Putin exalta heróis da Rússia e reafirma prontidão de forças nucleares na guerra

Líder russo afirma que não há limites para gastos militares, mas faz rara admissão de equívocos cometidos no conflito

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Moscou | Reuters

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, voltou a falar sobre dificuldades de seu país na Guerra da Ucrânia durante discurso a chefes militares nesta quarta-feira (21), mas também saudou seus soldados, a quem chamou de heróis, e reafirmou a prontidão de forças nucleares.

Putin afirmou que a Otan, aliança militar ocidental que apoia Kiev, tem usado todas as suas capacidades no conflito e que cabe aos líderes militares russos colocarem em prática a experiência que adquiriram na Síria, onde Moscou apoia o regime de Bashar Al-Assad na guerra civil que já dura mais de dez anos.

Vladimir Putin, presidente da Rússia, participa por videochamada de cerimônia de lançamento de campo de produção de gás Kovykta, voltado à China - Mikhail Kuravlev - 21.dez.22/Sputnik via Reuters

O líder russo também disse que o Ministério da Defesa de seu país precisa aceitar críticas sobre suas ações na guerra —que Putin chama desde o início de "operação militar especial"— e que a recente campanha de mobilização de soldados evidenciou problemas.

O país anunciou em setembro o recrutamento de até 300 mil reservistas para lutar na guerra, medida que foi criticada e levou a uma debandada de homens do país, que fugiam da possível convocação para integrar as fileiras do Exército russo no Leste Europeu.

Mudanças nas tropas russas também foram anunciadas. Putin apoiou publicamente o plano de expandir em 30% o tamanho das Forças Armadas. "É uma medida necessária para garantir a solução dos problemas de segurança russa", disse seu ministro da Defesa, Serguei Choigu.

Choigu afirmou que boa parte dos novos combatentes deveriam ser soldados profissionais contratados e também propôs aumentar a faixa etária do serviço militar obrigatório no país para 21 a 30 anos —hoje, está entre 18 e 27 anos.

O ministro e o presidente negaram mais de uma vez que jovens recrutas estejam sendo enviados para o campo de batalha, a despeito de depoimentos de soldados russos apontarem para a inexperiência de muitos colegas no front e da presença maciça de mercenários, em especial membros do Grupo Wagner, uma grupo paramilitar privado.

Choigu também disse que Moscou tem acelerado o envio de suprimentos e armas modernas para seu Exército —possível resposta a relatos e investigações de veículos de imprensa que apontam a precariedade em que se encontram tropas russas na Ucrânia.

Putin assegurou que as tropas russas receberão toda a verba necessária para a campanha militar na Ucrânia e assegurou que não há limites financeiros para isso. Afirmou, ainda, que o míssil hipersônico Sarmat estaria pronto para ser usado em combate em um futuro próximo.

Em rara declaração sobre perdas na guerra, Putin disse que isso se trata de uma "tragédia comum". Pouco depois, voltou a afirmar que a invasão da Ucrânia foi consequência do avanço do Ocidente na região. "Nossos rivais geopolíticos começaram a fazer uma lavagem cerebral na esfera da União Soviética, principalmente na Ucrânia."

As declarações ocorrem no mesmo dia em que está prevista uma visita do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, à Casa Branca, na primeira viagem do líder a outro país desde o início do conflito.

O Kremlin, em resposta, voltou a dizer que não vê chances de negociações de paz no momento. O porta-voz Dmitri Peskov afirmou a jornalistas que o contínuo fornecimento de armas do Ocidente para a Ucrânia leva a um claro aprofundamento do conflito.

Rússia e China ampliam redes de fornecimento de gás

Ainda nesta quarta, Putin presidiu de maneira virtual o lançamento de um novo campo de gás na Sibéria, o Kovikta, que suprirá o gasoduto Power of Siberia, responsável por transportar gás natural russo para a China, uma das principais aliadas geopolíticas de Moscou.

Com reservas de 1,8 trilhão de metros cúbicos, o campo é o maior do leste do território russo. Seu lançamento integra a estratégia russa de expandir o fornecimento de gás natural para a Ásia diante da redução das entregas para países da União Europeia.

A Rússia começou a vender gás para a China no final de 2019, consolidando-se como a terceira maior fornecedora para Pequim. O país planeja construir uma segunda unidade do Power of Siberia, na Mongólia, para ampliar o fornecimento para o gigante asiático nos próximos anos.

Em paralelo, o ex-presidente e ex-premiê russo Dmitri Medvedev, hoje número 2 do Conselho de Segurança e uma das figuras mais próximas a Putin, esteve em Pequim, em uma visita não anunciada previamente, para se encontrar com o líder chinês, Xi Jinping.

Em vídeos e textos compartilhados em seu canal no Telegram, ele afirmou que os dois debateram a parceria estratégica "sem limites". "Falamos da cooperação bilateral econômica e em produção industrial e também discutimos questões internacionais, incluindo, claro, a Ucrânia."

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