Mundo com 8 bilhões torna problemas da América Latina mais agudos

Mudança demográfica expõe carência de políticas públicas e compromete reação a crises econômicas

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Buenos Aires

Quando o mundo atingir a marca de 8 bilhões de pessoas nesta terça (15), mais de 662 milhões estarão vivendo na América Latina e no Caribe, segundo a projeção da ONU. Um novo pico está previsto para 2050, quando essa cifra chegará a 750 milhões, mas, a partir de então, haverá recuo até 650 milhões em 2100.

A taxa de crescimento da população da região está abaixo da taxa global. E a tendência é que a redução seja constante até, pelo menos, 2056. Este encolhimento, explica Sabrina Jurán, socióloga da divisão técnica do Fundo das Nações Unidas (UNFPA), baseada no Panamá, está relacionado a uma tendência de redução da fecundidade.

Hoje, dois terços da população mundial vivem em países onde a fecundidade é inferior a 2,1 nascimentos por mulher —na América Latina e no Caribe, a taxa é de 1,84.

Argentinos protestam em Buenos Aires por melhores salários e mais empregos
Argentinos protestam em Buenos Aires por melhores salários e mais empregos - Luis Robayo - 10.ago.22/AFP

Para a especialista, as projeções indicam a necessidade de mais qualidade nos dados sobre populações. "A quantidade de pessoas não é um problema por si só, mas nos preocupamos com o nível da informação sobre a população, porque assim podemos antecipar mudanças demográficas e ajudar a fornecer dados para a formulação de políticas públicas para enfrentar consequências negativas."

Jurán acrescenta que, em parte devido à pandemia e à crise econômica, faltam regularidade e precisão nos levantamentos, de modo que há 39 países que precisam reprogramar ou atualizar seus censos —na Bolívia, por exemplo, a data do novo levantamento virou motivo de crise política no governo Luis Arce.

Já para María Fernanda Olmos, demógrafa da Universidade de Luján, na Argentina, a taxa de fecundidade menor que a média internacional representa um problema diferente na região. "Temos uma concentração dessas taxas de natalidade em adolescentes, o que causa diversos problemas sociais e para os sistemas de saúde. É por isso que os números devem ser lidos com muito cuidado. Sempre o mais importante não é o geral, e sim como o analisamos por faixa da população", afirma.

Um dos dados essenciais sobre a região que exemplifica isso é o aumento da expectativa de vida, que, segundo a ONU, precisa servir de alerta para governos locais em relação à tomada de decisões sobre pensões e aposentadorias.

Na América Latina e no Caribe, a expectativa de vida em 1990 era, em média, de 67,7 anos. Em 2021, saltou para 72,2. Neste ano, foi para 73,8 e, em 2023, deve chegar em 75,8.

As mudanças demográficas trazem para a região, ao mesmo tempo, oportunidades e desafios. Para Jurán, a vantagem está no aumento da população jovem, mais apta a trabalhar e, portanto, jogando para cima a curva da produtividade —ainda que esta dependa também de políticas públicas. Por outro lado, o novo cenário, com expectativa de vida mais alta, exigirá dos países a implementação de medidas que adequem programas públicos para suas populações em processo de envelhecimento.

Enquanto em nações ricas a imigração contribui para o aumento da população, no caso da América Latina ela é um elemento de diminuição —em especial na Venezuela e em centro-americanos como Haiti e Nicarágua. Nesta última, por exemplo, há 7 milhões de cidadãos fora do território, dependentes das leis que permitem ou vetam a permanência nos países anfitriões.

"O país está se transformando num território de crianças e velhos", diz Anitza Freitez, do Instituto de Investigações Econômicas e Sociais da Universidade Católica Andrés Bello, de Caracas. "E não há retomada econômica apenas com esse material humano."

No Uruguai, a redução da população virou tema de Estado. Na prática, o número de uruguaios não tem crescimento significativo há décadas, fenômeno agravado pela pandemia de coronavírus. O caso levou o atual presidente, Luis Lacalle Pou, a formar uma comissão para estudar o tema.

"Nenhum país tem um futuro sólido sem uma população pujante, e para isso temos de trabalhar na criação de empregos e no fortalecimento do sistema de saúde", afirmou o líder uruguaio no começo de 2022. A taxa de natalidade local é ainda menor que a média regional, de 1,4 filho por mulher.

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