Descrição de chapéu terrorismo

Extremista mata 3 pessoas no Paquistão por associar vacinação a espionagem

Grupo ligado ao Talibã afirma que imunização contra poliomielite deixará crianças muçulmanas inférteis

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Quetta | AFP e Reuters

Um extremista matou ao menos três pessoas e feriu outras 30 nesta quarta (30), após um ataque terrorista contra a escolta policial de uma equipe de vacinação no Paquistão. O episódio foi reivindicado por uma organização ligada ao Talibã, grupo fundamentalista islâmico que governa o Afeganistão.

Segundo autoridades paquistanesas, um homem-bomba jogou seu veículo contra o caminhão da polícia perto da cidade de Quetta, capital da província do Baluchistão, no sudoeste do país. Depois da explosão, o veículo ainda teria caído em um barranco. Entre as vítimas estão um policial, uma mulher e uma criança, e alguns dos feridos estão em estado grave, de acordo com o relato de um policial à agência Reuters.

Oficial monitora local de ataque suicida contra um caminhão da polícia em Quetta, no Paquistão
Oficial monitora local de ataque suicida contra um caminhão da polícia em Quetta, no Paquistão - Banaras Khan/AFP

Militantes islâmicos no Paquistão com frequência visam a equipes de vacinação contra a poliomielite. Eles alegam que a campanha é uma ferramenta ocidental para espioná-los e tornar crianças inférteis. Outras teorias dizem que vacinas contêm gordura de porco e, por isso, seriam proibidas para muçulmanos.

Pesa também uma operação de 2011 da CIA, a agência americana de inteligência. Na ocasião, o governo americano organizou um falso programa de imunização na cidade onde se acreditava que Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, estava escondido. A ação tinha o objetivo de obter o DNA da família do terrorista.

À época, os americanos recrutaram um médico paquistanês, que organizou a campanha em uma das regiões mais pobres da cidade de Abbottabad. No mesmo ano, os EUA encontraram o esconderijo de Bin Laden e o mataram —o profissional de saúde foi depois preso pela agência de inteligência paquistanesa.

De acordo com a imprensa local, mais de 70 pessoas que aplicavam vacinas contra a pólio foram assassinadas desde 2012 no país, em especial na província de Khyber Pakhtunkhwa, onde o grupo Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), que reivindicou o ataque desta quarta-feira, tem forte presença.

A atual campanha de imunização no país asiático começou na última segunda (28) e tem o objetivo de vacinar mais de 13 milhões de crianças contra a poliomielite. Em abril, o Paquistão registrou o primeiro caso da doença em 15 meses e, desde então, foram detectados 20 novos casos. Muito contagiosa, a poliomielite é provocada por um vírus que ataca o sistema nervoso e pode causar paralisia irreversível.

O primeiro-ministro do país, Shehbaz Sharif, condenou o ataque e disse que a campanha será mantida.

Ainda na segunda-feira, o TTP suspendeu um frágil acordo de cessar-fogo estabelecido com o governo em junho e ordenou a seus combatentes que retomassem os ataques em todo o país. O atentado desta quarta foi executado, de acordo com os extremistas, para "vingar a morte" de um alto comandante e fundador do grupo.

Paralelamente, o Exército paquistanês disse ter matado dez terroristas no Baluchistão na terça (29), mas não deu detalhes sobre a operação nem sobre a que grupo os milicianos pertenciam.

Embora o Paquistão tenha mantido relações com o Talibã durante a longa insurgência para expulsar as forças ocidentais do Afeganistão, o país combate o TTP em suas fronteiras há anos. O grupo extremista quer derrubar o governo para substituí-lo por um sistema com sua interpretação das leis islâmicas, aos moldes do que se dá hoje em Cabul.

Desde que o Talibã voltou ao poder no Afeganistão, o TTP intensificou suas ações no Paquistão. Segundo o Instituto Pak de Estudos para a Paz, os ataques aumentaram 50% desde então e mataram 433 pessoas. Em menos de uma década, a organização assassinou dezenas de milhares de civis e policiais.

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