Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Suécia diz que encontrou vestígios de explosivo no Nord Stream e fala em sabotagem

Explosões em gasodutos agravam crise energética na Europa; ataques russos deixam metade da Ucrânia no escuro

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Estocolmo | Reuters

Investigadores da Suécia encontraram vestígios de explosivos ao redor dos gasodutos Nord Stream 1 e 2, que ligam a Rússia à Alemanha através do mar Báltico. As duas estruturas foram alvo de explosões em setembro, e a constatação dos suecos, divulgada nesta sexta-feira (18), reforça a hipótese de que os ataques tenham sido planejados por sabotadores.

Os episódios também são investigados pela Dinamarca, que no mês passado já havia apontado indícios de que os vazamentos foram causados por fortes explosões.

Um dos quatro vazamentos de gás no Nord Stream após a explosão no Mar Báltico
Um dos quatro vazamentos de gás no Nord Stream após a explosão no Mar Báltico - Ministério da Defesa da Dinamarca - 29.set.22/AFP

"A análise agora realizada mostra vestígios de explosivos em vários dos objetos recuperados", disse o Ministério Público sueco em comunicado, acrescentando que as descobertas estabelecem o incidente como "sabotagem grosseira".

As duas explosões interromperam o já escasso fornecimento de gás russo para a Europa desde o início da Guerra da Ucrânia. No momento do incidente, apenas o Nord Stream 1 estava em funcionamento, já que a segunda estrutura foi suspensa pelos alemães antes mesmo do início de suas operações –uma resposta ao conflito no Leste Europeu.

A Suécia evitou dizer quais explosivos foram utilizados no ataque e se as investigações conseguirão determinar os autores da eventual sabotagem. O Ministério da Defesa da Rússia acusou, no mês passado, funcionários da Marinha do Reino Unido de explodir os oleodutos –Londres, naturalmente, disse que as acusações são falsas e destinadas a desviar a atenção das derrotas russas na Ucrânia.

Ainda nesta sexta, os russos disseram que vão esperar a conclusão das investigações para decidir se os reparos serão feitos. "O próprio fato de que os dados já começaram a chegar, a favor da confirmação de um ato subversivo ou terrorista, mais uma vez confirma a informação que o lado russo tem", disse a jornalistas o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, incentivando a continuação das investigações.

Após os ataques, vários analistas especularam sobre quem seriam os autores da sabotagem. À época, o governo russo insinuou que os Estados Unidos poderiam estar por trás da ação ao postar no Telegram um vídeo anterior à Guerra da Ucrânia com uma entrevista do presidente Joe Biden dizendo que "não haveria o Nord Stream 2" se a Rússia invadisse o vizinho.

Na troca de chumbos, os russos também foram acusados –teoria que, se comprovada, evidenciaria um ataque de Moscou contra suas próprias estruturas para prejudicar ainda mais o fornecimento de gás para a Europa. Desde o início da invasão da Ucrânia, líderes europeus acusam o Kremlin de usar o combustível como arma, à medida que os russos anunciam, frequentemente, supostos problemas em seus gasodutos conectados ao continente.

Europa com frio e Ucrânia no escuro

Os cortes no fornecimento ameaçam a capacidade da Europa de lidar com o inverno entre dezembro e fevereiro, quando os aquecedores precisarão ser cada vez mais acionados para reduzir os impactos das baixíssimas temperaturas.

Fato é que, com menos gás no mercado, o combustível passa a ser vendido com preços maiores, afetando as contas de energia e criando uma crise energética no continente –nas últimas semanas, governos de vários países anunciaram programas sociais e fiscais para conter o impacto da crise no orçamento das famílias.

Na Ucrânia, por sua vez, a crise deve assolar ainda mais o país destruído pela guerra. Os últimos ataques russos, segundo Kiev, miraram a infraestrutura civil, inclusive instalações de energia em várias regiões. As autoridades dizem estar trabalhando para restaurar a luz em todo o país, que já sofre com tempestades de neve.

Rua na cidade de Odessa, no sul da Ucrânia, durante um apagão
Rua na cidade de Odessa, no sul da Ucrânia, durante um apagão - Oleksandr Gimanov - 17.nov.22/AFP

Segundo o presidente Volodimir Zelenski, cerca de 10 milhões de pessoas estão sem energia no país —25% da população ucraniana antes da guerra. Algumas administrações regionais ordenaram apagões de emergência para lidar com a crise. Mais tarde, o primeiro-ministro Denis Chmihal disse que metade do sistema de energia da Ucrânia estava paralisado devido aos ataques russos.

Mikola Povoroznik, membro da administração da capital, disse que a prefeitura se prepara para diferentes cenários, "incluindo uma paralisação total" do fornecimento.

As Nações Unidas alertaram para o risco de um desastre humanitário na Ucrânia neste inverno devido à escassez de energia e água. Um dos três vice-presidentes da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, chegou a Kiev nesta sexta para discutir o apoio financeiro emergencial do bloco à Ucrânia nos próximos meses.

O Ministério da Defesa da Rússia disse que suas forças usaram armas de longo alcance para atacar instalações de defesa e industriais, incluindo "locais de fabricação de mísseis". Do outro lado do front, as forças ucranianas disseram ter derrubado, em 24 horas, dois mísseis de cruzeiro russos, cinco mísseis lançados do ar e cinco Shahed-136, os drones suicidas de fabricação iraniana.

Segundo Zelenski, ao menos cem investidas de Moscou também foram repelidas na região de Donetsk, em número que não se pode verificar de forma independente.

Enquanto isso, o papa Francisco reiterou que o Vaticano está pronto para fazer todo o possível para ajudar a acabar com o conflito. "Devemos querer a paz, não apenas uma trégua que sirva apenas para rearmar. A paz real, que é fruto do diálogo", disse ao jornal italiano La Stampa.

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