Descrição de chapéu Rússia

Bolsonaro compara Guerra da Ucrânia a crise dos mísseis em Cuba em 1962

Presidente disse que 'deve ter passado' pela cabeça de Putin o fato de a Ucrânia 'ter entrado na Otan'

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) comentou nesta segunda-feira (12) a Guerra da Ucrânia e adotou argumentos similares aos usados por líderes russos para justificar a invasão ao país vizinho.

"O que deve ter passado na cabeça dele [do Putin]? 'Os caras estão entrando para a Otan, vão botar o míssil a poucos minutos de Moscou.' Igual à [situação na] baía dos Porcos [em referência à crise dos mísseis] em 1962. A União Soviética botou [mísseis balísticos] lá [em Cuba] e o governo americano falou 'tira ou o bicho vai pegar'. Os caras tiraram", afirmou em entrevista a seis podcasters simpatizantes.

Presidente Jair Bolsonaro em evento organizados pela União Nacional de Entidades Empresariais e Serviços, em Brasília
Presidente Jair Bolsonaro em evento organizados pela União Nacional de Entidades Empresariais e Serviços, em Brasília - Lucio Távora -30.ago22/Xinhua

A crise mencionada por Bolsonaro teve início quando o então líder cubano, Fidel Castro, convenceu a União Soviética a instalar mísseis balísticos na ilha, como instrumento de dissuasão militar. Na época, Washington também tinha mísseis do tipo na Turquia, próximo à Rússia.

O Pentágono cogitou responder às ameaças cubanas invadindo a ilha, mas o então presidente americano, John F. Kennedy, optou por uma saída diplomática. Em 1961, uma operação apoiada pelos EUA contra o regime de Fidel na baía dos Porcos havia falhado.

Após aviões americanos identificarem a instalação dos mísseis soviéticos, Washington e Moscou se ameaçaram mutuamente e o impasse –que durou 14 dias– deixou o mundo à beira da guerra nuclear. O acordo para a retirada dos mísseis de Cuba só foi alcançado quando os EUA se comprometeram a não invadir a ilha. Secretamente, Washington também concordou em retirar seus mísseis da Turquia.

Desde o início da Guerra da Ucrânia, Bolsonaro alega neutralidade do Brasil no conflito. Ao visitar Moscou, em fevereiro, ele chegou a dizer que manifestava "solidariedade à Rússia", o que gerou mal-estar com, entre outros atores, a Casa Branca –na época, os EUA já acusavam o Kremlin de panejar a invasão do país vizinho.

A Ucrânia não entrou formalmente na Otan, aliança militar ocidental liderada pelos EUA, mas a alegada intenção de Kiev de se juntar ao grupo foi um dos motivos que levaram à guerra.

Após o encontro com Putin, Bolsonaro chegou a dar a entender que sua ida a Moscou teria ajudado a debelar o enfrentamento, o que, por óbvio, não se confirmou. Bolsonaro, porém, afirma que a viagem garantiu o fornecimento de fertilizantes para o agronegócio brasileiro. Na entrevista desta segunda, o presidente brasileiro não quis revelar o teor das conversas que travou com seu homólogo russo.

Bolsonaro ainda comentou o telefonema que teve com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, em julho. "[Ele] ligou para mim, não vou falar tudo que falou, lógico, mas em dado momento falou: ‘o que se pode fazer para acabar com a guerra?’. Se tivesse poder para acabar agora, teria muito mais poder para não ter iniciado lá atrás", afirmou.

Em entrevista ao Jornal Nacional, o presidente ucraniano criticou a neutralidade do Brasil na guerra. "Não acredito que alguém possa se manter neutro quando há uma guerra no mundo", disse.

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