Esta é a edição da newsletter China, terra do meio. Quer recebê-la todas as sextas no seu email? Inscreva-se abaixo.
Presente na reunião do G20 em Bali, Xi Jinping foi flagrado em uma conversa dura com o premiê canadense, Justin Trudeau na quarta (16) (veja o vídeo abaixo). Nos bastidores da conferência que reúne os líderes das 20 maiores economias do mundo, o líder chinês abordou Trudeau para reclamar do vazamento de informações compartilhadas a portas fechadas.
O que Xi disse: "Tudo o que discutimos vazou para os jornais, e isso não é apropriado. Não é assim que a conversa deve ser conduzida. Se houver sinceridade de sua parte, conduziremos nossa discussão com uma atitude de respeito mútuo, caso contrário, pode haver consequências imprevisíveis".
A resposta de Trudeau: "Acreditamos [no Canadá] em um diálogo livre, aberto e franco". Ele então defende que, embora espere "continuar a trabalhar construtivamente juntos, haverá coisas em que discordamos".
Xi retrucou imediatamente: "vamos criar as condições para isso primeiro", se afastando do premiê logo em seguida.
Segundo a imprensa canadense, Xi se referia a reclamações de Trudeau em uma reunião fechada sobre o suposto financiamento chinês a 11 candidatos parlamentares no Canadá.
Embora trocas ásperas não sejam incomuns em cúpulas internacionais, Xi raramente se expõe em situações de embate.
-
Todas as suas aparições são cuidadosamente ensaiadas para evitar repercussões negativas. Talvez por isso, a chancelaria chinesa foi rápida ao tentar suavizar o tom da conversa;
-
A conversa entre Xi e Trudeau também foi censurada na China e não foi exibida pelas redes de TV.
"Foi de fato uma breve conversa que ambos os líderes tiveram durante a cúpula do G20. Isso é muito normal. Não acho que deva ser interpretado como o presidente Xi criticando ou acusando alguém", disse Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês.
Por que importa: o diálogo pouco amistoso entre Xi e Trudeau é apenas um sinal do quão azeda a relação sino-canadense se tornou. Três acontecimentos explicam esse cenário:
- A prisão de Meng Wanzhou em solo canadense em 2018. Ela é filha do fundador da Huawei, diretora financeira da companhia e foi detida no aeroporto de Vancouver a pedido dos Estados Unidos por supostamente violar sanções ao Irã.
- A China respondeu prendendo os canandenses Michael Kovrig e Michael Spavor sob acusações de espionagem e o assunto só foi resolvido no ano passado.
- Recentemente, a chanceler canadense, Melanie Joly, afirmou que a China está se tornando "uma potência global cada vez mais disruptiva" e que os "desafia quando foi preciso e cooperaria quando for possível".
o que também importa
Um oficial da inteligência chinesa responsável por conduzir a força tarefa de combate à corrupção confessou na quinta ter recebido suborno.
Liu Yanping era chefe disciplinar do Ministério da Segurança de Estado e disse ter recebido mais de ¥ 234 milhões (cerca de R$ 176 milhões). Ele é acusado de pertencer a uma "gangue política" comandada por Sun Lijun, ex-vice ministro da Segurança Pública e figura próxima do ex-líder chinês Hu Jintao.
Com a confissão, o tribunal de Changchun suspendeu a sessão e vai anunciar a sentença em data posterior. Li também é acusado de "deslealdade a Xi Jinping", ofensa pelo qual foi alvo de um documentário exibido na emissora estatal CCTV no início do ano.
A montadora chinesa BYD vai expandir as operações e fabricar dois novos modelos de carros elétricos no Brasil, informou a Reuters.
O presidente da empresa para as Américas, Stella Li, afirmou que "agora é o momento político e ambiental certo para investirmos na construção dessas novas tecnologias no Brasil".
Ela pediu que o novo governo do presidente eleito Lula (PT) tenha "cabeça aberta para que esta tecnologia [carros elétricos] floresça".
A empresa está em Campinas e quer produzir os novos veículos na Bahia, após assinar um acordo com o governo estadual para aproveitar as instalações deixadas pela americana Ford.
fique de olho
Após se encontrarem presencialmente em Bali para o G20, Joe Biden e Xi Jinping colocaram panos quentes e decidiram retomar a cooperação entre os dois países na esfera climática. As negociações estavam paralisadas desde a visita da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan. A retomada no assunto animou os negociadores presentes em outra reunião importante: a COP 27, sediada no Egito.
Por que importa: a declaração conjunta dos dois líderes no G20 dando carta verde para o restabelecimento do diálogo melhorou a relação entre as duas delegações no Egito.
-
Os enviados dos EUA e China para a questão climática, John Kerry e Xie Zhenhua, não tiveram nenhuma reunião oficial durante a COP 27, mas foram vistos conversando informalmente em pelo menos sete ocasiões.
-
A ministra para o clima da Espanha, Teresa Ribera, foi uma das presentes a reagir, dizendo estar "esperançosa que esta reaproximação revigore as negociações entre os dois maiores [países] emissores [de CO2]".
para ir a fundo
- A USP realiza nos próximos dias 17, 21 e 23 de novembro uma mini-mostra cinematográfica com produções chinesas. O evento acontece no Auditório A da Escola de Comunicação e Artes às 19h e vai exibir as produções "Adeus, minha concubina", "Havana Divas" e "Viver para Cantar". (gratuito)
-
No seu último episódio gravado no Brasil, o linguista Calebe Guerra fala no seu podcast de literatura chinesa BiYiNiao do Livro sobre medo e coragem na ótica confucionista. (gratuito, em português)
-
Na Observa China, Francisco Falsetti Xavier e Carlos Renato Ungaretti discutem sobre a candidatura argentina aos BRICS, elencando as possíveis implicações para a diplomacia e comércio brasileiros. (gratuito, em português)
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.