Governo da Catalunha perde maioria no Parlamento sob críticas por aproximação com Madri

Crise política estoura a três dias do 5º aniversário de independência unilateral

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Barcelona | Reuters e AFP

A três dias do 5º aniversário da independência unilateral da Catalunha, a região autônoma da Espanha voltou a ser alvo de crises políticas. Nesta sexta (7), o governo local perdeu maioria no Parlamento após seu principal aliado abandonar a coalizão por discordar do tom ora relativamente amistoso entre Barcelona e Madri.

Hoje, a Catalunha é governada pelo presidente Pere Aragonès, filiado ao pró-independência Esquerra Republicana (ERC). A legenda —que divide com o Partido Socialista Catalão (PSC), contrário à separação da Espanha, o posto de maior do Parlamento— vinha governando numa aliança com o Junts, do ex-presidente Carles Puigdemont.

Catalães seguram bandeira do movimento pró-independência da região durante a 28ª edição da competição 'torres humanas', em Tarragona, na Espanha
Catalães seguram bandeira do movimento pró-independência da região durante a 28ª edição da competição 'torres humanas', em Tarragona, na Espanha - Josep Lago -2.out.22/AFP

O Junts, porém, passou a se queixar do tom das conversas de Aragonès com o premiê espanhol, Pedro Sánchez, sobre a independência. O ERC é a favor de uma negociação com Madri para chegar a um referendo e ampliar o apoio dos catalães à saída da Espanha; o partido de Puigdemont defende uma retórica mais agressiva.

Não à toa os conflitos separatistas de 2017 se deram sob o governo do político, que mobilizou milhares de pessoas a ir às ruas protestar contra Madri e organizou uma consulta popular unilateral —que terminou com 90,09% dos votos favoráveis à separação do território, em um dia marcado pela violência policial.

Na prática, porém, o resultado não entrou em vigor. A votação tinha sido proibida pela Justiça e, por isso, defensores da manutenção da Catalunha na Espanha boicotaram o pleito. Assim, a vitória do movimento pró-independência não foi reconhecida e, dois anos depois, líderes separatistas acabaram condenados por sedição –inclusive Puigdemont, que fugiu para Bruxelas.

A atual discordância do Junts atingiu tensão máxima na semana passada, quando líderes do partido ameaçaram pedir um voto de confiança contra Aragonés sob a justificativa de que o presidente estava pouco comprometido com a independência. O líder se irritou com o tom dos aliados e afastou seu vice-presidente, filiado ao partido de Puigdemont.

O movimento desagradou ainda mais o Junts, que convocou uma votação para decidir o futuro da coligação. Nesta sexta, o resultado, com uma abstenção de 20%, mostrou que 55,7% dos filiados preferem o fim da aliança.

"O governo de Pere Aragonès é falido", disse a presidente do Junts, Laura Borràs. "Perdeu a legitimidade democrática e priorizou os pactos com o Partido Socialista [legenda de Pedro Sánchez] em vez de priorizar acordos que permitiram sua posse."

Até agora, porém, a ruptura não causou o fim do governo de Aragonès na prática. Dias antes, seu partido havia descartado a possibilidade de convocar novas eleições em caso de rompimento com o Junts e, nesta sexta, o presidente afirmou que seria irresponsável deixar a Catalunha sem um governo.

Ainda assim, é incerta a capacidade do ERC de liderar um governo de minoria, com só 33 cadeiras das 135 do Parlamento. Analistas apontam que Aragonès precisará se aproximar ainda mais dos socialistas, aliados de Madri.

O primeiro-ministro espanhol lamentou a crise. "Nesses tempos difíceis e complexos, a estabilidade dos governos é essencial", disse Sánchez a jornalistas em Praga, onde participa de uma cúpula da União Europeia. Estabilidade, por ora, não parece factível na região.

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