Explosão em Istambul deixa ao menos 6 mortos e 81 feridos

Presidente Recep Tayyip Erdodan diz que há indícios de terrorismo no incidente na avenida Istiklal

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Istambul | Reuters e AFP

Uma explosão na avenida Istiklal, uma das áreas mais movimentadas de Istambul, na Turquia, deixou ao menos seis pessoas mortas e outras 81 feridas na tarde deste domingo (13).

A causa do incidente ainda não foi esclarecida, mas o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pouco antes de embarcar para a Indonésia para participar da cúpula do G20, disse ver indícios de terrorismo. Se essa hipótese se confirmar, este será o caso do tipo mais mortal em ao menos cinco anos no país.

Pedestres e policiais ao lado de corpo de vítima da explosão na rua Istiklal, em Istambul, na Turquia - Kemal Aslan - 13.nov.22/Reuters

"Os autores serão desmascarados", afirmou. "Nosso povo pode estar seguro de que eles serão castigados." Segundo Erdogan, que chamou a explosão de atentado vil, as informações iniciais dão a entender que se trata de um ataque terrorista e que uma mulher estaria envolvida na trama.

"Seria errado já dizer que este é, sem dúvidas, um ataque terrorista, mas as investigações iniciais nos mostram que cheira a terrorismo. Os esforços para dominar a Turquia não atingirão seu objetivo", disse, chamando o episódio de ataque traiçoeiro. "Os autores serão expostos e punidos como merecem."

Até a última atualização deste texto, nenhum grupo havia reivindicado a ação, mas à agência estatal Anadolu o ministro do Interior, Suleyman Soylu, informou que a polícia local deteve um suspeito de ter deixado uma bomba no local. A identidade do detido não foi confirmada.

Quatro das vítimas teriam morrido no local e outras duas, no hospital. Autoridades afirmaram que o funcionário de um ministério e sua filha estão entre as vítimas. Cinco pessoas foram levadas para UTIs da cidade, duas delas em estado crítico.

Mais cedo, à mesma Anadolu o ministro da Justiça, Bekir Bozdag, afirmou que uma mulher ficou sentada em um banco durante 40 minutos ao lado de uma bolsa e saiu poucos minutos antes de uma suposta bomba explodir, o que indicaria o uso de um explosivo com temporizador ou detonado remotamente. Essa linha de apuração aponta ainda que o artefato tinha pregos, para aumentar o impacto da explosão.

A explosão aconteceu, segundo vídeo obtido pela agência de notícias Reuters, às 16h13 pelo horário local (10h13 de Brasília), no distrito de Beyoglu. Equipes de emergência, incluindo membros da Afad, o grupo de gestão de desastres e emergências ligado ao Ministério do Interior, foram enviadas ao local em seguida.

"Desejamos a misericórdia de Deus para aqueles que perderam suas vidas e uma rápida recuperação para os feridos", escreveu no Twitter o governador de Istambul, Ali Yerlikaya. O prefeito Ekrem Imamoglu se dirigiu ao local da explosão para acompanhar o trabalho de resgate e investigação.

Segundo a Reuters, o órgão regulador de mídia turco, o Conselho Supremo de Rádio e Televisão, impôs uma proibição para transmissões sobre o incidente cerca de uma hora após a explosão, o que pode retardar o acesso a informações sobre o caso.

O órgão justificou a medida afirmando que, em casos nos quais a segurança nacional está em jogo ou a ordem pública foi abalada, é permitido proibir transmissões.

O caso abala um setor importante da economia turca, o turismo, que tenta se recuperar dos efeitos das restrições impostas para controlar a pandemia.

Muito frequentada por moradores locais e turistas, a avenida Istiklal (Independência), com pouco menos de 2 quilômetros de extensão, fica próxima à praça Taksim, que abriga arcadas neoclássicas com uma variedade de lojas, restaurantes, confeitarias e pubs. Ali também se concentram muitos dos protestos contra o governo.

Pela via exclusiva para pedestres, que dividem espaço com uma linha de bonde, passam cerca de 3 milhões de pessoas por fim de semana. A via também abriga a maior igreja católica romana em Istambul, a St. Antoine. A explosão aconteceu em frente a uma loja de roupas.

Segundo o jornal The New York Times, o movimento neste domingo era maior porque à noite haveria uma partida de futebol nas proximidades —o jogo foi cancelado.

À Reuters um funcionário de um restaurante localizado perto da explosão descreveu como se sentiu. "Fiquei petrificado. As pessoas congelaram olhando umas para as outras e, depois, começaram a fugir."

"Pensei que fosse uma explosão de gás", disse o corretor Serhat Sen, que passava pela região de bicicleta, ao NYT. "Se eu estivesse indo mais rápido, teria sido atingido." Outra testemunha, Cemal Denizci, contou à agência AFP que viu três ou quatro pessoas estiradas no chão. "Todos correram em pânico, o barulho foi enorme, quase ensurdecedor, e havia fumaça preta."

A polícia isolou o local, em meio ao temor de uma segunda explosão. No bairro vizinho de Galata, muitas lojas também fecharam as portas.

Em 2016, quatro turistas morreram e cerca de 36 pessoas ficaram feridas após um atentado suicida na mesma via. Aquele ano foi marcado pela alta de ataques do tipo em diferentes partes do país do Oriente Médio perpetrados por grupos radicais curdos e militantes do grupo terrorista Estado Islâmico (EI) —ao menos 286 pessoas morreram.

O ataque deste domingo, que ocorre sete meses antes de eleições presidenciais e legislativas cruciais, gerou uma onda de condenações e manifestações de solidariedade. O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, foi um dos primeiros líderes internacionais a se manifestar. Ele disse ter recebido a notícia com profunda dor. "A dor do amigável povo turco é a nossa dor."

O presidente turco, Erdogan, tem tido destaque na diplomacia em torno da Guerra da Ucrânia. Próximo a Zelenski, mas também a Vladimir Putin, seu homólogo russo, ele foi figura central, por exemplo, para consolidar o acordo que destravou a exportação de grãos e fertilizantes pelo mar Negro, em julho.

Os governos da Itália, do Reino Unido, do Egito, da Grécia, do Azerbaijão e do Paquistão também expressaram solidariedade. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, enviou condolências pelo Twitter. O secretário-geral da Otan, aliança militar da qual a Turquia faz parte, disse que o grupo é solidário ao país.

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