Descrição de chapéu União Europeia

Prisão de vice-presidente denunciada por corrupção eleva pressão sobre Parlamento Europeu

Eurodeputada grega Eva Kaili, suspeita de ter recebido propina do Qatar, é pressionada a deixar cargo

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Bruxelas | AFP e Reuters

A prisão da eurodeputada grega Eva Kaili, uma das vice-presidentes do Parlamento Europeu, no âmbito de uma investigação sobre corrupção em relação à monarquia do Qatar, aumentou a pressão para um maior controle ético no órgão e para que ela renuncie.

Neste domingo (11), o Ministério Público da Bélgica afirmou que quatro pessoas estão em prisão preventiva após serem acusadas de associação criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção. Outras duas pessoas foram liberadas.

O comunicado não traz os nomes dos detidos, mas uma fonte próxima ao caso, sob anonimato, disse à AFP que Kaili está entre elas. A deputada e ex-apresentadora de televisão, 44, havia sido detida na noite de sexta-feira (9), quando, segundo relatos da imprensa, transportava "sacos de dinheiro". Ela não pôde se beneficiar de imunidade parlamentar por ter sido pega em flagrante.

A eurodeputada grega Eva Kaili durante um evento do Parlamento Europeu em Bruxelas - Eric Vidal - 7.dez.22/Parlamento Europeu/AFP

Buscas foram feitas na casa de Kaili depois que seu pai foi encontrado com uma grande quantia em dinheiro em uma mala. Na sexta, o Ministério Público belga informou ter encontrado € 600 mil (R$ 3,3 milhões) em espécie em 16 diligências em Bruxelas.

O órgão também realizou buscas na residência de um segundo deputado na noite de sábado —mais tarde, Marc Tarabella, do Partido Socialista belga, disse que ação aconteceu em sua casa e que os agentes apreenderam um computador e um celular. "A Justiça está fazendo seu trabalho. Não tenho absolutamente nada a esconder", afirmou.

Segundo o comunicado da promotoria, suspeita-se "do pagamento de vultuosas quantias em dinheiro ou de ofertas significativas a terceiros com posição política ou estratégica que permita, no seio do Parlamento Europeu, influenciar decisões" da instituição.

A Promotoria belga já tinha falado de suspeitas de pagamentos de "somas substanciais e presentes significativos" por parte de um país do Golfo para influenciar decisões dos eurodeputados. Fonte próxima ao caso confirmou à AFP que se trata do Qatar.

A eurodeputada francesa Manon Aubry denunciou o "lobby agressivo" da sede da Copa do Mundo e pediu um debate no plenário na próxima semana. Autoridades de Doha negam o envolvimento do país.

Estariam ainda entre os detidos o ex-parlamentar italiano Pier-Antonio Panzeri e o secretário-geral da Confederação Sindical Internacional, Luca Visentin. Em entrevista na semana passada Visentin apontou progressos nas leis trabalhistas catarianas, bastante criticadas por organizações de direitos humanos. Ele disse, porém, ser necessário manter a pressão sobre o regime para melhorar condições de trabalho.

Kaili, por sua vez, viajou ao país-sede da Copa no mês passado e parabenizou o ministro do Trabalho por reformas. "O Qatar é um líder no campo dos direitos trabalhistas", disse ela em 22 de novembro, gerando descontentamento entre as bancadas de esquerda.

Na noite de sábado (10), a presidente do Parlamento Europeu, a maltesa Roberta Metsola, decidiu por uma primeira sanção contra Kaili e a destituiu de algumas funções, incluindo a de representante da Casa para o Oriente Médio. "Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para cooperar com a Justiça", disse.

Metsola também convocou uma reunião para esta segunda-feira (12), para tratar da investigação judicial belga. Eurodeputados ambientalistas e sociais-democratas anunciaram que se oporão ao início das negociações para a liberalização de vistos para catarianos na União Europeia —a proposta seria discutida nesta semana no órgão.

Nomes de esquerda, incluindo o ambientalista Philippe Lamberts em nome do grupo Verde, pediram a renúncia de Kaili, que foi excluída na sexta-feira do Partido Socialista grego (Pasok-Kinal).

A pressão por maior controle ético no Parlamento Europeu aumentou após o episódio. "Não foi um incidente isolado", afirmou a ONG Transparência Internacional. "Por várias décadas, o Parlamento permitiu que se desenvolvesse uma cultura de impunidade e uma ausência total de controle ético independente."

Na mesma linha, o comissário europeu de Economia, Paolo Gentiloni, disse à emissora italiana Rai que, se confirmado, o caso seria um dos maiores esquemas de corrupção dos últimos anos.

O escândalo pode ainda afetar a relação entre a União Europeia e o Qatar —que, com a Guerra da Ucrânia, se tornou opção para o fornecimento de gás; no mês passado, Doha fechou um acordo com a Alemanha por ao menos 15 anos.

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