Reconhecimento dos EUA a eleito no Brasil não virá de negociação com candidato, diz embaixada

Representação diplomática americana também volta a reforçar confiança no sistema eleitoral do país, em recado a Bolsonaro

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Washington

Três dias após o chefe da embaixada dos EUA no Brasil se reunir com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a representação diplomática do governo Biden divulgou nota segundo a qual o reconhecimento do resultado das eleições não virá de "negociação com qualquer candidato ou partido político".

E, em mais um recado a Jair Bolsonaro (PL) de que não compactuará com um golpe de Estado, a embaixada reafirmou confiar na Justiça eleitoral do país, alvo de ataques constantes do presidente.

O chefe da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Douglas Koneff, em encontro em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez ataques ao sistema eleitoral, em Brasília
O chefe da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Douglas Koneff, em encontro em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez ataques ao sistema eleitoral, em Brasília - Palácio do Planalto - 18.jul.22/Divulgação

"O eventual reconhecimento dos EUA virá ao candidato que vencer a eleição presidencial como resultado da nossa determinação sobre a integridade do processo eleitoral liderado pelo Tribunal Superior Eleitoral, não de uma negociação com qualquer candidato ou partido", diz nota da embaixada divulgada no Twitter.

"Nossa confiança nas eleições brasileiras tem sido claramente reforçada por vários funcionários do alto escalão do governo dos EUA e permanece inalterada."

Na quarta-feira (21), o ex-presidente e candidato ao Planalto Lula se reuniu com o encarregado de negócios do governo americano, Douglas Koneff, maior autoridade da administração Joe Biden no Brasil hoje. No encontro, Koneff defendeu a confiança no processo eleitoral brasileiro. Antes, o americano já havia se reunido com os candidatos Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).

O governo Biden tem dado uma série de recados às autoridades brasileiras de que não compactua com os questionamentos de Bolsonaro à integridade do processo eleitoral no país.

Nas celebrações do 7 de Setembro, após Bolsonaro manter a retórica golpista em eventos que na verdade tiveram caráter eleitoral, a porta-voz Karine Jean-Pierre afirmou que a Casa Branca está monitorando as eleições e reforçou que Washington confia nas instituições democráticas do Brasil.

No mesmo dia, em nota para celebrar os 200 anos da Independência, o secretário de Estado, Antony Blinken, realçou a importância do comprometimento com a democracia.

Em julho, após Bolsonaro convocar os embaixadores para disseminar tese golpista sobre a eleição, a representação de Washington em Brasília emitiu comunicado em que afirmou confiar no sistema eleitoral brasileiro, um "modelo para as nações". Dias depois, em conferência de ministros da Defesa das Américas, o secretário Lloyd Austin defendeu que as forças militares devem estar "sob firme controle civil".

No único encontro que teve até agora com Biden, Bolsonaro teria pedido ajuda para derrotar o favorito nas pesquisas, o ex-presidente Lula (PT), segundo a agência de notícias Bloomberg. Na reunião, em Los Angeles, o brasileiro repetiu que queria "eleições limpas, confiáveis e auditáveis"; o americano respondeu, segundo o Departamento de Estado, que "os EUA não toleram intervenção nas eleições de nenhum lugar".

Já setores mais à esquerda do Legislativo americano têm se manifestado de maneira mais incisiva. Em carta entregue por 31 deputados e oito senadores no início do mês ao presidente Biden, os parlamentares alertam para o risco de golpe e acusam Bolsonaro de ameaçar as instituições democráticas.

Além do documento entregue ao governo, a ala mais progressista do Congresso colocou na pauta do Senado e da Câmara moções pedindo que o Legislativo americano reconheça automaticamente o vencedor das eleições e interrompa parcerias militares e financeiras em caso de ruptura democrática.

O projeto foi articulado pelo senador Bernie Sanders, que recebeu em julho comitivas da sociedade civil brasileira alertando para o risco de golpe. Nesta semana, ele reclamou na tribuna do Senado da falta de adesão de representantes do Partido Republicano à moção. O ex-presidente Donald Trump, ainda hoje figura poderosa na legenda, manifestou apoio público a Bolsonaro nas eleições.

Na última quarta (21), Sanders afirmou a articulistas do jornal americano The Washington Post que a falta de adesão à moção tem relação com a proeminência de Trump no partido. "Suspeito que meus colegas do Partido Republicano não querem antagonizar com Trump", disse. "Isso diz um pouco sobre o estado da democracia neste país [EUA] e sobre o Partido Republicano."

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