Autor de massacre na Tailândia atirava no quintal e elogiou ataques anteriores

Ex-policial tinha histórico de violência e deixou rastro de mortes antes e depois de matar crianças em creche

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Tha Uthai (Tailândia) | Reuters

Panya Kamrab, o ex-policial que na última semana matou 36 pessoas, incluindo 22 crianças, a tiros e facadas na Tailândia, no pior massacre do tipo no país do Sudeste Asiático, tinha histórico de violência, segundo informações coletadas com vizinhos e ex-colegas de trabalho do homem de 34 anos.

Por várias noites, pessoas que moravam próximo a ele disseram ter escutado tiros disparados em seu quintal com sua pistola nove milímetros, uma das armas usadas por Kamrab no ataque realizado na cidade de Uthai Sawan, a 500 quilômetros da capital Bancoc.

Fachada da creche onde ex-policial da Tailândia matou mais de 20 crianças - Lillian Suwanrumpha - 7.out.22/AFP

"Como íamos denunciá-lo à polícia? Ele era a polícia", disse Phuwan Polyeam, 29, uma das vizinhas, que mora com dois filhos. O ex-policial vivia na província de Nong Bua Lamphu, a nordeste do país, com a namorada e o filho —que também assassinou.

Kamrab cresceu na vila de Tha Uthai e conquistou uma vaga em uma faculdade de direito de Bancoc. Ingressou na polícia e, em 2020, voltou para sua terra natal. No início deste ano, foi expulso da corporação por posse de drogas —e enfrentava um processo judicial.

Inicialmente acreditava-se que o policial pudesse estar sob o efeito de substâncias como metanfetamina no momento do crime. A autópsia realizada no dia dos assassinatos, a última quinta-feira (6), porém, não encontrou vestígios de drogas.

O vice-chefe da polícia tailandesa, o general Surachate Hakparn, disse à agência Reuters que o crime resultou de uma "emoção explosiva", apontando o acúmulo de problemas que Kamrab enfrentava —da demissão da polícia a problemas legais, financeiros e familiares.

No mesmo dia do massacre, o ex-policial teve uma audiência em um tribunal local sobre a acusação de porte de drogas. A sentença de seu caso seria anunciada no dia seguinte. Ao voltar para a casa, segundo relatos de pessoas próximas, ele não teria encontrado a namorada —que, mais cedo, teria comunicado a ele o fim do relacionamento.

Dali, Kamrab subiu em sua caminhonete e deu início a série de assassinatos, que começou com a morte a tiros de um homem que estava em uma motocicleta próximo a ele. Ao todo, a sequência dos ataques durou ao menos três horas, segundo reconstituição feita pela Reuters. Acumulam-se relatos de demora da ação policial.

Segundo disse à imprensa local uma autoridade de uma vila vizinha, Kamrab já havia elogiado anteriormente um massacre ocorrido em 2020, quando um soldado matou a tiros 29 pessoas e feriu outras 57 em quatro locais da cidade de Nakhon Ratchasima. O ex-policial teria dito que, fosse ele o atirador, teria matado ainda mais pessoas.

Outro vizinho relatou à Reuters que, dias antes do ataque, o chefe da aldeia procurou Kamrab para alertá-lo que seu comportamento vinha incomodando os residentes. Eles então discutiram, e o chefe, que não quis comentar o assunto, afastou-se por temer algum ato violento.

O maior número de vítimas do ex-agente está em uma creche da região, onde Kamrab atacou a facadas inclusive crianças que dormiam. Ele teria usado para o ataque uma espécie de lâmina que agricultores locais usam para trabalhar nas colheitas –na região, são comuns campos de arroz e cana de açúcar.

Da creche, ele voltou para perto de casa, onde foi questionado por vizinhos –ao menos dois foram mortos. Depois, incendiou sua caminhonete, matou a namorada e o filho e atirou em si próprio.

Uma das residentes, Suwan, disse ter se escondido em casa com os dois filhos, pedindo que ficassem em silêncio. Ela ligou mais de uma vez para a polícia em busca de ajuda. "Eles disseram que não havia policiais suficientes; levaram um tempo", relatou a tailandesa.

O país liderado pelo premiê Prayuth Chan-Ocha agora busca rever suas normas para posse de armas –Kamrab havia adquirido a pistola de maneira legal– e reforçar o combate ao tráfico de drogas.

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