Um deputado da ultradireita foi acusado de cometer um ato de racismo nesta quinta-feira (3) contra um parlamentar negro de esquerda na Assembleia Nacional da França.
A declaração de Grégoire de Fournas em um debate sobre migração, num momento de tensão sobre a política do governo Macron para o setor, provocou indignação dos pares, e a sessão teve de ser encerrada.
Devido à fonética francesa, há dúvidas em relação a quem Fournas se dirigiu —o que não atenua o teor da fala. Durante a discussão que levantou questões sobre a chegada de imigrantes ao país, ele teria gritado "volte para a África", no singular, interrompendo fala de Carlos Martens Bilongo, de origem congolesa.
Outra possibilidade é que ele tenha dito "voltem para a África", referindo-se a imigrantes de forma geral.
De uma forma ou de outra, as palavras geraram reações de outros parlamentares, e a confusão levou a presidente da Assembleia Nacional, Yaël Braun-Pivet, a interromper as atividades.
A sigla de ultradireita Reunião Nacional, de Marine Le Pen, diz que o deputado se referia às embarcações que transportam imigrantes, mencionadas por Bilongo, não ao colega. Já a legenda França Insubmissa, de ultraesquerda e liderada por Jean-Luc Mélenchon, afirma que a declaração foi feita ao parlamentar.
"É uma manipulação para distorcer minhas declarações, como se eu tivesse dito coisas desagradáveis sobre um colega deputado francês, que tem a mesma legitimidade que eu nesta Casa", afirmou Fournas.
Bilongo disse acreditar que a frase era dirigida a ele e manifestou tristeza pelo ocorrido. "É vergonhoso que eu tenha ficado reduzido à cor da minha pele."
O parlamentar de origem congolesa recebeu diversas manifestações de solidariedade. A primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, afirmou que o racismo "não tem lugar na democracia". Aliados de Emmanuel Macron dizem que o presidente francês definiu as palavras do ultradireitista como intoleráveis.
A Assembleia Nacional deve se reunir novamente nesta sexta-feira (4). A França Insubmissa anunciou que solicitará a "expulsão por vários meses" do parlamentar.
O incidente se dá depois de o governo francês anunciar uma série de medidas contra a imigração irregular, em meio a acusações feitas por grupos de direita e ultradireita de de que as política atuais são insuficientes para expulsar imigrantes que tiveram suas autorizações de residência negadas.
O governo defendeu, nesta semana, a criação de uma autorização de residência para quem se encontra em situação irregular no país, com a condição de trabalhar em setores com escassez de mão de obra.
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