Lula defende estreitamento de relações com Portugal em encontro com premiê

António Costa não disfarça satisfação com eleição de petista e fala em página virada

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Lisboa

O discurso do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de reinserção internacional do Brasil após sua vitória sobre Jair Bolsonaro (PL) encontrou especial eco em sua visita a Lisboa nesta sexta-feira (18), onde foi recebido com honras pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo primeiro-ministro António Costa.

Além de reforçar o compromisso ambiental de seu futuro governo, depois de passar pela COP27 no Egito, Lula defendeu um estreitamento das relações com o país europeu, ouvindo de Costa apelos por união também na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

"Estou orgulhoso de estar aqui. Temos que ter uma relação carinhosa com Portugal e quero Costa e Marcelo na minha posse. O Brasil voltou à normalidade", disse Lula em entrevista coletiva com o premiê.

Durante o segundo turno da eleição no Brasil, o socialista gravou um vídeo de apoio à candidatura petista. Nesta sexta, ao recepcionar Lula e a futura primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, na residência oficial do governo, posou fazendo um L com a mão e, mais tarde, não disfarçou a satisfação com a troca de governo no Brasil e a sinalização de uma mudança de postura em relação a Portugal.

O presidente eleito do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva e o premiê português, António Costa, em encontro em Lisboa - Carlos Costa - 18.nov.22/AFP


"É de fato um virar de página. Nós há muito tempo que não tínhamos esse encontro, essa proximidade e esse carinho entre os responsáveis políticos de Portugal e do Brasil. Não temos tido aqui, bilateralmente, não temos tido na CPLP, não temos tido no mundo", alfinetou Costa, tratando Lula praticamente como chefe de Estado.

O país europeu teve de fato pouco prestígio na política externa de Bolsonaro —que não fez nenhuma visita oficial a nenhuma nação da CPLP. Com exceção de Itamar Franco, que teve um mandato mais curto, o atual presidente foi o único, desde a redemocratização, a não viajar a Portugal. Costa e Rebelo, por seu lado, visitaram o Brasil.

Os dois presidentes ainda viveram um entrevero em julho, quando Bolsonaro desconvidou Rebelo para um almoço em Brasília depois de o português se encontrar justamente com Lula.

Em Lisboa, o petista também manifestou a intenção de retomar a Cimeira Luso-Brasileira, encontro bilateral que deveria ser realizado a cada dois anos. A última edição aconteceu em 2016; em 2018, o então presidente Michel Temer (MDB) cancelou o encontro na capital portuguesa com poucos dias de antecedência, e a cúpula jamais voltou a acontecer.

Lula e Costa tiveram uma reunião e depois participaram de um jantar com autoridades portuguesas e membros da comitiva petista. No intervalo, deram uma entrevista coletiva.

"Eu fiquei muito emocionado no Egito, quando o povo gritava: 'O Brasil voltou'. Porque fazia quatro anos que o Brasil estava completamente isolado do mundo. Nenhum país que sofreu bloqueio nesses 30 anos teve o isolamento que o Brasil teve por culpa do próprio governo brasileiro", disse, sem citar Bolsonaro. "Não foi o mundo que isolou o Brasil. Foi o Brasil que se isolou."

Ainda segundo o petista, o atual presidente não conversava e não fazia questão de receber ninguém no país. "Ninguém queria visitar o Brasil porque ele teve um comportamento totalmente anti-Brasil e antidemocrático." O eleito ainda voltou a defender uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, comentário que encontrou eco nas falas de Costa.

Defensor do acordo econômico entre Mercosul e União Europeia —pelo qual mobilizou o aparato da diplomacia lusa—, o premiê português voltou a elogiar o tratado e a defender a cooperação com o Brasil em várias instâncias, inclusive na ambiental.

"Temos de estar juntos no espaço da CPLP, no das Nações Unidas e nas grandes causas globais. E temos de estar juntos no esforço que é preciso fazer para aproximar a União Europeia e a América do Sul, o Mercosul em particular." Costa disse estar esperançoso com o segundo semestre de 2023, já com Lula presidente no Brasil e a Espanha, do socialista Pedro Sánchez, na presidência rotativa da UE.


Mais cedo, Lula foi recebido por Rebelo no Palácio de Belém, sede da Presidência. O encontro foi adiantado em cerca de meia hora para permitir uma breve participação do presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, que tivera uma reunião mais cedo com o luso.

Depois de 15 minutos, o africano deixou o local. Lula e Rebelo continuaram a conversa, que também teve a participação do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, um dos nomes cotados para o Itamaraty, e do ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, por mais uma hora e 15 minutos.

Nos dois turnos, Lula venceu Jair Bolsonaro (PL) em todas as três cidades portuguesas onde os brasileiros votaram. Em todas as suas agendas nesta sexta houve concentração de manifestantes de oposição a ele, mas também de apoiadores. Os atos foram pacíficos, mas houve uma espécie de "batalha de gritos" entre os dois lados. Em momentos de maior exaltação, a polícia portuguesa precisou intervir para delimitar um espaço para bolsonaristas e lulistas.

Antes de cumprir as agendas oficiais, Lula almoçou no restaurante Cícero, no bairro nobre de Campo de Ourique. A informação de que o presidente eleito estava no local se espalhou antes que ele terminasse a refeição, e dezenas de apoiadores se concentraram na porta do estabelecimento para saudar o petista.

O restaurante tem como um dos sócios o economista Paulo Dalla Nora Macedo. O ex-banqueiro, que já foi um ferrenho defensor da terceira via, participou de uma intensa mobilização para convencer empresários a abraçarem a campanha petista.


O estabelecimento foi fechado para a comitiva e para um pequeno grupo de convidados, entre os quais o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.

Antes de retornar ao Brasil, Lula vai se reunir, na manhã deste sábado (19), com representantes de movimentos políticos e sociais brasileiros em Portugal.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.