Reeleição na Flórida consolida Ron DeSantis como ameaça para Trump em 2024

Apadrinhado por ex-presidente, governador republicano conquistou popularidade às custas de muita controvérsia

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Atlanta (Geórgia)

Se muitas lideranças do Partido Republicano se frustraram com os resultados das eleições desta terça (8) nos EUA, que não deram à legenda a vitória esmagadora que esperavam, ao menos um de seus filiados não tem do que se queixar. Ron DeSantis, governador reeleito da Flórida, consolidou-se como um dos nomes mais poderosos do partido e se cacifou para enfrentar o ex-presidente Donald Trump em 2024.

DeSantis foi eleito com 59,4% dos votos sobre o ex-governador Charlie Crist e seguirá no comando do estado do sul dos EUA pelos próximos quatro anos. A vitória acachapante contrasta com sua primeira eleição ao cargo, em 2018, quando o então deputado venceu o pleito com apenas 0,4 ponto de vantagem.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, discursa após eleições primárias para as midterms em Tampa, nos Estados Unidos - Octavio Jones - 24.ago.22/Reuters

"Para mim, a luta só começou", afirmou no discurso da vitória. "A sobrevivência do projeto americano exige a ressurreição dos verdadeiros princípios americanos. A Flórida provou que isso é possível. Oferecemos um raio de esperança de que dias melhores virão", disse DeSantis, num discurso de tom nacionalizado.

Não à toa, o governador reeleito não mencionou nem sequer uma vez Trump, cujo apoio há quatro anos foi fundamental para que ele ganhasse a disputa —o que o ex-presidente faz questão de deixar claro.

Controverso e popular, DeSantis, 44, passou a ser visto como uma espécie de sucessor natural de Trump. Analistas avaliam que ele soube incorporar as ideias do Maga ("Make America Great Again", faça os EUA grandes novamente), lema trumpista que virou um movimento político; é jovem, enquanto o ex-presidente terá 78 anos no próximo pleito; e não tem o mesmo desgaste em tantos segmentos do eleitorado.

As pesquisas internas apontam que o governador é hoje a principal ameaça ao ex-chefe da Casa Branca em uma possível disputa pela indicação republicana nas próximas primárias, embora Trump ainda conserve larga vantagem. Em julho, ele tinha 49% do apoio interno, contra 25% de DeSantis.

O ex-presidente parece incomodado com a ameaça representada pela ascensão do pupilo, popular entre os republicanos cansados do imprevisível ex-apresentador de reality show. Em um breve pronunciamento na noite de terça, ele celebrou algumas vitórias republicanas, mas teve o cuidado de não mencionar aquele que já é visto como seu maior rival. Até apelido para o adversário ele cunhou: "Ron DeSanctimonious", que une o sobrenome do governador da Flórida e a palavra "hipócrita" em inglês.

Antes disso, na segunda-feira, Trump disse que DeSantis cometeria um erro se entrasse na disputa pela indicação à candidatura presidencial. "Acho que a base não gostaria disso. Não acho que seria bom para o partido", afirmou. Ele ensaia apresentar uma pré-candidatura na próxima semana.

DeSantis conquistou popularidade às custas de muita controvérsia. Em uma das mais recentes, fretou aviões para enviar 48 imigrantes venezuelanos à luxuosa ilha de Martha’s Vineyard, em Massachusetts, sem que eles soubessem aonde iam. Eles estavam no Texas, a mais de 1.000 km da Flórida e a 3.400 km de Massachusetts; a justificativa foi de se adiantar, já que "muitos teriam a Flórida como destino final".

DeSantis também foi criticado por sua gestão da pandemia, ao ir contra a obrigatoriedade do uso de máscaras e da vacinação. Em um dos momentos de maior repercussão, em março, dirigiu-se de forma irritada a estudantes que usavam o item de proteção. "Por favor, tirem isso. Honestamente, não serve de nada, temos que parar com esse teatro da Covid. Se vocês querem usar, tudo bem, mas é ridículo."

A irritação vem do fato de que DeSantis fez da Flórida uma espécie de refúgio para pessoas que começaram a trabalhar remotamente e se mudaram para o estado em busca de uma vida "normal".

Outra controvérsia recente foi a suspensão do procurador estadual Andrew Warren, filiado ao Partido Democrata e tido como "progressista demais" —a Flórida tem eleições diretas para o cargo. A justificativa oficial do governador foi a de que haveria negligência. "O procurador tem o dever de processar crimes conforme definido pelas leis da Flórida, não o de escolher as leis que quer baseado em sua agenda".

Com a reeleição, DeSantis torna a Flórida um reduto cada vez mais republicano. Antes um estado-pêndulo, a região vota desde 2000 majoritariamente em nomes do partido do governador.

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