Nova ofensiva de Kiev pega Rússia de surpresa no norte da Ucrânia

Com defesas reforçadas para o ataque no sul, Moscou perde áreas na região de Kharkiv

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São Paulo

A Rússia foi pega de surpresa pelo avanço de forças ucranianas numa nova ofensiva para tentar recapturar território ocupado por Moscou na invasão iniciada há seis meses.

Enquanto a primeira grande contraofensiva de Kiev se desenrola no sul do país, na região de Kherson, a Ucrânia aproveitou a fraca fortificação de posições russas perto da cidade de Kharkiv, a segunda maior do país, para fazer um segundo ataque.

Menina ucraniana em um skate elétrico passa por tanque russo destruído em Lukachivka, norte do país
Menina ucraniana em skate elétrico passa por tanque russo destruído em Lukachivka, norte do país - Serguei Tchuzavkov - 7.set.2022/AFP

Os relatos começaram a surgir há dois dias, e o presidente Volodimir Zelenski fez a usual celebração exagerada em seu pronunciamento noturno na quarta (7), falando em "boas notícias de Kharkiv". Desta vez, contudo, ele parece ter motivos para comemorar.

Segundo analistas russos ouvidos pela Folha, os ucranianos avançaram cerca de 30 km em direção a Izium, cidadezinha estratégica ocupada pelos russos desde o começo da guerra. Canais de conhecidos blogueiros militares russos no Telegram, como o Fighterbomber e o do jornalista Alexander Kots, publicaram relatos alarmados acerca da ação.

Segundo a mídia ucraniana, as defesas russas foram rompidas em Balaklia com o avanço de uma coluna de 15 tanques. A Força Aérea russa estaria tendo dificuldade de agir na área porque Kiev concentrou os poucos recursos antiaéreos de que dispõe na região, criando uma minizona de exclusão na prática. Segundo Fighterbomber, aviões estão usando até bombas de queda livre na tentativa de deter a ação.

Ao mesmo tempo, uma grande explosão numa subestação de energia deixou Belgorodo, cidade russa que faz fronteira com a região de Kharkiv, no escuro nesta madrugada. A prefeitura disse ter sido um acidente, mas sempre há a suspeita de ação de drones ou sabotadores, como já ocorreu na Crimeia ocupada.

Tudo isso cria dificuldades para os russos, que passaram cerca de um mês se reforçando ao sul, enquanto mantêm sua ofensiva para completar a tomada da região de Donetsk ainda sob controle ucraniano —Lugansk, a outra província que compõe o chamado Donbass (leste do país), já caiu para Moscou.

O diversionismo ao norte não ameaça, em princípio, o objetivo do controle do Donbass, mas terá de mobilizar recursos que parecem escassos para o Kremlin. O presidente Vladimir Putin se recusa a fazer uma declaração de guerra para mobilizar soldados para evitar desgaste político, e anunciou um aumento de efetivo de suas Forças Armadas em 137 mil homens a partir de 2023.

A ação ucraniana, contudo, deve ser vista com cautela, pois nada indica que Kiev tem os recursos para retomar toda a região de Kharkiv que está ocupada. A capital homônima é atacada desde o começo da guerra, mas nunca caiu, e os russos recuaram do cerco que faziam a ela já em abril e maio, estabelecendo as linhas ora sob ataque.

Foi a primeira mudança de fase do conflito, quando o fracasso em tomar Kiev, Kharkiv e outras cidades a norte levou Putin a concentrar fogo no Donbass, além de manter as posições conquistadas no sul, que criaram uma ponte terrestre entre o leste russófono e a Crimeia.

A terceira grande etapa veio no mês passado, com o início da contraofensiva ucraniana em Kherson. Kiev tem priorizado nessa ação vilarejos menores e linhas de suprimento russas, evitando ataques diretos a cidade —para tomá-las, acabaria tendo de destrui-las.

"Cada sucesso de nossos militares em uma direção ou outra muda a situação geral da frente de batalha em favor da Ucrânia", disse Zelenski, que não citou detalhes da ofensiva. Nesta quinta (8), ele falou em "mais de 1.000 quilômetros quadrados" recuperados.

Ele recebeu o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em Kiev. Washington acaba de liberar mais um pacote de armas para os ucranianos, incluindo sistemas de artilharia de longa distância que têm marcado suas ações contra as linhas russas, de US$ 675 milhões (R$ 3,5 bilhões hoje).

Os EUA também anunciaram uma ajuda de até US$ 2 bilhões (R$ 10,4 bilhões) não só para a Ucrânia, mas também para países que se sentem ameaçados pela Rússia, como os membros da Otan no Báltico e nações que não integram a aliança militar ocidental, como Moldova e Geórgia.

Na vizinha Belarus, aliada de Putin que permite o uso de seu território para atacar a Ucrânia, o governo anunciou exercícios militares junto à fronteira da rival Polônia, gerando tensão nas já difíceis relações entre os dois países.

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