Menina de 3 anos saiu ilesa de massacre na Tailândia por dormir embaixo de cobertor

Famílias de vítimas de ação em creche participam de cerimônias budistas em busca de conforto

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Uthai Sawan (Tailândia) | Reuters

Enquanto o horror acontecia na sala de aula de uma creche em Uthai Sawan, no nordeste da Tailândia, no canto do recinto uma menina de três anos dormia profundamente embaixo de um cobertor, que escondia inclusive seu rosto. Seus pais acreditam que foi isso que salvou sua vida.

Segundo eles, Paveenut Supolwong, apelidada de Ammy, normalmente tem sono leve, mas na hora da soneca da última quinta-feira (6), por algum motivo não acordou quando um homem invadiu o local armado.

Ammy foi a única criança da creche que escapou ilesa do massacre perpetrado pelo ex-policial Panya Kamrab, que matou 37 pessoas, incluindo 24 crianças de dois a cinco anos —a maioria a facadas. O episódio ocorreu no início da tarde, pelo horário local, na cidade a 500 quilômetros de Bancoc e terminou com o agressor matando a própria esposa e o filho de quatro anos antes de se suicidar.

O tailandês Tawatchai Supolwong com a filha Paveenut, 3, nos braços, sobrevivente do massacre na creche de Uthai Sawan - Jorge Silva - 9.out.22/Reuters

Como a polícia informou na sexta-feira (7), três meninos e uma menina sobreviveram, depois de serem atingidos com facadas na região da cabeça —os quatro foram atendidos por neurocirurgiões e estão em condição estável.

"Eu sinto muito pelas outras famílias, ao mesmo tempo que estou feliz que minha filha tenha sobrevivido. É um misto de tristeza e gratidão, estou em choque", disse a mãe de Ammy, Panompai Sithong. "Ela não tem sono profundo. Acredito que devia haver espíritos cobrindo seus olhos e ouvidos."

Outro parente disse à imprensa local que a sobrevivência dela foi um milagre.

Neste domingo (9), a casa da família recebeu jornalistas, que queriam saber da história da menina, enquanto parentes e vizinhos dividiam reflexões sobre a tragédia e Ammy brincava no quintal com um vestido florido e um amuleto amarrado em volta do pescoço.

Seus pais disseram que ela parece não se lembrar do massacre. Depois que o ex-policial deixou a creche, alguém a encontrou se mexendo em um canto da sala —e a resgatou mantendo sua cabeça sob a coberta para que ela não visse os corpos dos colegas; 11 deles morreram no local.

Um deles foi Techin, de dois anos, o melhor amigo de Ammy. "Ela estava perguntando à avó: 'Por que você não pega Techin na escola?'", contou a mãe, deixando claro que ela ainda não sabe a extensão da tragédia que viveu.

O massacre se tornou um dos mais mortais da história da Tailândia e abalou o país. O rei Maha Vajiralongkorn visitou o hospital para onde feridos foram levados, e o primeiro-ministro Prayuth Chan-Ocha deixou flores na creche e se encontrou com as famílias das vítimas; seu porta-voz afirmou que o governo fará o possível para cuidar dos atingidos.

Durante o funeral das vítimas, na sexta, parentes chegaram a desmaiar e tiveram que ser atendidos por médicos. Além dos mortos, o ataque deixou ao menos 12 feridos —segundo as autoridades, em um intervalo de duas horas o agressor ainda atropelou várias pessoas ao fugir da creche e atirou em vizinhos.

Na cidade de Uthai Sawan, poucos não se viram afetados pelo massacre. Na tarde deste domingo, um líder religioso conduziu uma cerimônia budista para confortar crianças que passam por experiências negativas. A família de Ammy acompanhou o serviço, com a menina sentada no colo da mãe e brincando com duas velas que segurava; seus pulsos foram amarrados com fios brancos para dar sorte.

Ao fim da cerimônia, parentes espirraram vinho de arroz de uma tigela de prata uns nos outros e gritaram votos de conforto —um raro momento de alegria em uma cidade mergulhada na dor.

Desde a madrugada de domingo, famílias das vítimas se reúnem em templos onde os caixões estão sendo mantidos. De acordo com as tradições locais, eles levam guloseimas e brinquedos para as almas dos mortos.

O episódio é um dos piores ataques solo envolvendo crianças da história. Em 2011, na Noruega, o militante da ultradireita Anders Brevik matou 69 pessoas, adolescentes em sua maioria, em uma colônia de férias. Outros casos incluem o massacre de Dunblane, na Escócia, em 1996, em que morreram 16 crianças; e o de Uvalde, no Texas, este ano, em que 19 crianças foram mortas.

A Tailândia é um dos países com o maior número de armas em circulação do mundo, e autoridades há muito se preocupam com o potencial de violência armada.

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