Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia nomeia novo comandante para a Guerra da Ucrânia após reveses

Decisão foi anunciada no mesmo dia em que símbolo da ocupação russa foi parcialmente destruído

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Moscou | Reuters e AFP

No mesmo dia em que a ponte que conecta o território russo à península da Crimeia foi parcialmente destruída em uma explosão, o Kremlin anunciou neste sábado (8) a nomeação de um novo comandante para a Guerra da Ucrânia. A mudança se dá em meio a uma série de reveses das tropas de Moscou nos campos de batalha e à crescente pressão sobre o presidente do país, Vladimir Putin.

O general Serguei Surovikin, 55, foi nomeado comandante para o que Moscou ainda chama de "operação militar especial" no país vizinho. Ele é veterano da guerra civil no Tadjiquistão, nos anos 1990, da segunda guerra da Tchetchênia, nos anos 2000, e da intervenção russa na Síria, lançada em 2015.

Tanques de guerra russos abandonados na região de Kharkiv, na Ucrânia
Tanques de guerra russos abandonados na região de Kharkiv, na Ucrânia - Yasuyoshi Chiba - 30.set.22/AFP

No conflito em território ucraniano, iniciado em fevereiro, Surovikin liderava o agrupamento das forças ao sul do país invadido, segundo relatório divulgado em julho pelo Ministério da Defesa da Rússia. "Surovikin sabe como lutar com bombardeiros e mísseis. É isso que ele faz", definiu meses atrás o general Kirilo Budanov, chefe do serviço de inteligência militar ucraniano.

De acordo com o jornal The New York Times, o general, prestigiado por ter experiência também na Força Aérea, é conhecido ainda pela brutalidade e por casos de corrupção. A ONG Human Rights Watch informou em 2020 que ele estava entre os militares que poderiam ser responsabilizados por violações no conflito da Síria.

No passado, Surovikin ficou ao menos seis meses preso depois que soldados sob seu comando assassinaram três manifestantes em Moscou, em meio a uma tentativa fracassada de golpe de Estado, em 1991, na então União Soviética. Ele acabou libertado sem julgamento.

A lista de controvérsias ainda inclui uma punição por comércio ilegal de armas em 1995, segundo a Fundação Jamestown, um think tank em Washington —condenação que teria sido posteriormente anulada. Ao New York Times, um analista definiu o militar como "comandante bastante implacável, seco com os subordinados e conhecido por seu temperamento".

Não se sabe exatamente se Surovikin assumirá um cargo novo ou substituirá alguém, porque nunca houve oficialmente um comandante único designado para a guerra. Relatos anteriores, de toda forma, apontavam um papel de destaque para o general Alexander Dnornikov, outro veterano da segunda guerra tchechena e comandante das forças russas na Síria de 2015 a 2016. Segundo a inteligência militar britânica, ele havia sido nomeado em uma tentativa de "centralizar comando e controle".

O general Serguei Surovikin - Reprodução

A substituição de agora indicaria que a missão atribuída a Dnornikov não teve êxito. Outros relatos apontam, porém, que na prática Surovikin já era o comandante —fazendo do anúncio mera formalidade.

"Isso não vai resolver todos os problemas russos, que são falhas institucionais profundamente enraizadas", disse ao NYT Frederick B. Hodges, ex-comandante do Exército americano na Europa. Um sinal positivo para Putin, porém, veio na forma de comunicado do fundador do grupo mercenário Wagner, Ievguêni Prigojin. Ele, que fez críticas à condução da guerra nesta semana, endossou Surovikin, chamando-o de lendário e "o mais competente comandante do Exército".

Neste sábado, em meio à contraofensiva ucraniana, Moscou sofreu novo revés com a explosão que destruiu parte da única ponte que conecta o território russo à península da Crimeia, anexada pelo Kremlin em 2014. A estrutura é considerada rota crucial de abastecimento para as tropas de Putin.

Autoridades russas afirmaram que a explosão foi provocada pela detonação de um caminhão-bomba, o que na sequência provocou um incêndio em sete tanques de um trem que transportava combustível. Ao menos três pessoas morreram, segundo informações preliminares.

O episódio, que resultou em mais uma guerra de versões e levou Putin a determinar um reforço na segurança local, se dá num momento em que as forças ucranianas registram êxitos em sua contraofensiva. Os reveses no front aumentaram a pressão sobre Putin, que determinou no mês passado a mobilização de 300 mil reservistas para lutar no conflito.

Com a decisão, o mandatário russo registrou a primeira queda de sua popularidade em sete meses de guerra —a aprovação caiu de 83% para 77%, segundo o instituto independente Levada.

Nas últimas semanas, as tropas russas sofreram derrotas no nordeste e no sul da Ucrânia, sendo expulsas da maior parte da região de Kharkiv, perdendo cerca de 500 quilômetros quadrados na região de Kherson e escapando de um cerco em Liman.

O desempenho fez o comando militar russo receber críticas até de aliados de Putin. No mês passado, o líder tchetcheno Ramzan Kadirov afirmou que o momento do conflito era surpreendente.

Também em setembro, a Rússia anunciou a substituição de seu mais alto comandante militar encarregado de questões logísticas. O general Dmitri Bulgakov foi dispensado como vice-ministro da Defesa e substituído pelo coronel-general Mikhail Mizintsev, que dirigia o Centro de Controle da Defesa Nacional.

Em agosto, o regime de Putin nomeou o almirante Viktor Sokolov como novo comandante da estratégica Frota do Mar Negro, em substituição a Igor Osipov, em meio a uma onda de ataques contra a Crimeia.

Com The New York Times

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