EUA anunciam envio de armas à Ucrânia que podem mudar rumo da guerra

Washington formaliza ajuda militar em meio a 1ª viagem de Volodimir Zelenski para encontro presencial com Biden

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Washington

Os Estados Unidos confirmaram nesta quarta-feira (21) o envio à Ucrânia do sistema de defesa antiaéreo Patriot, considerado um dos sistemas americanos mais sofisticados contra aeronaves, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos, em um avanço que pode mudar o rumo da guerra no Leste Europeu.

Os presidentes da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e dos EUA, Joe Biden, durante conversa no Salão Oval da Casa Branca - Leah Millis - 21.dez.22/Reuters

O anúncio foi feito horas antes de o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, chegar a Washington, na primeira viagem pública para fora do país desde o início da invasão russa, em fevereiro. Na Casa Branca, Zelenski se reuniu com o presidente americano, Joe Biden, antes de se dirigir ao Capitólio, onde discursou no plenário da Câmara à noite e se reuniu com parlamentares republicanos e democratas.

O Patriot fará parte de um pacote de cerca de US$ 1,85 bilhão em ajuda militar, que inclui também outras formas de defesa antiaérea como os Nasams (curto e médio alcance), Hawks (míssil terra-ar de médio alcance) e Stingers (mísseis portáteis). O conjunto da ajuda militar americana já soma US$ 21,9 bilhões.

Em entrevista coletiva, Biden negou que o armamento vá significar um aumento no conflito. "É um sistema de armas defensivas, não vai escalar [a guerra]. Nós adoraríamos não ter que usá-lo, é só pararem os ataques", disse.

O governo americano vai treinar as forças de segurança ucranianas para usar os equipamentos em um terceiro país, segundo uma autoridade da Casa Branca —o que pode levar algum tempo.

Questionado na manhã desta quarta, antes que o envio dos Patriots fosse confirmado, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que o sistema antiaéreo seria definitivamente um alvo de ataques russos —indicando que a chegada do armamento a Kiev nos próximos meses pode ser o gatilho para uma nova fase da ofensiva contra a Ucrânia.

Biden recebeu Zelenski nos jardins da Casa Branca. Depois, os dois líderes se reuniram no Salão Oval e posaram para as câmeras. Em reunião bilateral, discutiram estratégias da guerra, capacitação e treinamento das forças ucranianas e sanções, além de assistência econômica, energética e humanitária, segundo o governo americano.

"A caminho dos EUA para fortalecer a resiliência e as capacidades de defesa da Ucrânia. Em particular, o presidente dos EUA e eu discutiremos a cooperação entre os EUA e a Ucrânia. Também farei um discurso no Congresso e uma série de reuniões bilaterais", escreveu Zelenski no Twitter antes de chegar a Washington.

A reunião foi acompanhada por algumas das maiores autoridades do país. Estavam presentes na reunião, além de Biden, a vice, Kamala Harris, e os secretários de Estado, Antony Blinken, e de Defesa, Lloyd Austin. Na comitiva ucraniana, além de Zelenski, viajaram o chanceler Dmitro Kuleba e outras autoridades.

"Continuaremos a apoiar a Ucrânia enquanto for preciso, para que Kiev possa continuar a se defender e estar na posição mais forte possível na mesa de negociação quando for chegada a hora. A Rússia sozinha pode terminar essa guerra. Até lá, permaneceremos unidos com a Ucrânia", disse Blinken em comunicado pela manhã.

No encontro presidencial, Biden brincou com a capa da revista Time e afirmou a Zelenski: "Você é o homem do ano". O ucraniano afirmou que queria ter viajado ao país antes e agradeceu ao governo, ao Congresso e americanos "comuns" pelo apoio a Kiev.

Depois, em entrevista a jornalistas, onde Biden e Zelenski conversaram em tom descontraído, o americano voltou a criticar o conflito, citando o nome do presidente russo, Vladimir Putin, responsável pelo que chamou de uma "guerra brutal e desumana", e parabenizou as forças ucranianas pela resistência até aqui. Zelenski, por sua vez, agradeceu pela ajuda americana e disse que "voltará para casa com boas notícias", antes de encerrar sua fala dizendo "glória à Ucrânia".

Com a visita à capital americana em um momento em que a guerra completa 300 dias, em meio a sinais de cansaço inclusive internacional, a Casa Branca passa ao menos dois recados. O primeiro é para Vladimir Putin, segundo uma autoridade sênior do governo, ao mostrar que a administração Biden não pretende recuar e vai manter o fluxo de ajuda econômica e militar a Zelenski na tentativa de conter o avanço de Moscou.

O segundo é para o Congresso americano, que tenta aprovar o maior pacote de ajuda militar até aqui em 10 meses de guerra, com uma bancada republicana na Câmara cada vez mais reticente com o aumento de gastos do governo —o provável novo presidente da Casa, Kevin McCarthy, já afirmou que o governo não deve dar um "cheque em branco" para Kiev.

Sistema de defesa aérea Patriot em base militar no Alaska, nos EUA - Força Aérea dos EUA/Divulgação - 5.mar.22/Reuters

Zelenski discursou presencialmente ao Congresso, em evento que mobilizou autoridades na capital americana e foi acompanhado também por diplomatas de outros países, inclusive o embaixador do Brasil, Nestor Forster.

Em discurso de quase meia hora, feito em inglês e aplaudido de pé a cada pausa, Zelenski agradeceu a ajuda enviada pelo governo americano, mas fez a ressalva de que "ainda não é suficiente", e que o dinheiro "não é caridade", mas "investimento em segurança e paz global que cuidamos da maneira mais responsável."

Ele invocou o presidente americano Franklin D. Roosevelt, que comandou o país durante a Segunda Guerra, e fez um paralelo com o momento atual do país. "Exatamente como os corajosos soldados americanos, que deram suas vidas e lutaram contra as forças de Hitler no Natal de 1944, corajosos soldados ucranianos estão fazendo o mesmo neste Natal", disse.

O presidente terminou o discurso desejando "feliz Natal e um vitorioso ano novo" e entregou à vice, Kamala Harris, e à presidente da Câmara, Nancy Pelosi uma bandeira da Ucrânia que foi retirada por soldados ucranianos de um campo de batalha na cidade de Bakhmut, na região de Donetsk.

A fala ao Congresso acontece enquanto o governo tenta aprovar o orçamento do ano que vem, que inclui um pacote de US$ 45 bilhões (R$ 234 bilhões) em ajuda à Ucrânia —sendo US$ 13 bilhões em ajuda econômica direta ao governo; US$ 9 bilhões em gastos diretos ao Exército do país, com salários, treinamento, armamento e logística; e o restante em ações humanitárias, construção de infraestrutura e reposição de equipamentos já enviados pelo governo americano. Se aprovado, será o maior pacote de ajuda ao país em 10 meses de guerra. No discurso ao Legislativo, o presidente ucraniano afirmou que o pacote pode salvar o país.

A viagem de Zelenski aos EUA começou a ser desenhada quando os dois presidentes se falaram por telefone no último dia 11, o convite formal foi feito em 14 de dezembro e a confirmação aconteceu de fato apenas no último domingo (18), mas os trâmites foram mantidos em segredo até que o portal de notícias americano Punchbowl News revelou a viagem na terça. A expectativa é de que ele volte ainda nesta quarta ou na madrugada de quinta-feira para a Ucrânia.

Foi o segundo encontro do ucraniano com Biden. O primeiro ocorreu em setembro de 2021, antes da guerra. Dias antes da invasão russa, Zelenski também havia se encontrado com a vice, Kamala Harris, na Alemanha, em sua última viagem oficial antes do começo da guerra.

Logo no começo do conflito, os Estados Unidos chegaram a oferecer a Zelenski a possibilidade de retirá-lo do país, o que o presidente negou, dizendo que precisava "de munição, não de uma carona".

Zelenski e Biden se falam com frequência por telefone, e o ucraniano já havia discursado ao Congresso dos EUA, por vídeo, no começo da guerra, assim como em dezenas de outros parlamentos pelo mundo, como parte da empreitada midiática que o projetou globalmente.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior do infográfico que acompanha a reportagem apontou incorretamente o custo unitário de cada míssil ​Patriot. O valor é de US$ 4 milhões, não US$ 4.000.

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