Descrição de chapéu Financial Times Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia diz que evitar choque militar entre potências nucleares é maior prioridade

Ministro britânico refuta acusação de que Ucrânia estaria preparando 'bomba suja'

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Max Seddon John Paul Rathbone Felicia Schwartz
Riga (Letônia), Londres e Washington | Financial Times

A Rússia disse que impedir um confronto militar entre potências nucleares é sua "maior prioridade" e, apesar de ter feito ameaças do tipo recentemente, pediu a outros países que possuem tais armas que reafirmem seu compromisso de evitar uma guerra atômica.

Nesta quarta-feira (2), o Ministério das Relações Exteriores "reafirmou totalmente" o compromisso de Moscou de evitar uma guerra nuclear e uma corrida armamentista sob uma declaração conjunta assinada com Estados Unidos, Reino Unido, França e China em janeiro.

Em um momento em que a Guerra da Ucrânia chega a oito meses, com a ação russa dando sinais de vacilar, o presidente Vladimir Putin renovou ameaças veladas de usar armas nucleares. Tudo isso faz parte de uma estratégia que, segundo autoridades ocidentais, visa a impedir a ajuda militar ocidental a Kiev.

Vídeo do Kremlin mostra teste de míssil balístico intercontinental das forças nucleares russas em Plesetsk
Vídeo do Kremlin mostra teste de míssil balístico intercontinental das forças nucleares russas em Plesetsk - 26.out.22/Ministério da Defesa da Rússia via Reuters

A retórica alarmou as potências ocidentais, principalmente depois que a Rússia fez afirmações infundadas, na semana passada, de que a Ucrânia estava desenvolvendo uma "bomba suja" —arma convencional misturada com material radioativo. Putin repetiu os avisos, mas depois disse que "não faz sentido militar ou político" a Rússia usar uma arma nuclear contra a Ucrânia.

"Estamos firmemente convencidos de que, na atual situação difícil e turbulenta, que é consequência de ações irresponsáveis e insolentes destinadas a minar nossa segurança nacional, evitar qualquer confronto militar entre potências nucleares é a mais alta prioridade", reforçou a chancelaria nesta quarta.

Em Londres, o ministro da Defesa Ben Wallace repetiu que a alegação de que a Ucrânia estava desenvolvendo uma "bomba suja" é completamente falsa e disse que o Reino Unido, ao lado dos EUA e da França, "sentia absolutamente a obrigação de manter o tabu" sobre o uso de armas nucleares.

"As alegações da Rússia sobre a preparação de uma arma nuclear tática pela Ucrânia ou de fato facilitada pelo Reino Unido ou qualquer outra potência não são corretas nem verdadeiras", disse Wallace ao Comitê de Defesa da Câmara dos Comuns. "Seria abominável, contra o direito internacional e totalmente injustificável. Não temos intenção de fazer nada além de afirmar a verdade sobre isso."

Autoridades ocidentais intensificaram o monitoramento da prontidão nuclear da Rússia nos últimos meses, mas não relataram qualquer mudança. A Ucrânia disse que a retórica de Moscou provavelmente é um blefe, com o objetivo de convencer seus apoiadores ocidentais a pressionar Kiev a aceitar um acordo de paz desfavorável, nos termos de Moscou. As forças ucranianas estão avançando sobre a cidade de Kherson, no sul, a única capital provincial que a Rússia capturou durante a invasão —Putin a reivindicou como parte do país em uma exagerada cerimônia de anexação no final de setembro.

O presidente russo, Vladimir Putin, em reunião por videoconferência com seu Conselho de Segurança, em Sochi - Aleksei Babushkin - 2.nov.22/Kremlin/Sputnik/Reuters

Apesar de o russo ter prometido usar "todos os meios à disposição" para defender o território que considera parte da Rússia, a Ucrânia continuou repelindo as forças rivais, endossando a convicção de algumas autoridades de que Moscou não cumprirá suas ameaças. Uma delas, sob anonimato, disse que espera que Moscou se concentre em parar a guerra, sem tentar desviar a atenção do conflito para assuntos irrelevantes —esforços que, até aqui, segundo essa fonte, tiveram pouco sucesso.

A declaração da chancelaria russa continha uma repreensão implícita às potências ocidentais que fornecem armas avançadas à Ucrânia, o que, segundo Moscou, aumenta o risco de um conflito direto entre as forças do país e da Otan.

Em aparente referência às denúncias da "bomba suja", o órgão pediu a apoiadores de Kiev que "demonstrem sua disposição de resolver essa prioridade e abandonem tentativas perigosas de minar os respectivos interesses vitais, equilibrando-se na linha de um conflito armado direto e encorajando provocações com armas de destruição em massa, que podem levar a consequências catastróficas".

O Ministério das Relações Exteriores disse ainda que a doutrina militar da Rússia permite o uso de armas nucleares se o país for atingido primeiro em um ataque nuclear ou se "a própria existência do Estado" for ameaçada por um ataque convencional.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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