Trégua em guerra no Iêmen será estendida por 2 meses, anuncia ONU

Nações Unidas esperavam acordo mais longo; conflito se arrasta há quase oito anos

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Áden (Iêmen) | Reuters

As Nações Unidas anunciaram a renovação da trégua entre o governo estabelecido no Iêmen e rebeldes apoiados pelo Irã. A confirmação se deu nesta terça (2), último dia do cessar-fogo que havia sido acordado em abril.

De acordo com o enviado especial da ONU para o país, Hans Grundberg, a extensão da trégua inclui o compromisso das partes de intensificar as negociações para um fim definitivo da guerra.

O conflito, apesar de se dar entre governo e rebeldes, é visto como uma disputa por procuração da Arábia Saudita contra o Irã. Riad lidera uma coalizão de países da região que sustenta o governo, e o grupo ainda recebe apoio logístico e de inteligência dos Estados Unidos.

Iemenitas pedem o fim do bloqueio imposto pelos rebeldes do Iêmen, em Taez, terceira maior cidade do país
Iemenitas pedem o fim do bloqueio imposto pelos rebeldes do Iêmen, em Taez, terceira maior cidade do país - Ahmad al-Basha - 26.jul.22 / AFP

Até por isso, autoridades americanas participaram das negociações para a trégua anunciada nesta terça. Em visita à Arábia Saudita no mês passado, o presidente Joe Biden saudou a interrupção dos ataques mediada pela ONU.

Nesta terça, o democrata disse, em comunicado, que a trégua "trouxe um período de calma sem precedentes no Iêmen, salvando milhares de vidas e trazendo alívio tangível para inúmeros iemenitas''. Ele, porém, reconheceu que o acordo ainda "não é suficiente".

Na mensagem, o americano agradeceu ao príncipe saudita, Mohammed bin Salman, por confirmar "total empenho em prolongar a trégua". Biden também destacou o papel das autoridades de Omã nas negociações. O Irã, rival geopolítico dos EUA, não é citado na declaração.

Desde que assumiu a Casa Branca, o democrata pressiona Riad a encerrar a guerra no Iêmen. Ele chegou a suspender o apoio às operações ofensivas da coalizão e a revogar a designação de terrorista que a administração Trump havia imposto aos rebeldes houthis.

Mais cedo, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, pediu para que "as partes iemenitas aproveitem essa oportunidade para trabalhar construtivamente sob os auspícios da ONU e cheguem a um acordo que abra caminho para a resolução duradoura do conflito".

Apesar do alívio trazido pelo cessar-fogo desta terça, a ONU queria que as duas partes estendessem a trégua por mais seis meses. O acordo por esse tempo significaria o mais longo período de relativa calma no país em mais de sete anos.

A trégua ampliada, segundo as Nações Unidas, permitiria o pagamento de salários do funcionalismo público, a abertura de estradas, voos expandidos de Sanaa (a capital iemenita) e fluxo regular de combustível para a cidade portuária de Hodeidah. Esses são pontos-chave nas discussões entre governo e rebeldes.

As duas partes, que vinham se acusando de descumprimento do trato de abril, mantiveram nesta terça ataques verbais, como que criticando a trégua assinada por eles mesmos.

O conflito começou em 2014, quando os houthis, grupo militante do norte do Iêmen que havia travado várias guerras contra o governo central, assumiu o controle de Sanaa. Uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos interveio no ano seguinte, com o objetivo de derrotar os rebeldes e restaurar o ex-ditador Ali Abdullah Saleh, que comandou o país de 1978 a 2012 —quando foi um dos líderes a cair na Primavera Árabe.

Em dezembro de 2017, Saleh rompeu com os insurgentes e foi morto dois dias depois.

Desde então, a economia e os serviços básicos do Iêmen entraram em colapso. A ONU estima que 24,1 milhões de pessoas em 2021 corriam o risco de passar fome e contrair doenças. Ao todo, 14 milhões precisavam urgentemente de assistência. O conflito já deixou centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados e já foi definido como a crise humanitária mais grave do mundo.

À agência de notícias Reuters, o professor Elham Abdullah disse esperar que a trégua melhore seu padrão de vida. Ele mora em Áden, onde o governo está alocado após ser deposto de Sanaa pelos houthis. Já o estudante universitário Tah Abdul-Kareem afirmou ser necessário mais. Ainda assim, segundo ele, a trégua anunciada nesta terça "é melhor do que um retorno à guerra".

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