracas e a enrolar colchões, nos preparativos para deixar a Zona Verde.

Devido à crise, o Iraque estava desde segunda sob um toque de recolher decretado pelo governo —nesta terça, a restrição foi extinta pelas forças de segurança. Além disso, a fronteira com o Irã, que havia sido fechada, foi reaberta, e os voos entre os países vizinhos, retomados.

O presidente Barham Salih saudou o cessar inicial da violência após o discurso de Sadr, mas alertou que a crise política não havia acabado e que convocar eleições antecipadas —uma demanda do clérigo— pode ser uma saída para o impasse.

A dissolução do atual Parlamento, porém, depende da vontade da maioria dos congressistas e deve ser proposta por ao menos um terço deles ou pelo primeiro-ministro, Mustafa al-Kadhimi, aliado de Sadr. O premiê, aliás, disse nesta terça que poderia renunciar ao cargo se os protestos continuarem.

Adversários políticos do clérigo, segundo a agência Associated Press, não são contra uma nova eleição, mas divergem sobre a forma como ela deve ser feita. O Judiciário iraquiano, por sua vez, já declarou que a maneira proposta por Sadr é inconstitucional.

A eclosão desta semana se dá em resposta a um impasse que já dura dez meses e deu ao Iraque seu período mais longo sem um governo estabelecido. Sadr não consegue montar um governo desde outubro do ano passado, quando seu partido venceu as eleições sem obter maioria absoluta no Parlamento.

Em junho, ele retirou todos os seus representantes do Parlamento após não conseguir excluir seus rivais apoiados por Teerã das negociações. No meio da crise, insistiu na dissolução do Parlamento e em eleições antecipadas. Ele diz que nenhum político que está no poder desde a invasão dos EUA, em 2003, pode ocupar o cargo.

Sadr é uma das únicas pessoas no Iraque —além do aiatolá Ali al-Sistani, grande autoridade religiosa xiita— capaz de mobilizar grandes massas. Tem milhões de seguidores, uma milícia e um império financeiro.

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