Descrição de chapéu União Europeia

Assembleia da França suspende deputado acusado de racismo contra colega

Gregoire de Fournas disse 'volte para a África' enquanto parlamentar negro discursava sobre migração

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Paris | Reuters

A Assembleia Nacional da França cortou, nesta sexta-feira (4), metade do salário do deputado acusado de proferir palavras racistas contra um colega negro em uma sessão parlamentar no dia anterior. Gregoire de Fournas, filiado a um partido de ultradireita, também ficará proibido de entrar no Parlamento por 15 dias.

Na quinta (3), o deputado gritou "volte para a África" enquanto o parlamentar de esquerda Carlos Martens Bilongo discursava sobre políticas de imigração no país. A frase causou reações de outros parlamentares, e a confusão levou a presidente da Assembleia Nacional, Yaël Braun-Pivet, a interromper as atividades.

Devido à fonética francesa, há dúvidas em relação a quem Fournas se dirigiu, uma vez que ele também pode ter dito "voltem para a África", referindo-se a cerca de mil migrantes do continente atualmente presos no mar Mediterrâneo em um barco de resgate de uma ONG —o que não muda a gravidade da declaração.

Essa versão, aliás, é a adotada pelo deputado e por seu partido, o Reunião Nacional, à mídia. "É uma manipulação para distorcer minhas declarações, como se eu tivesse dito coisas desagradáveis sobre um colega deputado francês, que tem a mesma legitimidade que eu nesta Casa", afirmou Fournas na quinta.

Na mesma linha, Marine Le Pen, líder da ultradireita francesa e também filiada ao Reunião Nacional, disse que, "obviamente, o deputado falava sobre os migrantes transportados em barcos por ONGs". Segundo ela, as medidas tomadas contra Fournas na Assembleia representam uma violação do direito à liberdade de expressão e "a polêmica criada pelos adversários políticos não enganará os franceses".

A frase, de certa forma, vai em direção contrária à recém-guinada política da ultradireitista, antes encarada como radical. Le Pen moldou sua imagem e a de seu partido nos últimos anos para tentar convencer os eleitores de que eles se moveram para um suposto conservadorismo tradicional.

Os deputados franceses Gregoire de Fournas, do partido de ultradireita Reunião Nacional, e Carlos Martens Bilongo, do França Insubmissa, de esquerda
Os deputados franceses Gregoire de Fournas, do partido de ultradireita Reunião Nacional, e Carlos Martens Bilongo, do França Insubmissa, de esquerda - Assembleia Nacional da França/Divulgação/AFP

As reações desta sexta, porém, fizeram com que muitos no governo centrista de Emmanuel Macron e na esquerda dissessem que o episódio escancarou a "verdadeira face" do Reunião Nacional. O partido de Le Pen –o segundo maior na Assembleia– foi o único a votar contra as medidas.

Para Braun-Pivet, presidente da Assembleia Nacional, "o debate democrático livre não permite tudo, especialmente o racismo, seja quem for o alvo". Bilongo, por sua vez, disse acreditar que a frase era dirigida a ele. "É vergonhoso que eu tenha ficado reduzido à cor da minha pele", afirmou.

O deputado de origem congolesa recebeu diversas manifestações de solidariedade. A primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, disse que o racismo "não tem lugar na democracia", e aliados de Macron afirmam que o chefe do Eliseu definiu as palavras do ultradireitista como intoleráveis.

Ainda nesta sexta, centenas de manifestantes se reuniram em frente ao Parlamento antes da votação. "Sou negro, e essas palavras já foram dirigidas a mim antes. Ouvi-las na Assembleia Nacional é chocante. Tem de ser a última vez", disse Pedro Filipe, 19, estudante que se juntou ao protesto.

O incidente se dá depois de o governo francês anunciar uma série de medidas contra a imigração irregular, em meio a acusações de grupos de direita e de ultradireita de que as políticas atuais são insuficientes para barrar imigrantes que tiveram suas autorizações de residência negadas.

O governo defendeu, nesta semana, a criação de uma autorização de residência para quem se encontra em situação irregular no país, com a condição de trabalhar em setores com escassez de mão de obra.

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