Descrição de chapéu Rússia

Visita de Bolsonaro a Putin não ocorreu em momento apropriado, diz Guedes

Ministro da Economia afirma que Brasil condena guerra da Rússia contra Ucrânia, mas não pode aderir a sanções

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Brasília

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta terça-feira (19) que a visita do presidente Jair Bolsonaro (PL) à Rússia em fevereiro, dias antes de Vladimir Putin ordenar a invasão da Ucrânia, ocorreu em um momento inapropriado.

"O presidente estava visitando Putin, e o momento não foi apropriado", reconheceu o ministro durante entrevista promovida pelo Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, na sigla em inglês), em Washington.

Bolsonaro esteve na Rússia entre os dias 15 e 16 de fevereiro. Durante a visita, o presidente brasileiro chegou a expressar "solidariedade" à Rússia, o que teve repercussão negativa na comunidade internacional diante da escalada de tensão que já se anunciava.

O presidente Jair Bolsonaro ao lado de Vladimir Putin em visita à Rússia, em fevereiro - Mikhail Klimentyev - 16.fev.2022/AFP

Bolsonaro também fez uma ilação inexistente entre sua visita a Moscou e o anúncio da retirada de parte das tropas russas que se exercitavam em torno da Ucrânia, ainda antes da invasão.

"Alguns países achavam que não deveríamos vir. Mantivemos nossa agenda, por coincidência ou não, parte das tropas deixou a fronteira", disse o presidente, em 16 de fevereiro. "A leitura que eu tenho do presidente Putin é que ele é uma pessoa também que busca a paz."

Em 24 de fevereiro, a Rússia invadiu o território ucraniano, deflagrando o conflito que se estende até os dias de hoje.

Na entrevista desta terça, Guedes ressaltou que o Brasil é contrário à guerra e que já votou condenando a Rússia pelo conflito em três diferentes ocasiões no âmbito da ONU (Organização das Nações Unidas), no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral.

O ministro não citou, porém, que o país se absteve em votação que suspendeu a Rússia do Conselho de Diretos Humanos da ONU por relatos de "violações e abusos grosseiros e sistemáticos dos direitos humanos" na Ucrânia.

Bolsonaro e o Itamaraty têm evitado fazer críticas diretas à Putin. "O presidente está pensando nos fertilizantes que vêm da Rússia", disse Guedes.

Segundo o ministro da Economia, a Constituição brasileira impede o país de aderir às sanções econômicas impostas pelo mundo à Rússia, a não ser no caso de medidas adotadas no âmbito da ONU.

Ele afirmou ainda que o Brasil não deve apoiar um pedido da secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, para excluir a Rússia de organismos multilaterais como FMI (Fundo Monetário Internacional) e Banco Mundial.

"Nós votaremos pela expulsão deles do Banco Mundial? Não pela expulsão, mas eles deveriam fazer parte [da instituição] se eles permanecem em guerra?", disse Guedes, que está em Washington para participar de reuniões dos dois organismos.

"A questão que deveríamos fazer a eles [russos] é 'se vocês não respeitam as instituições, se vocês não se comportam de forma apropriada, porque nós condenamos a guerra e a invasão… por que vocês deveriam permanecer?", acrescentou o ministro.

"Nós não podemos removê-lo, mas por que [a Rússia] deveria permanecer se não se porta adequadamente?"

Nos últimos dias, os EUA têm buscado elevar o nível das sanções econômicas à Rússia na tentativa de pôr fim ao conflito. Nesse contexto, Yellen quer angariar apoio para limitar direitos do país russo ou até expulsá-lo desses organismos.

Segundo informações da agência Reuters, o ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, escreveu a Guedes, pedindo o "apoio do Brasil para evitar acusações políticas e tentativas de discriminação em instituições financeiras internacionais e fóruns multilaterais".

"Nos bastidores, há um trabalho em andamento no FMI e no Banco Mundial para limitar ou até expulsar a Rússia do processo de tomada de decisão", escreveu Siluanov.

Sem fazer menção à carta de seu colega russo, Guedes afirmou que as próprias regras do FMI impedem a expulsão de um país-membro e que, mesmo que isso fosse possível, a medida acabaria por "destruir pontes".

"Nós apoiamos as regras do FMI, que dizem que não podemos expulsá-los. A única razão pela qual deveríamos preservar a ponte é convencê-los a cessar fogo. Se expulsamos, estamos estimulando a guerra econômica", disse o ministro.

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