Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Volodimir Zelenski é escolhido Pessoa do Ano de 2022 pela revista Time

Publicação elogia 'ofensiva de informação' do presidente da Ucrânia e sua habilidade em atrair 'olhos do mundo'

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Petrópolis (RJ)

A revista americana Time anunciou nesta quarta-feira (7) a escolha do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, como Pessoa do Ano de 2022. O que a publicação chamou de "espírito da Ucrânia" também recebeu as honras, um aceno à resiliência do país invadido pela Rússia há quase dez meses.

"Por mostrar que a coragem pode ser tão contagiosa quanto o medo, por fazer pessoas e nações se unirem em defesa da liberdade, por lembrar o mundo da fragilidade da democracia —e da paz—, Volodimir Zelenski e o espírito da Ucrânia são a Pessoa do Ano da Time 2022", justifica o veículo em seu editorial.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, escolhido Pessoa do Ano de 2022 pela revista Time
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, escolhido Pessoa do Ano de 2022 pela revista Time - Reprodução/@time no Twitter

A decisão da Time se soma a premiações importantes que alfinetam, em certa medida, o presidente da Rússia, Vladimir Putin. As escolhas do Nobel da Paz foram encaradas como uma resposta ao avanço do autoritarismo na órbita do Kremlin —a láurea foi concedida ao ativista belarusso Ales Bialiatski e às ONGs Memorial e Centro de Liberdades Civis na Ucrânia. O Parlamento Europeu deu o Sakharov, seu prêmio de defesa dos direitos humanos, a nomes e instituições ucranianas, incluindo Zelenski.

O atual presidente chegou ao poder após ficar famoso interpretando justamente um presidente ucraniano numa série de TV, "Servo do Povo". Sem experiência política, o ator de 44 anos absorveu e reproduziu elementos do programa que o alçou ao estrelato —do nome de seu partido à agenda anticorrupção.

Em meio a uma onda antipolítica e com uma campanha quase toda feita pela internet, derrotou com 73% dos votos no segundo turno o então presidente, Petro Porochenko, que buscava um segundo mandato.

Essa habilidade midiática foi explorada intensamente pelo ucraniano desde o início da guerra. Além de discursar a chefes de Estado com apelos para mudar os rumos da guerra, como esperado, ele fez aparições virtuais em eventos como o Festival de Cannes e o Grammy e manteve presença constante nas redes sociais, falando diariamente à população em pronunciamentos transmitidos por videoconferência.

Adotou ainda um figurino que substitui a camisa branca e o paletó que trajava antes do conflito por camisetas e jaquetas verde-musgo, como as fardas que os soldados do país usam na linha de frente.

A onipresença virtual do presidente ucraniano foi elogiada pela Time, que a descreveu como uma "ofensiva de informação". "Zelenski foi o responsável por manter os olhos do mundo sobre a Ucrânia. O showman entendeu de forma inata que a atenção é a moeda mais valiosa do planeta", afirma a publicação.

"Ele fez isso por meio de um meticuloso processo de construção de imagem e de repetição de sua mensagem. Foi seco, às vezes sarcástico, mas sempre direto: é preciso salvar a Ucrânia para salvar a democracia", diz a revista. "Seu comando sobre as armas da era digital significou que líderes e políticos de todo o mundo foram obrigados a se atentar ao tema e a se posicionar, quer quisessem ou não."

Essa visão do presidente ucraniano como herói já não é unânime na imprensa americana. Desde meados do ano, quando uma sessão de fotos da primeira-dama da Ucrânia para a Vogue foi alvo de críticas, veículos têm dado sinais de que buscam desconstruir o mito Zelenski que vinham reproduzindo.

O ponto de inflexão talvez tenha sido uma coluna em que Thomas Friedman, especialista em política externa do New York Times, divulgou que a Casa Branca tem uma "desconfiança profunda" em relação a Zelenski —o vazamento foi apontado como uma tentativa do governo americano, que já deu quase US$ 20 bilhões em armas para Kiev, para forçar o líder a aceitar um acordo de paz ou culpá-lo pela derrota.

Zelenski também foi criticado pelo presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em entrevista à mesma Time publicada em maio. Na ocasião, ele disse que o líder ucraniano tinha tanta culpa quanto seu homólogo russo pela guerra. "Fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado", afirmou.

Revista Time homenageia mulheres do Irã na categoria Heróis do Ano de 2022
Revista Time homenageia mulheres do Irã na categoria Heróis do Ano de 2022 - Reprodução/@time no Twitter

Além da Pessoa do Ano, a Time anunciou seus "heróis do ano". As eleitas foram as iranianas, pelos atos que vêm liderando no país persa desde a morte de Mahsa Amini, 22, sob custódia da polícia moral —os protestos foram as maiores exibições de oposição ao regime desde a Revolução Islâmica, em 1979.

Segundo a revista, o movimento que elas lideram é "escolarizado, liberal, secular, tem altas expectativas e está desesperado por alguma normalidade". Elas ainda se distinguem de manifestantes de períodos anteriores por se assemelharem mais a uma "Geração Z transnacional do que a iranianos".


OS ÚLTIMOS ESCOLHIDOS PARA PESSOA DO ANO DA TIME

2021: Elon Musk

2020: Joe Biden e Kamala Harris

2019: Greta Thunberg

2018: 'Os guardiões' (jornalistas perseguidos)

2017: Movimento contra o assédio

2016: Donald Trump

2015: Angela Merkel

2014: Equipes que combateram o vírus ebola

2013: Papa Francisco

2012: Barack Obama

2011: 'O manifestante' (pessoas que protestaram contra líderes autoritários, como na Primavera Árabe)

2010: Mark Zuckerberg

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