Rússia cita 'escalada descontrolada' na Ucrânia a ministros da Defesa europeus

Choigu também conversou com secretário de Defesa dos EUA, no segundo contato em três dias

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Moscou | Reuters e AFP

O ministro da Defesa russo, Serguei Choigu, falou por telefone neste domingo (23) com seus homólogos europeus Sébastien Lecornu, da França, Ben Wallace, do Reino Unido, e Hulusi Akar, da Turquia, sobre a tensa situação na Ucrânia. A movimentação é uma das mais intensas desde o início da guerra.

Nos telefonemas, realizados separadamente, o ministro russo afirmou que a situação na Ucrânia "tende a uma escalada maior e descontrolada", segundo nota divulgada pelo Ministério da Defesa do país. Ele também expressou preocupação com "possíveis provocações da Ucrânia com o uso de uma 'bomba suja'".

O Kremlin, porém, não ofereceu evidências que sustentem a alegação, classificada de "absurda" por Kiev e de "falsa" pelos EUA. "O mundo não se deixará enganar por nenhuma tentativa de utilizar esta acusação como pretexto para uma escalada", disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano.

O presidente russo Vladimir Putin (à esq.) e o ministro da Defesa Sergei Choigu durante cerimônia de abertura de fórum técnico militar internacional, em Moscou
O presidente russo Vladimir Putin (à esq.) e o ministro da Defesa Sergei Choigu durante cerimônia de abertura de fórum técnico militar internacional, em Moscou - Maxim Shemetov - 15.ago.22/Reuters

Em comunicado, Lecornu disse que a França deseja uma resolução pacífica para o conflito e descartou o envolvimento do país europeu na escalada da guerra, especialmente em relação às opções nucleares. O ministro francês afirmou ainda que planeja conversar em breve com seu colega de Defesa ucraniano.

Na mesma toada, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse acreditar que há uma chance para a paz na Ucrânia, mesmo diante das ameaças e dos alertas russos de que o conflito pode escalar ainda mais.

"Em um momento específico, dado como as coisas estão evoluindo, e quando os ucranianos e seus líderes decidirem os termos disso, um acordo de paz pode ser construído com o outro lado", afirmou o chefe do Eliseu, em Roma para uma conferência que busca saídas para promover a paz.

Wallace, ministro britânico da Defesa, por sua vez, refutou as acusações feitas pelo ministro russo de que os países do Ocidente estão facilitando um plano de Kiev para escalar o conflito na Ucrânia.

Neste domingo, Choigu também falou por telefone com o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, no segundo contato entre as duas autoridades em três dias. Antes, eles não se falavam desde maio. Moscou não informou o conteúdo da conversa nem que temas foram debatidos.

Já o Pentágono repetiu o espírito da fala da porta-voz do Conselho de Segurança Nacional e, em nota, afirmou que Austin disse ao ministro russo que "rejeita qualquer pretexto para uma escalada russa" na guerra. O governo americano reforçou a necessidade de linhas de comunicação em meio à guerra, e um diplomata russo disse à agência estatal Tass que o contato era necessário para eliminar mal-entendidos.

Em sua mensagem diária, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse que apenas a Rússia é capaz de usar armas nucleares na Europa e que o "carrossel de telefonemas" de Choigu deixou a situação clara. "Todos entenderam muito bem quem é a fonte de todas as coisas sujas imagináveis nesta guerra."

A Rússia enfrenta uma contraofensiva ucraniana desde o final de setembro nas regiões leste e sul da Ucrânia. Os temores de ataques de Kiev em novos locais do front de batalha levaram autoridades russas a construir posições defensivas em regiões ocupadas e fronteiras.

Sob pressão, Moscou lançou mísseis e drones camicazes neste domingo contra a cidade de Mikolaiv, controlada por Kiev, destruindo um bloco de apartamentos e espalhando estilhaços e destroços em uma praça e prédios vizinhos. Carros foram esmagados sob os escombros. Nenhuma morte foi registrada.

Em outubro, um caminhão-bomba ucraniano explodiu a ponte da Crimeia, estrutura que liga a península anexada pela Rússia em 2014 ao território russo. Em resposta, o presidente russo, Vladimir Putin, coordenou um amplo ataque a cidades ucranianas mirando infraestrutura de abastecimento de energia.

Locais em todo o país enfrentam falta de água e eletricidade, e o governo ucraniano fala em mais de um milhão de pessoas sem energia. Por outro lado, no sábado (23), autoridades do Kremlin em Kherson, no sul da Ucrânia, pediram a saída imediata de civis e de ministérios da administração russa na região.

O comunicado veio após avisos de uma iminente ofensiva ucraniana para retomar o controle da cidade. A Ucrânia tem concentrado suas investidas mais recentes na região de Kherson, nas principais travessias do rio Dnipro, deixando as tropas russas sem suprimentos e mais vulneráveis.

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