Uma cena do líder da China, Xi Jinping, reclamando do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, durante a cúpula do G20 na Indonésia chamou a atenção nesta quarta-feira (16). O chinês ficou irritado por, segundo ele, o governo canadense ter vazado para a imprensa informações sobre o conteúdo da conversa entre os dois no dia anterior.
"Tudo o que discutimos vazou para os jornais. Isso não é apropriado, não fazemos dessa forma", disse Xi em mandarim, com um sorriso tenso. "Se houver sinceridade, podemos nos comunicar bem com respeito mútuo; caso contrário, o resultado não será fácil de contar." A espécie de bronca foi registrada pela mídia canadense e, de certa forma, contrasta com o perfil mais discreto do líder chinês.
O descontentamento de Xi está ligado, provavelmente, aos relatos da imprensa de que o canadense abordou com o chinês os supostos episódios de espionagem do país asiático e a interferência da ditadura nas eleições do Canadá.
Oficialmente, o país da América do Norte não divulgou nenhum documento sobre a reunião. Após o encontro de terça, Trudeau disse em entrevista que seu governo precisa trabalhar com o gigante asiático porque "a China é um importante ator global na economia e tem um impacto muito grande nos eventos ao redor do mundo".
O premiê ainda ressaltou que não deixará de defender os princípios canadenses, como a defesa dos direitos humanos —a ditadura chinesa é acusada de perseguir a minoria muçulmana uigur na região de Xinjiang. "As pessoas sabem que nem todas as conversas serão fáceis com os outros líderes, especialmente quando se trata de questões que são fontes de desacordo", acrescentou.
Nesta quarta, ao ouvir a reclamação de Xi, o premiê respondeu: "No Canadá acreditamos em um diálogo livre, aberto e franco. Continuaremos a procurar trabalhar juntos de forma construtiva, mas haverá coisas em que discordamos".
A fala não citou os vazamentos e foi interrompida pelo líder chinês, que, de forma apressada, disse que o canadense deveria "criar condições" para essa parceria. O climão acabou com um sorriso de lado e um aperto de mão entre os dois.
O curto diálogo escancara as tensões entre os países desde que uma executiva da empresa chinesa Huawei foi presa no Canadá, em 2018, sob acusações de fraudes bancárias. Como resposta, Pequim ordenou a prisão de dois canadenses que estavam no país asiático. Todos os três foram liberados posteriormente.
Além disso, a polícia canadense anunciou na segunda (14) a prisão de um funcionário da maior produtora de eletricidade do Canadá acusado de tentar roubar segredos comerciais da empresa para beneficiar a China. A detenção foi informada quando Trudeau e Xi já participavam da cúpula do G20 em Bali.
Paralelamente, no início deste mês, o Canadá ordenou que três empresas da China desistissem de investir em minerais canadenses, alegando questões de segurança nacional.
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