Descrição de chapéu The New York Times

Conheça o museu da CIA, secreto até para o público

Estabelecimento foi renovado, mas não é qualquer um que pode entrar; também reformado, museu da NSA é aberto à visitação

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Washington | The New York Times

Duas agências de inteligência dos Estados Unidos fizeram uma renovação completa de seus museus de espionagem, exibindo histórias dramáticas de notáveis espiões e informantes americanos, bem como objetos ligados ao trabalho de inteligência. Um deles, porém, permanecerá fora do alcance do público.

Em tempo para seu 75º aniversário neste ano, a CIA (agência de inteligência) reformou e reorganizou seu museu de segredos, com artefatos fascinantes de importantes operações. O local apresenta dispositivos de espionagem bem-sucedidos (um rato morto coberto com molho de pimenta para esconder mensagens) ou nem tanto (uma câmera montada num pombo e um minidrone projetado para parecer uma libélula).

O Museu da CIA, renovado, que é fechado para o público geral e fica na sede da agência, na Virginia - Evelyn Hockstein/Reuters

O Museu da CIA fica no campus fortemente protegido em Langley, na Virgínia, local que não é aberto ao público —a menos que a pessoa seja convocada. A agência abriu o museu renovado para familiares de funcionários em um fim de semana e para membros da imprensa no sábado (24).

Muitos dos artefatos são celebrações dos triunfos da agência. O museu tem uma maquete do complexo de Osama bin Laden e um tijolo retirado do local. Há uma ilustração do grande quadrinista Jack Kirby, usada como arte conceitual de uma produtora de filmes falsa em uma operação de resgate de diplomatas no Irã (representada no filme "Argo"). E disfarces usados por pessoas que trabalharam para resgatar do fundo do oceano os destroços de um submarino soviético que transportava mísseis nucleares.

O museu expõe ainda uma reconstrução do túnel sob Berlim Oriental que permitiu aos EUA acessarem as comunicações soviéticas durante quase 18 meses.

Um dos mais recentes acréscimos é uma maquete do edifício em Cabul onde Ayman al-Zawahri, líder da Al Qaeda, estava escondido quando foi morto por um ataque de drone em julho passado. A CIA colocou o modelo numa caixa de madeira quando foi levado ao presidente Joe Biden para discutir a operação, e o fundo da caixa pode ser visto na vitrine da CIA.

Talvez em parte por ser restrito ao público, o museu não se esquiva de fracassos: agentes capturados por governos, espiões que entregaram informantes, o consenso sobre a Guerra do Iraque, a Baía dos Porcos em Cuba.

"Grande parte desse museu é para nossos agentes, para que eles conheçam as lições do passado", diz Robert Byer, diretor do museu. "Não podemos simplesmente adoçar nossa história ou ostentar sucessos. Precisamos garantir que eles possam entender a história da CIA e façam um trabalho melhor por isso."

Entre as mostras cuidadosamente elaboradas está a história de Martha Peterson, primeira agente feminina enviada a Moscou. Sua tarefa era coletar e passar informações para um agente que era um diplomata soviético, a quem ela também forneceria uma pílula suicida, caso ele fosse capturado. O diplomata acabou sendo detido e morreu por suicídio, levando à prisão de Peterson quando ela colocava uma mensagem em um local secreto.

Museu da NSA reabre para o público

Enquanto a CIA coleta informações, faz análises e executa operações secretas, a Agência de Segurança Nacional (NSA) se concentra em captar comunicações eletrônicas e criar e decifrar códigos. E é esse o foco de sua vitrine reimaginada no Museu Criptológico Nacional em Annapolis Junction, em Maryland.

O museu da NSA, às vezes chamada de "No Such Agency" (não existe tal agência), em alusão a suas práticas secretas, foi projetado para ser acessível ao público, um contraste com o da CIA. "É um paradoxo maravilhoso que a 'No Such Agency' tenha o único museu na comunidade de inteligência dos EUA totalmente aberto ao público", diz Vince Houghton, diretor da entidade.

O lugar fechou em 2020 durante a pandemia de Covid, e Houghton, um ex-historiador e curador do popular Museu Internacional de Espionagem de Washington, aproveitou o período para reformar o prédio e pesquisar meticulosamente os arquivos de equipamentos da NSA. "Há coisas que as pessoas não sabiam que existiam e coisas que as pessoas pensavam que estivessem perdidas há décadas."

No museu, que reabre em 8 de outubro, Houghton destaca artefatos únicos em meio a exposições repletas de máquinas estranhamente fascinantes de criação e decifração de códigos. Sua coleção se estende dos primeiros dias dos EUA até o presente. Da Segunda Guerra, há a máquina que quebrou a criptografia diplomática do Japão e outra que decifrou os códigos navais alemães. Há também uma máquina Enigma usada por Adolf Hitler, exibida atrás de um vidro, e outras que os visitantes podem tocar e usar.

Houghton disse que quase todos os artefatos que ele exibe atendem a um de três critérios: ser o único remanescente de seu tipo, o primeiro de algo ou ter sido usado por uma pessoa específica. "Eu chamo isso de santíssima trindade dos artefatos."

O museu mantém sua missão de explicar a criptologia a uma ampla parte do público. Ele reconhece algumas lacunas: há uma parede memorial e exibições que contam as histórias de criptologistas mortos em combate, mas, na maioria das vezes, o foco está nas máquinas e nos decifradores de código que as executaram.

Não há muito sobre os vira-casacas, no entanto. Uma exposição mostra as ferramentas que John Walker, um subtenente da Marinha e espião soviético, usou para tentar roubar códigos americanos para os russos. Mas não há menção a Edward Snowden, o contratado da NSA que revelou muitos segredos da agência e depois fugiu para a Rússia. (Como o caso é uma investigação em andamento do Departamento de Justiça, o museu é limitado no que pode contar.)

O Museu da CIA, por outro lado, tem vários exemplos de jogos de espionagem que terminaram em fracasso ou tragédia. Ele salienta as histórias de agentes acusados injustamente de serem espiões e expõe os danos causados pelos agentes soviéticos.

Entre os colaboradores cujo trabalho é celebrado está Adolf Tolkachev, engenheiro eletrônico de aviação que procurou a CIA várias vezes oferecendo ajuda, irritado com a perseguição dos pais de sua mulher sob Josef Stálin. Em 1978, ele chegou aos americanos e usou câmeras em miniatura para transmitir imagens de segredos russos.

O valor das informações de Tolkachev, que expandiram amplamente o conhecimento americano sobre mísseis e aviões de combate soviéticos, lhe rendeu o apelido de "o espião de US$ 1 bilhão". Embora ele fosse bom para obter documentos, não era muito para tirar fotos. O museu inclui uma câmera que a CIA construiu para Tolkachev, com uma distância focal fixa para garantir que as fotos ficassem menos desfocadas.

Mas sua história também termina mal. Aldrich Ames e Edward Lee Howard, agentes da CIA que trabalhavam para os russos, revelaram a identidade de Tolkachev. Ele foi preso em junho de 1985 e executado em 1986.

"Sinto que tenho uma responsabilidade: não pode ser uma versão entusiástica da história", disse Byer. "Os museus precisam contar a verdade."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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