G20 condena Guerra da Ucrânia em cúpula tomada por escalada de tensão

Líderes reiteraram apoio a resolução da ONU que repudia 'nos termos mais fortes' agressão russa contra país vizinho

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Nusa Dua (Indonésia) | Reuters

Os líderes do G20 assinaram uma declaração conjunta nesta quarta-feira (16) que condena a Guerra da Ucrânia e cita resolução da Assembleia-Geral da ONU que repudia "nos termos mais fortes a agressão da Rússia" contra o país vizinho.

O texto, aprovado no último dia da cúpula que reuniu na Indonésia os líderes das principais economias mundiais, afirma que a maioria dos membros do grupo condena veementemente o conflito no Leste Europeu, destacando que ele "causa imenso sofrimento humano e exacerba as fragilidades existentes na economia global".

Por outro lado, pondera a existência de opiniões divergentes no bloco —desnecessário dizer que a mais notável delas é a da própria Rússia. O texto, segundo a agência de notícias Reuters, foi aprovado de forma unânime.

Foto do porta-voz do governo alemão mostra o premiê Olaf Scholz, o presidente dos EUA Joe Biden, o da França, Emmanuel Macron, os premiês espanhol, Pedro Sánchez, britânico, Rishi Sunak (de costas), e canadense, Justin Trudeau, e os diplomatas José Manuel Albares (Espanha), Catherine Colonna (França) e Antony Blinken (EUA) em reunião às margens do G20, em Bali - Steffen Hebestreit - 16.nov.22/BPA/Reuters

As reuniões do G20 aconteceram em Bali. Segundo o presidente do país anfitrião, Joko Widodo, a cúpula tinha como objetivo discutir "economia e desenvolvimento", mas a Guerra da Ucrânia foi o assunto que dominou as atenções.

Primeiro devido à participação de Volodimir Zelenski, por videoconferência, no primeiro dia de debates —o presidente da Ucrânia disse que esse é o momento mais oportuno para acabar com o conflito. Depois porque, em meio às discussões, uma explosão causada por um míssil de fabricação russa na Polônia elevou as tensões do conflito, se impondo como tema inescapável —uma reunião de emergência chamada por Joe Biden se deu às margens do encontro.

O temor se deu sob o fato de Varsóvia integrar a Otan; um ataque de Moscou ao país, então, teria o condão de fazer o conflito vazar as fronteiras ucranianas. Nesta quarta, declarações da Polônia e da aliança militar ocidental, apontando para um acidente com um sistema de defesa aérea de Kiev, dissiparam um pouco as tensões.

Ainda sobre a guerra, o documento do G20 saudou o acordo que permitiu o escoamento de grãos produzidos por Rússia e Ucrânia pelo mar Negro e reiterou que a ameaça do uso de armas nucleares —carta acenada pelo governo de Vladimir Putin com frequência durante a guerra— é inadmissível.

"É essencial defender o direito internacional e o sistema multilateral que protege a paz e a estabilidade. Isso inclui defender todos os propósitos e princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e aderir ao direito humanitário internacional."

Widodo ressaltou que o conflito foi a questão mais controversa na redação do texto. "A discussão foi muito, muito dura, e no final os líderes do G20 concordaram com o conteúdo condenando a Guerra da Ucrânia porque violou as fronteiras e a integridade do país", disse.

A Rússia, porém, chamou a declaração final de equilibrada, mesmo depois de o representante do ausente Vladimir Putin, o chanceler Serguei Lavrov, ter criticado o que chamou de politização da cúpula e reiterado a visão de que a "guerra híbrida" foi desencadeada pelo Ocidente.

"A diferença de abordagens e pontos de vista foi registrada. Nossa chancelaria e nosso sherpa [enviado ao G20] se esforçaram para garantir um texto tão equilibrado", disse o porta-voz da Presidência, Dmitri Peskov.

Em um movimento que pode ser visto como surpreendente, o Kremlin publicou em seu site na íntegra a tradução russa da declaração —que, por exemplo, cita a demanda da "retirada total e incondicional" das tropas de território ucraniano e usa a palavra "guerra", proibida por uma lei de censura em Moscou, que só se refere ao conflito como "operação militar especial".

Em outro sinal de isolamento de Putin, o regime chinês não fez comentários imediatos sobre a declaração, mas a mídia estatal de Pequim também publicou a íntegra da tradução dela. No primeiro dia de debates, o líder Xi Jinping, até aqui fiel apoiador do russo, fez críticas veladas a Moscou; entre as reuniões, teve encontros bilaterais cheios de sorrisos com representantes ocidentais, como Joe Biden, a italiana Giorgia Meloni e o francês Emmanuel Macron —nos quais defendeu a diplomacia como meio de encerrar a guerra.

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), não viajou a Bali, reforçando em certa medida seu isolamento internacional. Ele foi representado pelo chanceler Carlos França.

Por fim, a mudança climática também foi pautada na declaração, que defendeu a busca de medidas que contenham o aquecimento global à marca de 1,5°C e possibilitem a transição energética, diminuindo a dependência de combustíveis fósseis.

Em uma pausa nas negociações, os líderes do G20 vestiram camisas brancas e participaram de uma cerimônia de plantio de mudas de mangue para sinalizar a luta contra a emergência climática.

Na parte econômica, reconhecendo uma "crise multidimensional sem paralelos", os líderes concordaram em acompanhar cuidadosamente as elevações das taxas de juros e alertaram para o "aumento da volatilidade" nos movimentos cambiais.

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