Turquia acusa curdos e prende mulher que confessou envolvimento em explosão em Istambul

Episódio terminou com seis mortos e mais de 80 feridos neste domingo; Erdogan cita suspeita de terrorismo

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Istambul | Reuters e AFP

A polícia da Turquia anunciou nesta segunda-feira (14) a detenção de uma cidadã da Síria que admitiu ter plantado o explosivo do atentado a bomba na avenida Istiklal, em Istambul. O governo turco acusou o Partido dos Trabalhadores Kurdos (PKK) de ter ordenado o ataque.

De acordo com a polícia de Istambul, a suspeita é Ahlam Albashir, uma mulher síria detida em uma blitz noturna no bairro Kucukcekmece no próprio domingo (13).

Albashir é a pessoa que o ministro da Justiça, Bekir Bozdag, tinha identificado como possível autora do ataque. Ele apontara para uma mulher que ficou sentada em um banco durante 40 minutos ao lado de uma bolsa e saiu poucos minutos antes de uma suposta bomba explodir.

Isso indicaria, segundo o ministro, o uso de um explosivo com temporizador ou detonado remotamente. Essa linha de apuração aponta ainda que o artefato tinha pregos, para aumentar o impacto da explosão.

Equipes de resgate trabalham na avenida Istiklal após explosão em Istambul - Kemal Aslan - 13.nov.22/Reuters

O ministro do Interior, Suleyman Soylu disse no domingo que a ordem do atentado tinha partido de Kobane, cidade no norte da Síria, onde as forças turcas realizaram operações contra a milícia curda YPG nos últimos anos. Ancara diz que o YPG —apoiado pelos Estados Unidos no conflito na Síria— é uma ala do PKK, alegação que alimentou atritos entre os aliados da Otan.

Nesta segunda, Ancara rejeitou uma mensagem de solidariedade do governo americano. "Não aceitamos a mensagem de condolências da embaixada dos EUA. Nossa aliança com um Estado que apoia Kobane e seus focos de terror deve ser discutida", disse Soylu.

Albashir apareceu algemada em filmagens da emissora estatal TRT Haber. Segundo a polícia, ela confessou ter atuado por ordem do PKK e disse que recebeu orientações na Síria. O PKK e o SDF, grupo sírio ligado aos curdos, negaram qualquer envolvimento no episódio.

A explosão, em uma das vias mais populares e movimentadas de Istambul, deixou ao menos seis pessoas mortas e 81 feridas, duas delas em estado crítico; 50 já receberam alta hospitalar.

Até aqui, nenhum grupo reivindicou oficialmente a ação. Se a hipótese de ataque terrorista se confirmar, este será o caso do tipo mais mortal em ao menos cinco anos no país e elevará a preocupação de que a Turquia possa ser atingida por mais bombardeios e ataques, como a série que sofreu entre meados de 2015 e 2017.

A explosão aconteceu, segundo vídeo obtido pela agência de notícias Reuters, às 16h13 pelo horário local (10h13 de Brasília), no distrito de Beyoglu. Equipes de emergência, incluindo membros da Afad, o grupo de gestão de desastres e emergências ligado ao Ministério do Interior, foram enviadas ao local em seguida.

"Seria errado já dizer que este é, sem dúvidas, um ataque terrorista, mas as investigações iniciais nos mostram que cheira a terrorismo. Os esforços para dominar a Turquia não atingirão seu objetivo", disse o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pouco antes de embarcar para a Indonésia para participar da cúpula do G20 , chamando o episódio de de ataque traiçoeiro.

O caso abala um setor importante da economia turca, o turismo, que tenta se recuperar dos efeitos das restrições impostas para controlar a pandemia.

Muito frequentada por moradores locais e turistas, a avenida Istiklal (Independência), com pouco menos de 2 quilômetros de extensão, fica próxima à praça Taksim, que abriga arcadas neoclássicas com uma variedade de lojas, restaurantes e pubs. Ali também se concentram muitos protestos contra o regime.

Pela via exclusiva para pedestres, que dividem espaço com uma linha de bonde, passam cerca de 3 milhões de pessoas por fim de semana. A via também abriga a maior igreja católica romana em Istambul, a St. Antoine. A explosão aconteceu em frente a uma loja de roupas.

Segundo o jornal The New York Times, o movimento neste domingo era maior porque à noite haveria uma partida de futebol nas proximidades —o jogo foi cancelado.

A polícia isolou o local, em meio ao temor de uma segunda explosão. No bairro vizinho de Galata, muitas lojas também fecharam as portas.

Em 2016, quatro turistas morreram e cerca de 36 pessoas ficaram feridas após um atentado suicida na mesma via. Aquele ano foi marcado pela alta de ataques do tipo em diferentes partes do país do Oriente Médio perpetrados por grupos radicais curdos e militantes do grupo terrorista Estado Islâmico (EI) —ao menos 286 pessoas morreram.

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