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Dois irmãos confessam participação em assassinato de jornalista maltesa

Daphne Galizia foi morta em 2017 em um atentado a bomba; número de envolvidos em crime chega a 4

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Valletta | Reuters

Dois irmãos admitiram nesta sexta-feira (14) estarem envolvidos no assassinato da jornalista maltesa Daphne Caruana Galizia em 2017. Alfred e George Degiorgio haviam sido formalmente acusados dos crimes de homicídio, causar explosão fatal e conspiração.

A confissão representou uma reviravolta logo no início do julgamento do caso, já que ambos haviam dito serem inocentes nas alegações iniciais. "Não sabem quem matou Daphne? Seus amigos! Investiguem!", disse George. Depois de um intervalo na sessão, o advogado dos irmãos, Simon Micallef Stafrace, afirmou que eles concordavam em reconhecer a culpa em troca de uma pena mais branda.

Em uma entrevista à agência Reuters no começo deste ano, o mesmo George Digiorgio tinha admitido sua participação no assassinato, dizendo se tratar de "negócios". A defesa antecipou então que os irmãos pediriam clemência, propondo falar "tudo o que sabem sobre outros assassinatos, bombas e crimes".

Manifestantes erguem cartazes com o rosto da jornalista Daphne Caruana Galizia em protesto em Valletta, capital de Malta - 29.nov.19/AFP

No julgamento desta sexta, o pedido de perdão não foi aceito. O júri, composto por cinco homens e quatro mulheres, foi instruído a considerar apenas o que fosse dito no tribunal. Ao final, Alfred e George Degiorgio foram condenados a 40 anos de prisão cada um —eles podiam pegar prisão perpétua.

Paul Caruana Galizia, um dos três filhos da repórter, celebrou a condenação.

Com as confissões, chega a quatro o número de pessoas que admitiram participação no crime. Um quinto suspeito, Yorgen Fenech, também está preso e aguarda julgamento. O Ministério Público de Malta acusa o empresário de ter encomendado o assassinato —ele nega.

Segundo essa versão, os Degiorgios e outro cúmplice, Vincent Muscat, planejavam atirar em Galizia, mas conseguiram uma bomba, que foi colocada no carro da jornalista. George teria detonado o artefato, de um iate na costa, enquanto os outros dois atuavam como observadores.

Muscat admitiu no ano passado sua participação no crime, firmando um acordo judicial em troca de informações, e cumpre pena de 15 anos de prisão.

A acusação foi em base reconstituída a partir do depoimento e de gravações telefônicas do quarto envolvido, acusado de ser um intermediário da trama. Melvin Theuma recebeu um perdão presidencial em troca de informações no final de 2019. Ele que apontou Fenech como mandante.

O empresário foi preso em novembro de 2019; os Degiorgios e Muscat, em dezembro de 2017.

Galizia, 53, era uma jornalista de renome em Malta e havia sido apontada pelo site Politico como uma das personalidades que estava "transformando e sacudindo" a Europa. Em reportagens, ela havia revelado a existência de uma empresa secreta que desviava fundos para firmas ligadas a autoridades do país registradas no Panamá —parte dos chamados Panama Papers.

Policiais examinam área da explosão do carro da jornalista Daphne Caruana Galizia, em Bidnija - Darrin Zammit Lupi - 16.out.17/Reuters

Uma apuração posterior da agência Reuters apontou que a empresa secreta pertencia a Fenech. Ele liderou um consórcio que recebeu em 2015 um contrato controverso do governo maltês para construir uma usina. Sua prisão levou à renúncia de ao menos duas autoridades, incluindo o então premiê, Joseph Muscat, que negou qualquer envolvimento na morte de Galizia e não foi acusado –apesar do sobrenome em comum, ele não é parente do acusado Vincent.

O assassinato, em 16 de outubro de 2017, quando a repórter saía de casa, em Mosta, levantou uma série de questões sobre o Estado de Direito no menor país-membro da União Europeia, em uma fase de perseguições à imprensa em diferentes países do bloco.

Neste domingo (16), os cinco anos do crime serão lembrados com uma manifestação que deve ter a participação da presidente do Parlamento Europeu, a maltesa Roberta Metsola.

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