Putin isenta estudantes de ir à Ucrânia após 1ª queda de aprovação desde a guerra

Segundo pesquisa, 47% dos russos reagiram com 'horror e ansiedade' à mobilização para lutar na Ucrânia

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São Paulo

Com quase metade dos russos expressando "horror e ansiedade" ante a mobilização de 300 mil reservistas para lutar na Ucrânia e a primeira queda de sua popularidade desde a invasão do vizinho em fevereiro, o presidente Vladimir Putin resolveu dar uma resposta simbólica às críticas que vem recebendo.

Elas vieram mesmo de aliados ferrenhos de seu governo. O líder anunciou nesta quarta (5) um novo decreto ampliando para uma série de categorias de estudantes a isenção de obrigatoriedade de responder ao criticado alistamento para a Guerra da Ucrânia.

Reservista russo dispara uma granada propelida por foguete em treinamento na região de Donetsk
Reservista russo dispara uma granada propelida por foguete em treinamento na região de Donetsk - Alexander Ermotchenko - 4.out.2022/Reuters

O russo citou o texto durante um encontro com professores, que foi televisionado, nesta quarta (5). Estarão livres de lutar alunos de algumas universidades privadas e estudantes de pós-graduação de disciplinas técnicas específicas. Não se sabe o universo de pessoas afetado, mas é uma resposta às imagens de mães chorando a partida de filhos.

Quando decretou a mobilização parcial e a anexação de quatro regiões ucranianas, em 21 de setembro, Putin trouxe o impacto até então distante do conflito que iniciou em fevereiro para dentro dos lares russos de forma inédita.

O único instituto de pesquisas ainda independente na Rússia, o Centro Levada, publicou a primeira pesquisa sobre o impacto da medida na percepção local da guerra. Nada menos do que 47% disseram ter sentido "horror e ansiedade" com a medida, ante 23% que se disseram chocados e 13%, com raiva. Relataram orgulho patriótico 23%.

Disseram-se muito preocupados com a guerra 56% dos ouvidos, ante 37% em agosto. Houve uma inversão na curva daqueles que acham que a ação deve continuar e os que gostariam de ver uma negociação de paz.

Os primeiros eram 48% em agosto e agora são 44%, enquanto os segundos passaram de 44% para 48%. São números dentro da margem média de erro de dois pontos, mas podem indicar tendência. O apoio em si à guerra seguiu alto, mas com oscilação negativa: de 76% para 72%

Ainda pior para o Kremlin, a aprovação de Putin caiu de 83% para 77%. Antes da guerra, ela estava em 71%, saltou para os 83% e oscilou por lá desde então. Claro, seriam números invejados por qualquer governante ocidental, mas para o russo é questão de sobrevivência política. O arcabouço de poder montado por ele em duas décadas pressupõe que a elite o apoie e que ele se mantenha popular. O Levada ouviu 1.600 pessoas de 22 a 28 de setembro.

A mobilização foi caótica, mas parece estar se estabilizando: o Ministério da Defesa fala em mais de 200 mil alistados já enviados para treinar. Cada região russa aplicou regras próprias, e ao fim as linhas iniciais delineadas pelo Ministério da Defesa foram desrespeitadas.

Assim, diversos cidadãos que haviam sido recrutas no serviço militar acabaram arrolados mesmo tendo mais de 35 anos, a idade limite das regras da Defesa, por exemplo. Isso levou a críticas inauditas de gente como Margarita Simonian, a poderosa editora-chefe da rede de TV estatal RT, considerada uma das propagandistas mais importantes de Putin.

A condução da guerra, especialmente com o sucesso da contraofensiva de Kiev que retomou a região ocupada em Kharkiv (nordeste) e a pressão agora em Donetsk e Kherson, duas das áreas anexadas formalmente nesta quarta, levaram aliados na linha dura do regime como o tchetcheno Ramzan Kadirov a criticar o comando militar.

Houve um êxodo de pessoas que moravam perto de fronteiras de países que não exigem o visto russo. Só na primeira semana da mobilização, o Cazaquistão contou 100 mil vizinhos entrando em seu território. Esse fluxo amainou lá e em países como a Geórgia, até porque Moscou começou a controlar mais a emissão de passaportes.

E há também histórias abundantes de autoridades locais forçando o alistamento em escolas e até prisões. O Kremlin reconheceu que havia problemas na execução da ordem, e fez um gesto de saída para a classe média ao isentar da convocação uma série de profissões urbanas vitais para a economia, como trabalhadores de TI e de bancos, além de classes com alguma influência, como jornalistas.

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