Descrição de chapéu The New York Times

Como e por que espinafre contaminado na Austrália pode causar alucinações

Autoridades acreditam que alimento foi contaminado por drogas que inibem produção de substância chamada acetilcolina

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Yan Zhuang
The New York Times

Delírio. Febre. Alucinações. Não é o que você espera ao adicionar espinafre a uma salada, mas esses estão entre os sintomas alarmantes que dezenas de australianos experimentaram depois de consumir o que se acredita serem lotes contaminados do vegetal.

Mais de cem pessoas relataram sintomas, incluindo 54 que procuraram ajuda médica, depois de comer brotos de espinafre que as autoridades acreditam estar contaminados. Quatro cadeias de supermercados recolheram produtos que continham o espinafre suspeito.

Pessoa compra espinafre em supermercado de Sydney, na Austrália - Wang Zelong - 19.dez.22/Xinhua

Autoridades disseram que o espinafre causou possíveis reações tóxicas, com os afetados apresentando sintomas como visão turva e taquicardia.

Alguns australianos foram às redes sociais para perguntar, em tom de brincadeira, como poderiam obter espinafre alucinógeno. "Nunca me interessei tanto por salada", disse um usuário do Twitter.

Mas as autoridades enfatizaram que os sintomas não são nada agradáveis. "Eles não conseguem ver direito; ficam confusos; estão tendo alucinações", diz Darren Roberts, diretor médico do Centro de Informações sobre Venenos de Nova Gales do Sul, referindo-se às vítimas em uma entrevista na TV local. "E estamos falando de alucinações assustadoras; não é nada divertido."

A empresa produtora Riviera Farms, no estado de Victoria, disse acreditar que o produto foi contaminado com uma erva daninha.

Que erva poderia tornar o espinafre alucinógeno? O Departamento de Saúde do estado de Victoria disse que os sintomas sugeriam "síndrome anticolinérgica", um tipo de intoxicação causada principalmente por plantas da família Solanaceae, que inclui beladona e raiz de mandrágora.

Plantas e drogas anticolinérgicas inibem a produção de uma substância química chamada acetilcolina, ligada à memória, ao pensamento e ao sistema visual, de acordo com Dominic ffytche, professor de psiquiatria visual no King's College de Londres, especializado em alucinações visuais —ele usa inicial minúscula no sobrenome.

A acetilcolina também pode ser perdida naturalmente e está ligada ao mal de Alzheimer, tipos de demências e outras doenças neurodegenerativas.

As alucinações causadas pela supressão ou perda de acetilcolina tendem a ser formadas, diz ffytche, e são concretas e reconhecíveis, geralmente assumindo a forma de pessoas, objetos e paisagens. Isso é diferente das alucinações "não formadas", nas quais as pessoas podem ver formas, padrões e cores.

Além disso, as alucinações causadas pela falta de acetilcolina estão ligadas ao sistema de memória, por isso tendem a envolver pessoas que o indivíduo conhece ou reconhece. "Podem ser parentes falecidos ou pessoas que são vagamente familiares para eles de alguma forma."

Os que experimentam sintomas mais extremos podem ter dificuldade para determinar o que é real. "Quando você perde a compreensão de que são alucinações, elas tendem a se tornar angustiantes. Você é sugado para a história em que algo ruim está acontecendo e as pessoas tentam machucá-lo ou prejudicá-lo de alguma forma."

A exposição a plantas anticolinérgicas pode ter efeitos graves, mas raramente é fatal. Também é relativamente incomum: em 2020, houve 856 casos de exposição nos EUA, nenhum dos quais resultou em morte, de acordo com a Associação Americana de Centros de Controle de Venenos.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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