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Peru vive crise constante e teve 6 presidentes em 6 anos

Destituição de Castillo após tentativa de golpe coroa turbilhão político com instabilidade generalizada

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São Paulo

A crise política no Peru, agravada nesta quarta-feira (7) após a destituição do presidente Pedro Castillo, que foi acusado de tentar um golpe mandando dissolver o Parlamento, data de ao menos seis anos.

O atual líder é o sexto a governar o país desde 2016, e o mecanismo que ele tentou adotar também já foi usado por um de seus antecessores.

O presidente do Peru, Pedro Castillo, durante cerimônia na capital, Lima
O presidente do Peru, Pedro Castillo, durante cerimônia na capital, Lima - Jhonel Rodriguez - 6.dez.22/Presidência do Peru via AFP

A Constituição peruana estabelece que, se o governo for derrotado em um voto de confiança, o presidente deve recompor seu gabinete. Se o mesmo processo se repetir, o chefe do Executivo então pode determinar a dissolução do Parlamento e convocar novas eleições legislativas. O governo Castillo, no entanto, não seguiu o rito previsto na Carta, o que configura uma tentativa de golpe.

Na semana passada, o Congresso peruano deu início ao terceiro processo de destituição do líder esquerdista, mas o impeachment de fato era incerto. Nesta quarta, após o pronunciamento do político, a Casa ignorou suas medidas e por fim aprovou a destituição, com 101 votos a favor —eram necessários 87.

Em 2019, o então presidente Martín Vizcarra dissolveu o Parlamento depois de os congressistas rejeitarem dois votos de confiança. No ano seguinte, porém, a nova configuração do Legislativo conseguiu removê-lo do poder em meio a acusações de corrupção, coroando uma convulsão política crônica —movimento muito semelhante ao que acontece no mandato de Castillo.

Vizcarra foi acusado de receber propina, o que o enquadraria na categoria de "incapacidade moral", impedindo sua continuidade no cargo. O mesmo termo foi usado nos processos contra Castillo, acusado de liderar um esquema de corrupção e de proteger aliados alvos de investigações criminais.

Antes de Vizcarra, Pedro Pablo Kuczynski, conhecido como PPK, renunciou em março de 2018 acusando a oposição de criar um "clima ingovernável". À época, o então líder peruano enfrentaria sua segunda moção de vacância, também sob acusações de corrupção.

Os dois afastamentos seguidos, porém, não foram suficientes para desacelerar a crise na política peruana. Após a saída de Vizcarra, assumiu, por apenas seis dias, o congressista Manuel Merino de Lama, que renunciou depois de episódios de violência disparados na esteira da crise institucional.

O deputado Francisco Sagasti, então, assumiu o governo interinamente e conseguiu permanecer no cargo até a posse de Castillo.

Além disso, uma série de escândalos atingiu a maior parte da elite política peruana. Alberto Fujimori, líder do país de 1990 a 2000, foi preso por crimes contra a humanidade. Sua filha, Keiko, foi a principal adversária eleitoral de Castillo. Investigada por corrupção, ela chegou a ser presa e, após a derrota para o atual presidente, fez denúncias de fraudes nas eleições, nunca comprovadas.

Também são investigados por corrupção envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht os ex-presidentes Alejandro Toledo (que comandou o país de 2001 a 2006 e hoje está detido), Ollanta Humala (líder de 2011 a 2016, que passou nove meses na prisão) e o próprio PPK (2016-2018). O também ex-presidente Alan García (1985-1990 e 2006-2011) suicidou-se quando policiais se preparavam para prendê-lo em 2019.

Erramos: o texto foi alterado

Ollanta Humalla, presidente do Peru de 2011 a 2016, passou nove meses na prisão, não seis, como afirmava incorretamente versão anterior do texto.

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